O ídolo!


fari-palco De repente estava eu ali. No palco. Olhei para frente e uma multidão insandecida a gritar:
– Mais um, mais um!
Olhei para trás e músicos com os mais diversos instrumentos me olhando, como que a esperar um sinal para a próxima música. Uma luz de foco quase a me cegar. Eu mal conseguia enxergar a platéia, mas percebia que era de milhares.
– Meu Deus, o que será que eles esperam que eu cante?
Pensei em correr, sumir dali! Mas tinha que resolver em poucos segundos qual a atitude mais correta. Parecia-me que qualquer gesto impensado ou mal-interpretado poderia resultar em um desastre.
– Vou me socorrer com meus companheiros de palco!, balbuciei.
Vi que ao lado esquerdo, como aguardando para entrar, estava a Daniela Mercury. O que ela iria cantar comigo? O que eu estava fazendo ali? No lado direito, Chico Buarque e Caetano Veloso acenavam.
– Devo ser bom, hein?
Veio-me uma idéia: correr até um dos músicos e pedir para que ele fizesse um solo, enquanto pudesse sair do palco e descobrir que apito eu tocava. Dito e feito. Corri. A luz de foco me seguindo, de modo que me tornasse a única pessoa visível naquele cenário. A multidão enlouqueceu mais ainda. Notei que estava de sandálias.
– Deus do céu! Tenho horror de sandálias!
Procurei o guitarrista, que só teve a imagem exposta quando me aproximei, com a maldita luz de foco. Ele deu um o.k. e saí espavorido, cuidando para não me enredar nos colares (!). Precisava esclarecer isso.
Fora do palco um pessoal que julguei ser da produção, disse-me:
– O que houve, cara? Volta lá!
– Eu vou trocar de roupa!
Não estava nos planos. Azar.
Localizei um camarim com meu nome à porta.
– Tiro as sandálias, os colares, me visto e sumo daqui!
Surpresa: sobre a mesa diversas fotos. Numa o Roberto Carlos me entregava um disco de ouro. Noutra, Martinho da Vila e eu. Numa pequena, cantava com o Engenheiros do Havaí. Ao lado, a Simone, o Zeca Pagodinho e eu. Abaixo, o Borghetinho comigo.
– O que eu canto, afinal? Agora mesmo que vou embora!
Quando pensava em me dirigir para a rua, um dos assistentes disse:
– Todos da banda fizeram solos! Volta lá que a multidão quer invadir. Não vai dar para segurar!
Em nome da ordem, para o bem de todos e felicidade geral da nação, lá me fui.
Entrei no palco sem ter o que dizer, afinal nem sabia qual meu repertório, e gritei:
– Brigaduuu!
A multidão explodiu em aplausos e pensei:
– Vou me jogar na platéia, igual aos filmes, e dou por encerrado o espetáculo!

fiz: dei um salto e voei. Caí da cama e acordei.
– Que droga, bem agora que estava gostando!

Rogério Vinícius Borges Nascente