10 fatos históricos e curiosidades sobre Pelotas (210 anos) – Reeditada


Pelotas – Teatro Sete de Abril – década 1940

Listamos dez fatos históricos e curiosidades sobre Pelotas, que hoje, 7 de julho de 2022, está completando 210 anos de sua fundação.

1. Pelotas: 2500 anos de História indígena

O “arroio Pelotas”, um dos principais corpos hídricos do município, também pode ter seu nome relacionado à presença dos grupos indígenas, visto que as “pelotas” eram embarcações feitas de couro usadas como transporte de carga e devem ter sido utilizadas pelos índios, sendo seu uso descrito no período escravista das charqueadas pelo francês Jean Baptiste Debret.

A massiva presença indígena arqueologicamente detectada (que ultrapassa em mais de dois milênios a data de surgimento de Pelotas – datada de 7 de Julho de 1812, como apontam todos os livros da História oficial), mas historicamente esquecida, sugere que a história da cidade de Pelotas é multicultural e multiétnica e não deve ser limitada aos seus 200 anos, mas ampliada aos seus 2500 anos, envolvendo organicamente a historicidade indígena, algo que a historiografia tradicional teima em esquecer.

(Texto: Rafael Guedes Milheira – Fonte academia.edu)

2. Pelotas: escravidão e charqueadas (1780-1888)

cover_front_bigO historiador Euzébio Assumpção narrou a história dos trabalhadores cativos nas fábricas de salgar carnes no maior centro charqueador da América sulina. Demonstrou que o número de africanos e seus descentes no território rio-grandense foi maior que o informado pela historiografia oficial. Observou que o charque chegou a ser responsável por 85% das exportações rio-grandenses. Daí salientou importância econômica do setor que mais empregou mão de obra cativa na província.

Verificou que nos saladeiros pelotenses a média de escravizados era de 64,8 trabalhadores. Porém, salientou que em algumas fábricas chegaram a ter mais de uma centena e meia de cativos. Observou que o maior número de cartas alforrias foi lançado em 1884, porém, com cláusulas de serviço obrigatório que perduraram até a data da Abolição.

(Fonte: Dra. Ester J. B. Gutierrez, UFPel, Pelotas, RS – Sinopse do livro “Pelotas: escravidão e charqueadas (1780-1888)

3. Freguesia de São Francisco de Paula (1812)

A Freguesia de São Francisco de Paula, fundada em 07 de Julho de 1812 por iniciativa do Padre Pedro Pereira de Mesquita, foi elevada à categoria de Vila em 07 de abril de 1832. Três anos depois o Presidente da Província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, outorgou à Vila os foros de cidade, com o nome de Pelotas, sugestão dada pelo Deputado Francisco Xavier Pereira. O nome originou-se das embarcações de varas de corticeira forradas de couro, usadas para a travessia dos rios na época das charqueadas.

4. Theatro Sete de Abril – Primeiro teatro do Rio Grande do Sul (1834)

O Theatro Sete de Abril foi o primeiro teatro construído no Rio Grande do Sul e terceiro construído no pais. O começo da construção se deu em 1831, quando ocorriam espetáculos em um antigo galpão improvisado à Rua Anchieta esquina Major Cícero. Assim sua conclusão deu-se somente em 1834, embora tenham havido espetáculos no ano anterior ao término das obras.

Surgiu a partir de uma sociedade dramática particular, a Sociedade Scenica Theatro Sete de Abril, com o objetivo de proporcionar às famílias pelotenses um meio de distração e, ao mesmo tempo, de divulgação da arte. Quando fundado foi instalado num prédio provisório enquanto se tratava da construção do novo edifício.

5. Mercado Central (1849)

Mercado Público de Pelotas - Créditos Rafa MarinConstruído entre os anos de 1848 e 1849, o Mercado Central de Pelotas passou por inúmeras transformações ao longo de sua história. Entre 1911 e 1914, o local sofreu uma remodelação profunda em termos de planta e fachadas – e foi nesta fase que o prédio recebeu a torre do relógio e o farol. Além disso, no mesmo período, as platibandas passaram a ser vazadas e os torreões receberam ornamentos com guirlandas de flores e frutas.

