Gru lança “Welcome Sucker to Candyland”


por José Antonio Magalhães

Hoje caiu na internet o terceiro disco (primeiro “de verdade”) da Gru: “Welcome Sucker to Candyland”. Antigamente, Gabi Lima ficou conhecida em Pelotas como “Gabi Vai Tocar”, nome que ela dava às apresentações que fazia de tempos em tempos pelos palcos e cafés da cidade, tocando de Hanson a Queens of the Stone Age, de Tom Waits a Beyoncé. Com o lançamento do seu “Candyland”, prensado em fábrica e produzido pelo amigo de longa data John Ulhoa, do Pato Fu, Gabi está a ponto de decolar de vez da nossa terra do doce. Confiram nossa conversa.

Então, Gabi, qual é a desse disco?

Well. Esse disco apesar de ser o meu terceiro, eu sinto como se fosse o primeiro, o “de verdade”. Teve a produção importantíssima do John Ulhoa, que é um cara que tem muitas referências em comum comigo, e por isso entendia em qual som eu queria chegar. E ele é muito flexível e eu co-produzi o disco com ele, chegando mais perto ainda da sonoridade que eu imaginava pras musicas. Começou porque ele tinha escrito uma musica do tipo Aimee Mann, Elvis Costello, que ele não ia usar pro Pato Fu. E tava pela metade, e eu fiz a outra metade. É a “Can’t Fool Me”. A gente nem ia gravar ela pro disco, mas aos 45 do segundo tempo resolvemos gravar e chamar o Frank Jorge pra cantar.

Pode crer. E o que é que esse disco tem que faz dele “de verdade”?

A produção. O lançamento físico, prensado em fábrica. eu consegui ter acesso à produção necessária para conseguir as sonoridades que eu queria. Tem muita diferença um produtor como o John, com muita paciência, gravar o meu vocal, ou eu ter que ficar eu mesma apertando o botão. O Kitchen Door, disco anterior, peca muito no vocal, na minha opinião, por causa da dificuldade de se auto-produzir e conseguir uma boa performance. O John me ajudou a evoluir muito nisso. Não só apertar o botão, mas as instruções, a segunda opinião, deram um formato melhor ao disco. Muitas músicas foram feitas em parceria com ele, porque ele tinha coisas pra melhorar nelas.

As referências em comum são esse tipo de coisa, Aimee Mann, Costello? Sempre lembro de ti quando escuto ele mesmo. Alguma coisa mais de referências?

Rilo Kiley. Hanson foi muito referência, nos backings, nos timbres de bateria e de piano elétrico. Buffalo Tom é referência, também nos backings. Hanson é referência na estrutura pop. 90% do que sei de pop, aprendi com eles, e não tenho vergonha de dizer isso, de soar pop. Pop é bom, é alegria, é contagiante, é a música que te pega, tem toda uma estrutura bem pensada por trás – o pop bem feito. O pessoal tem usado a palavra “pop” como algo denigrativo. Eu tenho orgulho de alguém vir me dizer que tá com uma música minha que não sai da cabeça. Isso é pop. Neko Case também, uma cantora country, que faz voz e violão. A Aimee também influenciou muito pelo seu estilo de mixagem. A Tracy Bonham também. Ben Folds Five me deu coragem de fazer uma musica no piano, mesmo que eu não chegue aos pés do Ben Folds, mas serviu de inspiração. Todos os meus rolos de bateria são do Greg Eklund do Everclear. O John diz que eu toco q nem o Animal dos Muppets (risos).

Estás tocando todos os instrumentos nesse treco? Dave Grohl, é você?

Toquei a maioria sim. Deixei a guitarra pro John pq nao sou boba! Convidei o Arthur de Faria aqui de Porto Alegre pra contribuir com um acordeon, e convidei 2 bateristas mineiros que conheci quando fiz um show com o Rubinho Troll, ex-colega de banda no Sexo Explicito com o John – o Roger Bacoom (que também era do Sexo Explícito) e o Glauco Nastácia (da banda Tia Nastácia). E pra mim o mais especial e surreal foi ter o Chris Colbourn, da minha banda preferida, Buffalo Tom, cantando um dueto comigo. Ele gravou la em Boston e mandou. Admito que chorei quando ouvi os tracks solo de vocal dele, cantando uma música que escrevi.

Pô, que bonito! Queres contar brevemente pra galera tua história com o Pato Fu e como conheceste toda essa gente maneira?

Putz… não! (risos)

Por que? Muito grande?

Já contei mil vezes. Agora é a vez da Gru. Mas posso dizer que acompanhei a banda como fotógrafa e videomaker por 5 anos, e daí nasceu uma grande amizade com o John. A gente nunca marcou: vamos fazer um disco. A gente ia compondo e gravando, e quando viu ja tinha várias musicas. O John é uma pessoa que sempre acreditou no meu talento, mais até do que eu, e me incentivou a fazer coisas que eu achava que não conseguiria, então posso dizer que esse disco é culpa dele.

Assim já tá ótimo! Bueno, e pretendes tocar essas coisas por Pelotas em breve?

Tentei fazer dois shows em Pelotas e os dois caíram por terra, por culpa dos organizadores. São coisas assim que fazem eu cada vez mais me concentrar na produção em estúdio e perder o tesão por tocar ao vivo. Se alguém quiser me chamar, eu vou , mas não vou me mexer pra organizar nada em Pelotas. Vou estar aí no mês de junho, mas em breve me mudo pra Los Angeles.

A galera que produz essas coisas em Pelotas tá precisando de um puxão de orelha?

Não vou entrar no mérito da organização cultural de Pelotas. Mas não lembro qual foi o último show que consegui fazer aí. Acho que existe uma panela ao invés de uma comunidade, e uma exploração dos artistas independentes da qual eu não quero fazer parte.

Gostei do “Welcome to Candyland”. Ainda não cansei de escutar. Geralmente eu não conseguia escutar um disco teu inteiro. É tipo os primeiros discos do Costello, como comer um pote de sorvete de uma vez. Não significa que sorvete seja ruim. 

Ele só parece feliz, olha o próprio titulo. É sarcástico! O Costello mete o pau em todo mundo. Tem que prestar atenção nas letras. Pra mim as letras são importantes. É aí que meu disco engana. Ele parece pop fofinho, mas as letras são todas deprê. “Feel Like Running” descreve um ataque de pânico. “Welcome sucker to candyland” é o que se diz para o namorado novo de uma menina que não presta, segundo a deusa do country Loretta Lynn (risos). “Sucker” é “pirulito”, mas também “idiota”. Parece docinho, mas o cara vai se ferrar eventualmente. Trabalhamos na base do sarcasmo.

Saquei. Abana aí pra galera, Gabi! 

The music lives!

Fotos: Thiago Peraça