Feira da Música do Sul, por Daniel Balhego.


dsc02232Pois foi quando alguém disse que era desperdício de dinheiro, tempo e esforço que decidi conversar com os guris para irmos até Novo Hamburgo conferir o último dia da Feira da Música do Sul. Foi um domingo de intenso calor em Pelotas e a gente vinha de uma viagem tensa até Candiota, onde a chuva havia nos acompanhado ininterruptamente. Somente a volta foi mais tranqüila, porém sempre com a companhia de um céu cinza um tanto quanto ameaçador. Chegamos em Pelotas em torno de oito e meia da manhã e combinamos de pegar o ônibus pra PoA às 13:00 hs. Eduardo Badalinho tinha que pegar o baixo que estava em manutenção no estande da Ledur, empresa da qual ele é endorser, eu tinha me comprometido com a gurizada de pagar minha parte no ônibus e o Felipe Rotta, nosso novo guitarrista, foi meio que na marra pois estava tão exausto quanto a gente. Grana era outro fator que nos impelia a ficar em Pelotas. Porém decidimos ir com o tempo de sono curto. Fiz uma correria pra imprimir cartões de visita em casa mesmo. Fiz o percurso Baronesa – Praça Coronel Pedro Osório – Rodoviária em menos de 12 minutos. Tamanha a correria que ali pelo pela barragem liguei pra minha amada mãe pedindo pra ver se eu tinha realmente acionado o alarme do carro.

Andar de ônibus é muito divertido e mais seguro numa ocasião dessas, depois de um tempo de sono ligamos a fábrica de asneiras e fomos perturbando os vizinhos até a rodoviária. Nunca vimos tanto volume de água nos arroios, passos e rios pelos quais passamos. Chegando em Porto parada pra comer alguma coisa, pegamos o trensurb até São Leopoldo e de lá um coletivo até Novo Hamburgo. Descemos do bus e andamos mais 6 quadras até a entrada da Fenac. Já eram 20:30 e enquanto chegávamos víamos as pessoas indo embora. Perfeito, os últimos serão os primeiros; mandei essa frase feita. Lá fizemos um contato interessante com uma fabricante de combos pra baixos, falamos com um representante de uma empresa multi-midia de distribuição, venda e produção, inclusive com selo, falei rapidamente com o pessoal da Abramus, entidade à qual sou filiado e que trata da intermediação com a arrecadadora de direitos autorais e o que me pareceu mais importante, o contato com a turma do Acorde Coletivo de Viamão que estava com um estande bem legal e que vai me inspirar para organizar a função do estande de Pelotas para o ano que vem na mesma feira.

dsc02230Esse ano a falta de tempo e de interesse de grande parte dos músicos de Pelotas foi significativo para uma superficial participação de Pelotas enquanto pretensa capital cultural, ou se avaliarmos a quantidade de trabalho que se produz. A sorte nossa é que a gurizada que foi, com um grande apoio da UCPel e da Burkletur, além de recursos próprios, representou muito bem a cidade e fez contatos fundamentais, nisso o Pedro Silveira,  o Pedrinho do Espaço Cultural Casa de Joquim está se tornando especialista; Junto com os meninos da Nação Suburbana deixaram uma impressão de engajamento e profissionalismo, coisas que a gente continuará fomentando ainda que com restrições pois entendemos que agora merece prioridade quem trabalhou desde fins de setembro, não posso deixar de informar que a Giamarê encantou a turma de gringos que vieram para as rodadas de negociação, gente do Reino Unido, Japão, Estados Unidos e Espanha. De lá se trouxe uma penca de contatos, emails, telefones, sites, cd’s (eu em quarenta minutos fui presenteado com Cidade Baixa e Prabaticum, Splatifum Brasimbolá, dois grandes discos financiados pelo FUMPROARTE).

Fica em mim um grande descontentamento com a cena local. Quando eu lembro que além das 3 bandas lá representadas e da Giamarê temos outros tantos talentos (como Canastra Suja, The Raves, Meigos, Sujos e Malvados, Div-X, Celso Krause, Sovaco de Cobra, Gagui IDV, Beto Porto, toda a cena tradicionalista e latino americana, Sulivan Mello, Divergência e etc.) torna-se praticamente impossível não ficar de cara. Além das bandas temos cursos ligados à música nas duas universidades, produtoras de vídeo, estúdios, web designers, sonorizadores, lojas de instrumentos e todos os elos que formam a cadeia produtiva da música. Precisamos abandonar a acomodação e o descrédito de que a coisa pode acontecer por aqui. Em todo o país existem pessoas ligadas no potencial que tem a tão divulgada Satolep. Estamos perdendo tempo, dinheiro e crédito ao pensarmos que poderemos realizar tudo sozinhos ou nos moldes que outrora definiram o trabalho de duas ou três bandas. Prova está que muitas bandas que existiram há coisa de 4 anos já não existem mais ou reaparecem providencialmente para tocar em festivais, eventos e outras paradas estranhas. Mas não é esse breve descontentamento que vai nos fazer desistir ou esmorecer, já estamos organizando a participação na próxima feira. Nesta eu posso afirmar que tudo ocorreu de forma democrática e transparente. Convocamos a galera via MSN, Orkut, Twitter, Programa 13 Horas, Radio Com, Diário Popular, na TV Câmara Municipal quando fui eleito delegado para a conferência estadual de cultura e também pelo contato direto com os mais chegados.

Sabemos que precisamos aplicar uma metodologia mais sedutora, que eleve a auto-estima da gurizada, sempre priorizando o coletivo mas valorizando quem investiu horas de trabalho, litros de gasolina, pegou chuva, sol e outras formas de desconforto.

Texto e Fotos: Daniel Balhego
Pelotense, vocalista da Banda Soul da Silva, graduando em Turismo pela UFPel e colaborador da Revista Vida Saudável e do E-Cult.