“Medeia Vozes” da Tribo de Atuadores Ói Nóis aqui Traveiz terá duas apresentações com entrada franca em Porto Alegre


Foto: Pedro Isaias Lucas

Além da peça premiada, serão apresentados outros projetos do grupo, como o filme “Viúvas – performance sobre a ausência” e a peça “O Amargo Santo da Purificação”.

A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz completa 37 anos de trajetória, um motivo de orgulho nos tempos atuais. Para comemorar este novo ano em sua história, realiza uma semana de atividades com entrada franca, incluindo duas apresentações de “Medeia Vozes”, merecedora de nove prêmios. O espetáculo parte do mito de Medeia e tem como principal referência o romance homônimo de uma das mais notáveis escritoras alemãs, Christa Wolf. As apresentações serão dias 26 e 27 de março, sempre às 19h30, na Terreira da Tribo, com entrada franca (retirada de senhas meia-hora antes da apresentação). Também o filme “Viúvas- performance sobre a ausência”, será exibido na programação de aniversário, bem como a peça “O amargo santo da purificação”, a performance “Onde? Ação Nº 2” e a “Desmontagem: Evocando os mortos – Poéticas da Experiência”. As atividades acontecerão entre os dias 26 de março a 01 de abril (confira programação abaixo).

Foto: Pedro Isaias Lucas

Em Medeia Vozes, Christa Wolf toma uma versão antiga e desconhecida do mito, e nos traz uma mulher que não cometeu nenhum dos crimes de que Eurípides a acusa. Por mais de dois mil anos, Medeia, uma das mais poderosas mulheres da mitologia grega, é acusada de várias atrocidades, tais como o fratricídio, o infanticídio e o envenenamento de Glauce, e é esta imagem imposta à consciência ocidental que Wolf vem negar. O mito é questionado e reelaborado de maneira original, para analisar o fundamento das ordens de poder e como estas se mantêm ou se destroem. Medeia é uma mulher que está na fronteira entre dois sistemas de valor, corporizados respectivamente pela sua terra natal e pela terra para a qual foge. Ambas as sociedades, Corinto e Cólquida, apresentam na sua história um sacrifício humano fundamental, que serviu para a estabilização do poder patriarcal. Medeia é uma mulher que enxerga seu tempo e sua sociedade como são. As forças que estão no poder manifestam-se contra ela, chegando mesmo à perseguição e banimento. Ela é um bode expiatório numa sociedade de vítimas.

A Medeia pacifista do Ói Nóis Aqui Traveiz demonstra a inutilidade de todo processo bélico. A encenação forma uma obra polifônica, onde, além das vozes dos personagens narradores do romance, somam- se vozes de mulheres contemporâneas como as revolucionárias alemãs Rosa Luxemburgo e Ulrike Meinhof, a somali Waris Diriiye, a indiana Phoolan Devi e a boliviana Domitila Chungara, que enfrentaram de diferentes maneiras a sociedade patriarcal em várias partes do mundo. Com a criação coletiva Medeia Vozes a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz dá continuidade ao Projeto Raízes do Teatro e segue uma linha de investigação sobre teatro ritual de origem artaudiana e performance contemporânea. Este projeto já trabalhou com mitos que resultaram nos espetáculos: Antígona Ritos de Paixão e Morte (1990), Missa para Atores e Público sobre a Paixão e o Nascimento do Doutor Fausto de Acordo com o Espírito de Nosso Tempo (1994) e Aos Que Virão Depois de Nós Kassandra In Process (2002).

A premiada peça segue em cartaz regularmente entre três e 25 de abril, sempre às 19h30, na Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1186 – São Geraldo). Para esta temporada haverá venda de ingressos (informações no serviço abaixo).

Sobre os demais trabalhos da semana de aniversário:
Para o seu trabalho de pesquisa de Teatro de Rua “O amargo santo da purificação” a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz escolheu a história do revolucionário brasileiro Carlos Marighella, que viveu e morreu durante períodos críticos da história contemporânea do nosso país, sendo protagonista na luta contra as ditaduras do Estado Novo e do Regime Militar. Na sequência de cenas o público assiste momentos importantes desta trajetória: origens na Bahia, juventude, poesia, ditadura do Estado Novo, resistência, prisão, Democracia, Constituinte, clandestinidade, Ditadura Militar, luta armada, morte em emboscada e o resgate histórico, buscando um retrato humano do que foi o Brasil no século XX. É uma história de coragem e ousadia, perseverança e firmeza em todas as convicções. A coerência dos ideais socialistas atravessando uma vida generosa e combatente, de ponta a ponta. Marighella não abdicou ao direito de sonhar com um mundo livre de todas as opressões. Viveu, lutou e morreu por esse sonho.