Após o incêndio de 1969, o prédio foi recuperado e reinaugurado no ano seguinte, entretanto, passando por novas mudanças, inclusive no sistema de lojas internas. Reformado no início de 2013, o Mercado recomeçou suas atividades comercias, recebendo novos empreendedores, reconquistando seu posto de relevante ponto turístico, certamente um importante local para bons negócios e aquisição de produtos de qualidade.

Atualmente, o espaço conta com uma intensa vida cultural, com rodas de samba e de chorinho – além de apresentações musicais diversas. Teatro e circo também marcam presença no Mercado Central, bem como campeonatos de xadrez, exposições de arte e fotográficas. A programação especial aos sábados conta ainda com o Mercado das Pulgas na área externa e inúmeras atividades em seu entorno.

6. A tecnologia hidráulica chega a Pelotas (1876)

Aos 29 dias do mês de janeiro de 1876, o Diário de Pelotas informa aos seus leitores o resultado da assembléia geral, realizada na véspera, pela Cia. Hidráulica Pelotense dizendo que, depois de feita a chamada e achando-se presente o número suficiente de acionistas, “foi aberta a sessão pelo Sr. Israel Rodrigo de Carvalho, que na ausência do respectivo proprietário, assumiu a presidência da assembléia geral”.

Justifica o redator da notícia não ter maiores detalhes da assembléia, em razão da leitura do relatório ter sido muito rápida e do adiamento da hora em que foi encerrada a sessão; daí, não ter podido “tomar dele os respectivos apontamentos sobre o estado da Companhia, não obstante sabermos que até 31 de dezembro de [1875] tinha a Companhia 396 penas d’água, dando o rendimento dos chafarizes para custeio dos mesmos. […]”.

Fonte: Pelotas no tempo dos chafarizes – A. F. Monquelat – G. Pinto

7. Bibliotheca Pública Pelotense (1876)

A Biblioteca Pública Pelotense foi oficialmente instalada em 05 de março de 1876, um domingo. Domingo da pinhata.
Segundo o Diário de Pelotas, ao meio-dia, achando-se o salão onde passaria a funcionar “essa útil instalação” repleto de cavalheiros e distintas famílias de nossa sociedade. Seu digno vice-presidente, o Dr. Saturnino Epaminondas de Arruda, pronunciou na ocasião “um bonito discurso”, no qual registrou a utilidade dessa instituição.

Depois do que, e devidamente inaugurada, as bandas de música Santa Cecília e Lyra Pelotense executaram o hino nacional.
A seguir, o vice-presidente convidou aos presentes a ocuparem a palavra. O primeiro a fazê-lo foi o sr. Ibirapuetã Ourique, “que em frases cheias de entusiasmo, mostrou quão útil é a instrução do povo e pediu o valioso concurso envolvimento da mulher para essa obra do progresso intelectual de Pelotas”.

Fonte: Pelotas no tempo dos chafarizes – A. F. Monquelat – G. Pinto

8. Theatro Guarany (1921)

“Já que vocês não guardaram o meu camarote, eu não piso mais no Teatro Sete de Abril e vou construir um outro para assistir óperas e operetas.”

Estas teriam sido as palavras do Coronel Zambrano, que mantinha convênio com a gerencia do Theatro Sete de Abril, garantindo a reserva de determinado camarote para as apresentações. Se por algum motivo deixasse de comparecer pagava da mesma forma. Porém, um certo dia na hora do espetáculo, ao dirigir-se par a efetuar o pagamento do camarote, constatou que por uma confusão do gerente ou da bilheteira o local havia sido vendido a outro, estando a locação do teatro Sete de Abril esgotada.

Fundado em 1921 o Theatro Guarany foi construído em 16 meses, tempo recorde para a época, com 150 trabalhadores revezando-se em três turnos.

