Da Conquista ao Absurdo, As Longas Viagens faz som para tempos caóticos


Em um período de menos de sete meses, As Longas Viagens lança dois discos, assume caráter de banda e marca presença em importante festival.

No trabalho mais recente, a banda, que começou como um projeto do músico e compositor Maurilio Almeida, mergulha nas profundezas para refletir sobre o momento sombrio que vivemos, chamando todos para o Abismo.

Com produção de Guilherme Ceron, este segundo álbum, batizado de “Abismo”, está disponível desde o último dia 7 nas plataformas streaming. A faixa que abre, e dá nome, ao disco ganhou um clipe dirigido por Felipe Yurgel. O vídeo foi gravado no começo de outubro na Praia do Hermenegildo, no ponta sul do litoral gaúcho.

Neste trabalho, As Longas Viagens contou com Maurilio (voz e guitarra), Gabriela Lamas (voz), Eric Peixoto (guitarra), Victor Monteiro (baixo), Rael Valinhas (teclas) e Stefano Rosa (bateria).

A primeira apresentação pós lançamento ocorreu na última quinta-feira (14), na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. Na sexta-feira (15), a As Longas Viagens fez sua estreia em um grande festival. Foi no Morrostock, em Santa Maria, que nesta edição contou com Céu e Nação Zumbi entre as atrações de destaque.

Maurilio – Foto: Ricardo Ara

De Projeto pessoal a Banda

A história de As Longas Viagens começa como um projeto pessoal de Maurilio. Com Stefano Rosa na bateria e o Victor Monteiro no baixo, ele gravou dois sons para o que deveria ser um EP. O lançamento do EP atrasou e uma nova leva de sons foram gravados, já com Matheus Costa na segunda guitarra, Gabriela Lamas nas vozes e Rael Valinhas nas teclas. “Nesse período, meados de 2017, ficou claro que o que tínhamos era uma álbum e não EP”, recorda Maurilio.

Sobre o nome As Longas Viagens, que foi definido nesta época, o artista comenta que a escolha se deu pela relação das distâncias, sempre presentes em sua vida. “Eu morava em Bagé, o resto da banda em Pelotas, meus pais no nordeste e assim por diante […] eu me mudei bastante por causa dos meus pais e isso meio que define um pouco da minha história”.

As longas viagens – Foto Divulgação

Durante o ano de 2018, as faixas gravadas foram mixadas e o lançamento foi organizado junto ao selo pelotense Escápula Records. Assim, em abril deste ano, o álbum “A Conquista do Inútil” foi oficialmente lançado (https://musicapave.com/artigos/as-longas-viagens-conta-sobre-a-conquista-do-inutil/). Ainda antes disso, com Eric Peixoto entrando no lugar de Matheus Costa, As Longas Viagens, assumindo-se como uma banda, entrou em estúdio para a gravação do segundo disco.

A Arte do Absurdo

Após um processo demorado para o lançamento do primeiro registro, com sons que foram compostos ao longo de mais de 3 anos, o trabalho mais recente se mostra mais urgente. Maurilio conta que a gravação ocorreu toda em menos de uma semana. “A ideia desse processo rápido era justamente contrapor ao primeiro disco”, argumenta.

O álbum é descrito como “um convite ao absurdo, aos horrores que surgem em tempos de terraplanismo, ultranacionalismo, conservadorismo, destruição do meio ambiente e esgotamento emocional de uma geração sem futuro”. A arte de capa utiliza o mesmo personagem presente no primeiro trabalho, a figura do quadro Ecce Homo do espanhol Elías García Martínez, que virou meme após ser restaurado.

As longas viagens abismo – Foto Divulgação

A ideia surgiu, segundo Maurilio, em uma mesa de bar quando ele, Gabriela Lamas (responsável pela direção de arte) e o Ricardo Ara (fotógrafo), buscavam uma representação física pro “a conquista do inútil”. O título do primeiro disco está ligado ao filme Fitzcarraldo, do Werner Herzog.

“Ele passou anos atravessando um barco por cima de uma montanha no meio da Amazônia para realizar esse “sonho” em forma de roteiro e pra mim a jornada de gravar um disco foi meio parecida […] o resultado difere muito daquele idealizado antes de tomar forma”, explica.

A pintura sacra que ficou famosa no mundo inteiro, devido a uma tentativa de restauro de uma senhora, se encaixa bem nesta perspectiva de que resultados nem sempre são os esperados e isso não é necessariamente um problema.

“Uma senhora dedicou muito tempo dela para restaurar uma obra sacra que, para muitos, acabou virando motivo de piada. No entanto, a obra hoje é conhecida mundialmente e isso nos faz rir bastante e aprender sobre processos e expectativas”, ressalta Maurilio.

Capa do Disco

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