A performance “Onde? Ação nº2” provoca de forma poética reflexões sobre o nosso passado recente e as feridas ainda abertas pela ditadura militar. A ação performática se soma ao movimento de milhares de brasileiros que exigem que o Governo Federal proceda a investigação sobre o paradeiro das vítimas desaparecidas durante o regime militar, identifique e entregue os restos mortais aos seus familiares e aplique efetivamente as punições aos responsáveis.

Na demonstração técnica/desmontagem “Evocando os mortos – Poéticas da experiência”, Tânia Farias desvela os processos de criação de algumas personagens de sua trajetória, que se mescla ao caminho da própria Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.

O filme “Viúvas, performance sobre a ausência” mostra a encenação homônima realizada na Ilha do Presídio – situada entre as cidades de Porto Alegre e Guaíba – nas ruínas do presídio onde foram encarcerados presos políticos no período da ditadura civil militar no Brasil. O espetáculo faz parte da pesquisa teatral que o grupo vem realizando sobre o imaginário latino-americano e sua história recente. Partindo do texto Viúvas de Ariel Dorfman e Tony Kushner, a Tribo dá continuidade à sua investigação da cena ritual, dentro da vertente do Teatro de Vivência. “Viúvas” mostra mulheres que lutam pelo direito de saber onde estão os homens que desapareceram ou foram mortos pela ditadura civil militar que se instalou em seu país. É uma alegoria sobre o que aconteceu nas últimas décadas na América Latina, e a necessidade de manter viva a memória deste tempo de horror, para que não volte mais a acontecer.

Sobre a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (1978 – 2015)
– Uma trajetória de ousadia e ruptura –
Durante três décadas a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz construiu uma trajetória que marcou definitivamente a paisagem cultural do Brasil. Com a iniciativa de subverter a estrutura das salas de espetáculos e o ímpeto de levar o teatro para a rua, abriu novas perspectivas na tradicional performance cênica do sul do país . A determinação em experimentar novas linguagens a fez seguir caminhos nunca trilhados por aqui. Com base nos preceitos de Antonin Artaud e do teatro revolucionário, investiga com rigor todas as possibilidades da encenação. Na busca de uma identidade, desenvolveu uma estética própria, fundada na pesquisa dramatúrgica, musical, plástica, no estudo da história e da cultura, na experimentação dos recursos teatrais a partir do trabalho autoral do ator, estabelecendo um novo modo de atuação. Seu centro de produção, a Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, ocupa lugar de destaque entre os espaços culturais do Estado, sendo igualmente apontada como uma referência de âmbito nacional. Funciona como escola de formação de atores e, principalmente, como ponto de aglutinação de pessoas e profissionais dos mais diversos segmentos, fomentando a criação artística em diferentes áreas. A organização da Tribo é baseada no trabalho coletivo, tanto na produção das atividades teatrais, como na manutenção do espaço. Para a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz o teatro é instrumento de desvelamento e análise da realidade e sua função é social: contribuir para o conhecimento dos homens e o aprimoramento da sua condição.

Semana de aniversário Ói Nóis Aqui Traveiz
Com apresentações, performances, lançamentos, filmes
De 26 de março a 01 de abril em diversos locais da cidade
Entrada franca

A peça Medeia terá retirada de senhas meia hora antes da apresentação, na Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1186 – Bairro São Geraldo)
26/03 – “Medeia Vozes”, às 19h30 – Terreira da Tribo
27/03 – “Medeia Vozes”, às 19h30 – Terreira da Tribo
28/03 – Filme “Viúvas – Performance sobre a ausência”, às 21h – Cine Bancários
29/03 – “O amargo santo da purificação“, às 16h – Parque da Redenção
30/03 – Celebração: Lançamento da revista Cavalo Louco n. 15. Exibição do filme “Raízes do Teatro”, às 20h – Terreira da Tribo
31/03 – Performance “Onde? Ação N. 2”, às 12h30 – Esquina Democrática
31/03 – Desmontagem: Evocando os mortos – Poéticas da experiência, às 20h – Terreira da Tribo
01/04 – Performance “Onde? Ação N. 2”, às 12h30 – Esquina Democrática

Temporada de Medeia Vozes em abril
De 03 a 25 de abril, sextas e sábados, às 19h30
Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1186 – São Geraldo)
Ingressos: R$ 50,00
50% de desconto para estudantes, artistas e pessoas com mais de 60 anos

Mais informações no site: http://www.oinoisaquitraveiz.com.br

Fonte: Bebê Baumgarten / BD Divulgação