E se todos os artistas tivessem uma ausência repentina de inspiração, iria o poder público chegar à conclusão de que a cultura é algo indispensável, tanto quanto a água que bebemos ou o ar que respiramos?
Na noite de ontem (16/05/11) estive ao lado de muita gente legal no Plenário da Câmara de Vereadores, na audiência pública capitaneada pelo Eduardo Leite; O tema: Reabertura do Theatro Sete de Abril, interditado há mais de um ano. Eu não vou ficar aqui correndo o risco de ser repetitivo, quem quiser saber mais do assunto basta jogar no seu buscador que certamente irão pipocar artigos. A verdade é que precisamos agilizar esse processo, e quando falo na primeira pessoa do plural eu me remeto ao fato de que é necessária a compreensão por parte da comunidade de que o patrimônio pertence ao povo, tudo bem que na audiência estejam reunidos artistas de diversas áreas, mas me interessa, além da reabertura, a busca da população pela cultura; A mim preocupa o excesso de ritmos que a grande mídia promove, preocupa o jabaculê, preocupa a alienação. De nada adianta termos dez teatros se não houver um público sedento por arte de qualidade, podem até me chamar de preconceituoso, mas não vejo a menor relevância cultural, para nossa região, da difusão massiva de ritmos como forró, sertanejo, pagode, funk carioca, emo-core e outros rótulos prolixos; Nosso potencial artístico, em termos regionais, sempre foi comprometido com o trabalho autoral, seja no rock, mpb, nativismo, música latino-americana, etc; Sobre dança, teatro e artes plásticas não tenho muita propriedade pra falar, a não ser sobre meu conhecimento sobre a história de Pelotas e o caráter vanguardista aqui presente desde o século XIX.
Na audiência ficou explícito que as coisas estão mudando, cada vez mais a classe artística se encontra para reivindicações legítimas, tal como foi na ocasião do advento da extinção da Secult ou nos debates sobre o Procultura; Desta feita fomos buscar esclarecimentos sobre o processo e exigir transparência e informação. Ulysses Nörnberg, atual secretário de cultura, já sabe que estamos engajados e motivados a manter Pelotas na vanguarda dos movimentos que ocorrem nas diversas esferas de poder; em nível mundial sentimos as consequências da revolução digital, em nível nacional se discute a Lei de Direito Autoral e se assiste à descentralização do poder econômico cujo principal expoente é o projeto Fora do Eixo; No nosso estado o Coletivo Macondo é um grande exemplo de mobilização e tem inspirado muita gente, inclusive aqui; Em Pelotas se reacendeu a discussão sobre cultura, cidadania e poder, trazendo à tona alguns ideais que arrefeceram quando da desmobilização do Uns Rock. O maior exemplo disso é a correria promovida pelo produtor cultural Manoval, acho que finalmente estamos aprendendo a colocar em prática a busca pelos anseios, estamos saindo do vício exemplificado pelos formadores de opinião e entrando de sola na prática, hoje somos “tomadores de decisão”, não existe nenhuma reunião em que não se saia com alguma proposição; O progresso vem se dando tanto na teoria quanto na prática. Deixo aqui o convite aos antigos agitadores para participar das discussões futuras, também aos diversos profissionais que fazem parte da cadeia cultural. Fotógrafos, produtores de vídeo e audio, web-designers, jornalistas, donos de casas noturnas, sonorizadores, advogados, etc. O debate vai muito além da reabertura do Sete de Abril, único espaço público onde podemos mostrar nossos talentos, provoca e estimula a busca de novos e melhores espaços. É como eu falei, o cara ser secretário de cultura em Pelotas, no atual momento, é um grande desafio, o que eu posso dizer é que cada vez iremos reivindicar mais ações, de forma civilizada e com propriedade, características que têm nos levado a grandes conquistas no âmbito local.
Daniel Balhego
Bacharel em Turismo pela UFPel
Vocalista da Banda da Silva
www.dasilvanaweb.com
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
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