Tomando as precauções necessárias, é possível manter o psicológico saudável


Arte - Felipe Thofehrn

Diário de Quarentena – por Lucian Brum

Dia #1: Fazem quatro dias que estou trabalhando de casa. A pandemia vai avançando. Os números de contágios aumentam. Ainda não está um clima alarmante. A lancheria aqui da frente recebe metade da capacidade, deve fechar a 01:00. Saí às ruas normalmente nesses primeiros dias de quarentena. A noite no trânsito a maioria são entregadores de moto, bike e ubers. Em Pelotas, nenhum caso positivo oficial nas notícias.

Dia #2: Depois de passar o domingo no sofá ou na cama, as pessoas estão sentindo um efeito colateral estressante em ficar em casa. Li de madrugada na Folha de S. Paulo: New York | AFP – Quase um bilhão de pessoas passam o fim de semana confinados pelo novo coronavírus (…). Hoje foi um dia lindo de outono. O sol da tarde irradiava um calor confortável. Fotografei duas famílias passeando na Praça Coronel Pedro Osório. Vi senhores lendo jornal e bebendo café no Aquários. Também bebi um. Há uma rotina social mantida por alguns. Tomando as precauções necessárias, é possível manter o psicológico saudável.

Dia #3: “E assim, subindo, descendo, por frios e calores, enchentes e secas, estamos já no terceiro mês do ano. A gente agora segue mais depressa”, li a frase hoje num livro de crônicas do Alvaro Moreyra, que comprei a tarde no Sebo Icária. Os lojistas não estão subindo as cortinas, mas eu bati e me deixaram entrar. A cidade perdeu ritmo. Carros de som passam pedindo para as pessoas ficarem em casa.

Dia #4: Os números de infectados não param de subir. Na contramão dos infectologistas, o presidente da república pronunciou agora a noite, que seu posicionando vai em direção de que escolas e comércio voltem a abrir, em razão de não ocorrer no país uma crise econômica. Muitas vozes saíram em favor da preservação da vida. No início da madrugada, tivemos o primeiro óbito no Rio Grande do Sul.

Dia #5: Hoje foi o primeiro dia em que não sai à rua. Uma das primeiras notícias da manhã foi a confirmação do primeiro caso positivo em Pelotas. Soma dois na Região sul. O tempo foi quente hoje, média de 28ºC, temperatura não favorável a proliferação do vírus, segundo comentário de um especialista na Globonews. Pela janela de casa, avistei pessoas fazendo exercícios, correndo e andando de bicicleta. Ler é físico, mas não desenvolve os músculos.

Dia #6: Passei da manhã à noite lendo noticiário. Impresso, portais e Tv. Em casa o trabalho é mono. Dormir, acordar e voltar para o computador. É preciso sair à rua, fotografar. No final da noite, o prefeito de Porto Alegre anunciou pelo Twitter o segundo óbito no estado.

Dia #7: Eis a questão: manter a quarentena ou abrir o comércio? O risco à saúde ainda não foi compreendido por todos em Pelotas, a cidade tem dois casos confirmados, nenhuma morte. As pessoas estão inquietas em casa, questionando os números das notícias, os especialistas. Ninguém quer perder dinheiro, um vício mais forte que a vida.

Dia #8: Impossível dormir sem ventilador. Se os especialistas estiverem certos, e temperaturas altas dificultar a propagação do vírus, os termômetros de março estão dando ao Rio Grande do Sul esse tempo para organizar suas estratégias de combate a covid-19.

Dia #9: Matéria no caderno Saúde da Folha de S. Paulo: RS começará 1º grande teste para saber quantos foram infectados por coronavírus – Pesquisadores de Pelotas farão testes em amostras da população; levantamento nacional pode começar em abril.

Dia #10 Hoje choveu um pouco, faz, talvez, dois meses que não chove constante. É o último dia do mês, o tempo deve mudar. O presidente da república fez novo pronunciamento em rede nacional, apresentando um discurso mais sereno ao que vinha adotando, tratava a covid-19 como se fosse uma “gripezinha”. Durante o discurso, uma tempestade de panelas virou tamborins de protesto nas janelas dos prédios.

Este diário foi escrito de 21/3/2020 a 31/3/2020.

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