Realismo e simbolismo na discussão do preço de um ideal por Joice Lima


Para encerrar o 4º Encontro de Teatro de Pelotas, a Secretaria Municipal de Cultura (Secult) trouxe a Pelotas o espetáculo “O Sobrado”, apresentado pelo Grupo Cerco, de Porto Alegre, na noite de 20 de novembro de 2010, no Espaço Tholl. Com texto adaptado a partir de “O Continente”, primeira parte da obra “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, a belíssima e efetiva montagem, dirigida por Inês Alacaraz Marocco, mescla interpretação realista com elementos cênicos simbolistas para marcar, com força e poesia, a tensão gerada em torno da discussão sobre o preço de um ideal.

o-sobradolicurgo-e-maria-valeriaO pano de fundo é a Revolução Federalista de 1895. Os maragatos, revolucionários defensores da autonomia do Rio Grande do Sul frente ao que consideravam “a tirania do presidente Júlio de Castilhos”, entram em combate com os pica-paus, os republicanos apoiadores do governo. Em meio à guerra civil, o sobrado em que reside a família do chefe político Licurgo Cambará (interpretado por Rodrigo Fiatt), republicano, fica cercado pelos revolucionários. O perigo iminente da morte e a escassez de munição e, sobretudo, de água e comida tornam a atmosfera do casarão pesada e sombria: cenário propenso para intensos conflitos.

À medida que os dias passam e a fome aumenta, se acentuam também os sentimentos. Expectativa e ansiedade – as tropas republicanas virão ou não ao resgate do sobrado? – dão espaço ao desespero, após duas mortes que poderiam ter sido evitadas se Licurgo Cambará – uma delas, a de sua própria filha, que nasce morta pela falta de assistência médica – não teimasse em resistir à invasão dos maragatos e tivesse pedido trégua. O conflito se intensifica quando Maria Valéria Terra (interpretada por Isandria Fermiano) questiona a postura orgulhosa do chefe de família e líder político, Licurgo Cambará, seu cunhado – e por quem ela nutre uma paixão reprimida. Quanto vale um ideal? Valerá mais que uma vida, que duas, três…?

“O sobrado” teve muitos acertos: figurino de acordo com a época, de Rô Cortinhas, cenário minimalista de Élcio Rossini, com apenas os elementos essenciais para fazer entender a história – uma cama com rodinhas tem o seu valor! -, trilha sonora ao vivo – violão, acordeão, xilofone, coro de vozes e percussão ganhavam vida com atores/instrumentistas que se revezavam entre palco e som -, e excelente interpretação dos (muitos deles bem jovens) atores. Também integram o elenco de O Sobrado: Celso Zanini, Elisa Heidrich, Filipe Rossato, Kalisy Cabeda, Luís Franke, Manoela Wunderlich, Marina Kerber, Mirah Laline e Philipe Philippsen.

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Fonte: Joice Lima – DRT atriz 013051 (Sated/SP)
Acadêmica de Teatro (Licenciatura) – UFPel
Integrante do CCETP

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