Nem alhos nem bugalhos: uma reflexão sobre o regionalismo gaúcho


Foto: UJC
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A discussão sobre regionalismo aqui no sul ainda segue chovendo no molhando. É incrível! Isto pode. Aquilo não pode. Folclore é isto. Gauchismo é aquilo. Pop acolá. Rock mais adiante. É uma perda de tempo, de oportunidade, de espaços e de estimular a criatividade. E esse conservadorismo perpassa toda a sociedade gaúcha. A filosofia do que é “gaúcho é melhor” e “não sai daqui” reflete em todo lugar. Impede avanços e intercâmbios. Impossibilita uma leitura crítica e reflexiva da história. Em certa medida, isso afasta muitas pessoas de curtir o rico manancial da arte e do folclore regionais. Mas atrapalha, é claro, em maior medida a indústria cultural.

Enquanto isso, por exemplo, o povo em Pernambuco já está na quinquagésima geração do movimento Mangue Beat, eclodido nos anos 1990, em Recife, sempre em busca do novo Chico Science, em novas formas de expressão do local no universal. Um exemplo para o Brasil e para o mundo, criado por uma rapaziada inquieta que perambulava na então “quarta pior cidade do mundo para se viver”, escreveu um manifesto – Caranguejos com Cérebro -, arregaçou as mangas, conectou-se com a diversidade e as tendências globais e partiu para a luta. E prosseguiu. Produzindo, criando, articulando. Maracatu, ciranda, coco, tambores, rock, rap, punk, heavy-metal, música eletrônica, cinema, literatura, quadrinhos, teatro, dança, festivais, mídias. Folclore, sincretismos, hibridizações, tecnologia, arte contemporânea, tudo junto. Em sintonia e em realimentação. E todos ganham. E o lance aqui no sul segue tão engessado.

Os Centros Tradicionalistas Gaúchos (CTGs) nasceram, na década de 1950, como uma ação de resistência da cultura regional perante a invasão avassaladora da indústria cultural norte-americana no país (e os Estados Unidos sabem dar valor à produção cultural e a cadeia produtiva do entretenimento, cientes do impacto sociocultural no imaginário da humanidade, utilizando como política estratégica de estado para exportar o american way of life, agregando tecnologias e negócios e, assim, manter-se na liderança mundial). A criação dos CTGs foi um grande esforço de jovens urbanos de classe média de se reconectar com algo que estava se perdendo. Em viagens e pesquisas pelo interior do Estado, esta gurizada resgatou danças, ritmos, costumes. Realizaram uma fotografia de um momento que foi moldada em documentos, manuais, cartilhas e livros. Em certo aspecto, arrisco, poderia se dizer, que foi uma antecipação de futuros movimentos contra uma globalização homogeneizadora. A proliferação dos centros de tradição gerou, em 1966, a criação do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Mas movimento prescinde transformação, não estagnação. Dinamismo. Sem medo de “perder raízes”.

Texto: Rodrigo dMart

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