Museu de Contrastes inaugura neste sábado no LabART 760 em Porto Alegre


Obras de Ricardo Giuliani - Foto: Nilton Santolin

Inaugura neste sábado, 11 de dezembro, no LabART 760, a última exposição de 2016 do espaço, Museu de Contrastes – Experiência 5, contando com obras de 14 artistas.

Foto: Mario Rohnelt
Foto: Mario Rohnelt

Construída com antiguidades, colecionáveis de períodos e lugares diversos, e obras de arte moderna e contemporânea, que serão exibidos lado a lado a partir de mecanismos de justaposição. Estes mecanismos permitem que se realizem novas abordagens dos diversos sentidos que os objetos carregam, seu caráter funcional e seu valor simbólico.

A exposição, com curadoria de Gaudêncio Fidelis, foi organizada levando em consideração um conjunto de objetos que normalmente compõe o espaço hierárquico da residência privada. Estruturado historicamente como uma disposição patriarcal da normatividade e da ordem, os diversos ambientes que compõe uma residência equivalem em essência à decoração de interiores necessária para preenche-los e ornamenta-los, considerando ainda o estabelecimento de uma ordem comunicativa (que assinala a classe a quem pertencem) assim como as normas do espaço doméstico e como se pressupõe agir dentro delas. Essa ordem patriarcal articulada através da disposição dos ambientes, determina regras de comportamento e um ritual específico de circulação que pode ser caracterizado como essencialmente normativo. Qualquer fuga desta hierarquia pode ser considerada como excentricidade.

Museu de Contrastes – Experiência 5 busca constituir uma biografia afetiva dos objetos, para além de sua proveniência, ao mesmo tempo que busca formular um “manual de contrastes”, através de um conjunto de estratégias de justaposição que desafiam o senso comum da lógica de exibição convencional. “Podemos dizer que este manual de contrastes é a parte da exposição que trata da introdução de novos modelos de curadoria, que sejam capazes de construir um campo de conhecimento e reflexão para uma história de exposições”, afirma Fidelis.

Obras de Ricardo Giuliani - Foto: Nilton Santolin
Obras de Ricardo Giuliani – Foto: Nilton Santolin

O que está em questão em Museu de Contrastes é uma sociologia dos objetos e seu impacto simbólico no universo da cultura. A decoração de interiores, por exemplo, causou um enorme impacto nos modos de exibição de obras que foram historicamente utilizados, mas o contrário também é verdade. O interior minimalista surgiu a partir de seus desdobramentos na arte contemporânea no início dos anos de 1960. “Um dos aspectos que esta exposição busca evidenciar são os conflitos que podemos vislumbrar desse agenciamento, entre a função dos objetos, e seu aspecto decorativo, transformados no tempo pela experiência da decoração de interiores e a adição de valor histórico”, conta.

A mostra conta com 15 obras de artistas como Antônio Augusto Bueno, Ana Norogrando, Carlos Trevi, Cibele Vieira, Fábio Del Ré, Gilda Vogt, Leandro Machado, Mário Röhnelt, Otto Sulzbach, Pedro Weingärtner, Ricardo Giuliani, Sandro Ka, Tânia Resmini e Tony Camargo, além da inclusão de antiguidades e objetos colecionáveis.
A mostra coletiva conta com empréstimos de galerias, antiquários, e coleções públicas e privada e segue em cartaz até 11 de março de 2017. O LabART 760 funciona de segunda a sexta-feira das 14h às 18h, e aos sábados, das 10h às 15h, na Rua Marechal Floriano, 760.

Museu de Contrastes – Experiência 5
De 11 de dezembro de 2016 a 11 de março de 2017
LabART 760 – Rua Marechal Floriano, 760 – Centro Histórico, Porto Alegre
Horário:
Seg-Sex: 14h-18h
Sáb: 10h-15h
Contato: [email protected]
Telefone: (51) 35162259
A exposição conta com empréstimos de galerias, antiquários, e coleções públicas e privadas.

Com obras de:
Ana Norogrando
Antônio Augusto Bueno
Carlos Trevi
Cibele Vieira
Fábio Del Ré
Gilda Vogt
Leandro Machado
Mário Röhnelt
Otto Sulzbach
Pedro Weingärtner
Ricardo Giuliani
Sandro Ka
Tânia Resmini
Tony Camargo
Com inclusão de antiguidades e objetos colecionáveis

Gaudêncio Fidelis (Brasil, 1965) é curador e historiador de arte, especializado em arte brasileira, moderna e contemporânea e arte das américas. É mestre em arte pela New York University (NYU) e doutor em História da Arte pela State University of New York (SUNY) com a tese The Reception and Legibility of Brazilian Contemporary Art in the United States (1995-2005). Foi fundador e primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul em 1992. Publicou entre outras obras Dilemas da Matéria: Procedimento, Permanência e Conservação em Arte Contemporânea (MAC-RS, 2002); Uma História Concisa da Bienal do Mercosul (FBAVM, 2005) e O Cheiro como Critério: em Direção a uma Política Olfatória em Curadoria (Chapecó: Argos, 2015). Entre 2004 e 2005 foi curador-adjunto da 5a Bienal do Mercosul. É membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico Brasileiro do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Foi diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS (2011-2014) e Curador-chefe da 10a Bienal do Mercosul (2014-2015).

