Não é amor! É um relacionamento abusivo


Em tempos de redes sociais, smartphones e instagram, dedicamos um tempo precioso do nosso dia vendo o quão interessante é a vida dos outros. Olhando meu feed, vi um vídeo com uma música que há muito não escutava e a letra me chamou a atenção de uma maneira diferente do habitual, na qual eu sempre interpretava de forma romântica. “Afinal, será que amar é mesmo tudo? Se isso não é amor, o que mais pode ser?” – questionamentos da escritora Fernanda Mello e do cantor Rogério Flausino, que escreveram juntos a música “O que eu também não entendo”, interpretada pela banda mineira Jota Quest, que inclusive foi um dos melhores shows que já assisti.

Essas duas perguntas ficaram martelando na minha cabeça. Eu percebo muitas pessoas colocando relacionamentos como o centro das suas vidas, fazendo da busca pelo amor o seu propósito na terra. Amar é bom, ser amado então, nem se fala, mas não é tudo e nem pode ser a meta das nossas vidas. Somos seres carentes devido a toda carga emocional que carregamos desde pequenos, mas temos que aprender a lidar com isso de forma saudável, não depositando no outro a responsabilidade de ser a nossa fonte de felicidade.

Quando acreditamos que não podemos ser felizes sozinhas, caímos na armadilha de aceitar qualquer tipo de relação, pelo medo da solidão. Se nos faz sofrer não pode ser amor, só pode ser um relacionamento abusivo. O amor é um sentimento que transcende o nosso entendimento, mas ele não maltrata, não humilha e deixa o outro livre pra ser quem é, sem podar a sua essência. Se o teu relacionamento não te deixa à vontade pra ser você mesma, sai dessa porque não é amor, é cilada!

Quando estamos apaixonadas tendemos a romantizar situações que nos constrangem, nos ferem e agridem severamente a nossa autoestima. Chegamos ao ponto de nos sabotar, pensando que ser maltratada é melhor que ficar sozinha. Esse tipo de comportamento colabora ainda mais com a cultura patriarcal de submissão que enfrentamos todos os dias.

Quando gostamos de alguém projetamos o nosso ideal na pessoa, dando muita relevância para as coisas boas, esquecendo as ruins e passando a acreditar na existência do que criamos, sem enxergar quem o outro realmente é. Os sentimentos nos viciam e fazem com que entremos num círculo vicioso, tornando cada vez mais difícil se desvincular desse tipo de relação nociva. Quando isso acontece, além de faltar autoconfiança, falta amor próprio e coragem pra terminar, porque o nosso emocional está muito abalado pra se dar conta da situação. Não podemos querer tanto o outro a ponto de pararmos de nos querer.

Precisamos gostar da nossa própria companhia, descobrirmos coisas que gostamos de fazer, conversar com as amigas, enfim, ocuparmos o tempo que temos com coisas produtivas, ao invés de depositarmos nossas expectativas no outro e esgotarmos a nossa energia com isso.

A nossa liberdade e felicidade são inegociáveis e dependem apenas da gente. Se pra sermos amadas tivermos que abrir mão de ser quem somos, esse amor não nos serve.
E quanto à música, eu sigo adorando. Mas a partir de hoje ela tem outra conotação pra mim.

Por Paola Fernandes
Jornalista, Feminista, Integrante do Conselho Diretivo do Grupo Mulheres Empreendedoras do Sul.

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