9. A cidade dos antigos cinemas de calçada

Atualmente Pelotas conta somente com as salas de cinema do Shopping Pelotas e do Shopping Calçadão, mas Pelotas já teve cerca de vinte cinemas de calçada, conforme segue a lista:

Cine América* (Rua Quinze de Novembro, 205)
Cine Capitólio (Rua Padre Anchieta, 2009)
Cine Coliseu* (Rua Padre Anchieta, 1346)
Cine Esmeralda (Av. Domingos de Almeida, 2114)
Cine Fragata (Av. Duque de Caxias, 668)
Cine Garibaldi (Rua Garibaldi, 660-A)
Cine Glória (Av. Cidade de Lisboa 245)
Cine Ideal (Av. Farroupilha s/n – Vila Dunas)
Cine Palácio do Rádio (Rua 7 de Setembro, 353)
Cine Para Todos (Vila Santa Terezinha s/n)

Estacionamento: Assista aqui o documentário sobre as salas de cinema de calçada que fecharam suas portas na cidade de Pelotas.

Cinema Praiano (Rua Tuparandi, 366 – Laranjal)
Cinema Politeama* (Praça Cel. Pedro Osório, 51)
Cinema Ponto Chic* (Rua Quinze de Novembro, 602)
Cine Rádio Pelotense (Rua Andrade Neves, 2330)
Cine Rei (Rua Andrade Neves, 1967)
Cine Tabajara (Rua General Osório, 1094)
Cine Theatro Apollo* (Rua Gomes Carneiro, 1661)
Cine Theatro Avenida (Av. Bento Gonçalves, 3972)
Cine Theatro Guarany (Rua Lobo da Costa, 849)
Cine Theatro São Rafael (Praça 20 de Setembro, 846)
Cine Theatro Sete de Abril (Praça Cel. Pedro Osório, 160)

* Prédios demolidos e em seu lugar foram construídos novos.
Lista somando as fontes Pelotas Cultura e Cinemafalda.

10. P. F. Gastal – O maior critico de cinema do Rio Grande do Sul (1922-1996)

Sobretudo, não podemos falar de cinema sem citar Paulo Fontoura Gastal, pelotense considerado o maior crítico de cinema que o Rio Grande do Sul já teve, como também cultuado entre os cinéfilos de todo Estado, em especial Porto Alegre, onde, durante mais de quinze anos existiu em homenagem à P. F. Gastal, uma sala de cinema mantida pela Secretaria Municipal de Cultura.

Leia também: Lembrança de uma sessão de cinema na sala PF Gastal

Imagem/Arte: Thiago Vernetti / ADCW

Matéria publicada originalmente em 2016. (Atualizada para 2022)

Leia também: Cinco visitas virtuais para conhecer a cidade de Pelotas do seu computador

3 Comentários

  1. Meu bisavô Jakob Gloor que veio da Suíça foi quem montou o relógio na torre no Mercado Público no início do século passado. Ele era mecânico, armeiro, ferramentista, metalúrgico, inventor e construtor de coisas complexas para a época, e foi contratado para tal feito, pegar esse relógio que veio desmontado dentro de uma caixa de madeira da Alemanha, montar, instalar e deixar ele funcionando na torre do Mercado Público.
    Eu escuto desde criança de meu pai e meu avô, ambos já falecidos, que enquanto meu bisavô Jakob Gloor trabalhava, meu avô ainda uma criança, auxiliava ele alcançando ferramentas para a montagem, instalação e regulagem do relógio da torre.
    Esse feito de meu bisavô e avô sempre foi motivo de muito orgulho para mim, e que hoje tento preservar essa história de meus antepassados repassando para minha filha e demais familiares.
    Fica o registro desse fato que acredito não deva ter em nenhum lugar, mas tenho uma desconfiança que talvez tenha as iniciais dele gravadas em algum lugar ali dentro na máquina desse relógio, pois ele tinha o hábito de fazer isso nas ferramentas e tudo que criava ou fazia.

  2. Muito interessante gostaria de saber se existe algum registro sobre o portão das tres vendas ?

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