Museu de Contrastes – Experiência 5 – Conceito
A exposição Museu de Contrastes é construída com antiguidades, colecionáveis de períodos e lugares diversos, e obras de arte contemporânea, exibidos lado a lado a partir de mecanismos de justaposição. Estes mecanismos permitem que realizemos novas abordagens dos diversos sentidos que os objetos carregam, seu caráter funcional e seu valor simbólico. Através destes mecanismos a realidade material dos objetos também torna-se evidente, e as obras de arte contemporâneas colocadas em confronto com eles buscam revelar a existência em ambos os casos de suas características simbólicas e sua problemática conceitual. O atrito provocado pelo confronto, possibilita assim, a investigação de uma existência muitas vezes obscurecida pelo hábito do olhar, que acostumado com a rotina, não nos permite ver muitas vezes determinados aspectos de um objeto, a menos que um segundo ou terceiro objeto ative sua constituição obscurecida.

Museu de Contrastes busca constituir uma biografia afetiva dos objetos, para além de sua proveniência, ao mesmo tempo que busca formular um “manual de contrastes”, através de um conjunto de estratégias de justaposição que desafiam o senso comum da lógica de exibição convencional. Podemos dizer que este manual de contrastes é a parte da exposição que trata da introdução de novos modelos de curadoria, que sejam capazes de construir um campo de conhecimento e reflexão para uma historia de exposições.

A exposição foi construída levando em consideração um conjunto de objetos que normalmente compõe o espaço hierárquico da residência privada. Estruturado historicamente como uma disposição patriarcal da normatividade e da ordem, os diversos ambientes que compõe uma residência equivalem em essência à decoração de interiores necessária para preenche-los e ornamenta-los, considerando ainda o estabelecimento de uma ordem comunicativa (que assinala a classe a quem pertencem) assim como as normas do espaço doméstico e como se pressupõe agir dentro delas. Essa ordem patriarcal articulada através da disposição dos ambientes, determina regras de comportamento e um ritual específico de circulação que pode ser caracterizado como essencialmente normativo. Qualquer fuga desta hierarquia pode ser considerado como excentricidade.

Em 1968 Jean Baudrillard publicou seu livro Le système des objets (Editions Gallimard), uma exaustiva abordagem teórica dos aspectos socioculturais e históricos do objeto a partir de uma crítica da cultura moderna de consumo. Baudrillard nos mostra que um “sistema dos objetos” pode ser construído a partir de sua “funcionalidade”, “disfuncionalidade” e de uma “metafuncionalidade” que lhe é atribuída na construção do valor simbólico. Em seu livro Baudrillard aborda as antiguidades como uma categoria “marginal” ou seja, à parte do universo dos objetos, uma vez que estes incorporam o significado do tempo como função, carregando o que ele chama de “mito da origem”. Entretanto, como assinala Baudrillard, o objeto antigo tem um impacto enorme sobre a modernidade, pois ele altera a nossa percepção de tempo daquela da praticidade para a de puro significado, que ele considerou como carregando assim a “significação do tempo”.

Na exposição Museu de Contrastes, está em questão uma sociologia dos objetos e seu impacto simbólico no universo da cultura. A decoração de interiores, por exemplo, causou um enorme impacto nos modos de exibição de obras que foram historicamente utilizados, mas o contrário também é verdade. O interior minimalista surgiu a partir de seus desdobramentos na arte contemporânea no início dos anos de 1960. Um dos aspectos que esta exposição busca evidenciar são os conflitos que podemos vislumbrar desse agenciamento, entre a função dos objetos, e seu aspecto decorativo, transformados no tempo pela experiência da decoração de interiores e a adição de valor histórico. Objetos servem como intercessores entre o indivíduo e o espaço. Sua relação com a vida cotidiana é mediada pela sua capacidade de inscrever um caráter de tempo e assim atribuir valor aos objetos como forma de relacioná-los ao universo da experiência com a história. Sejam eles históricos ou contemporâneos, estas características encontram-se implícitas em sua própria existência.

Fonte: Bruna Paulin

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