Cinema em Pelotas – Pioneirismo, Declínio e a Retomada


Foto: HFJ-DM

Cinéfilo, escritor e ex-professor da UCPel Joari Reis, também é autor de dezenas de roteiros ainda inéditos

Foto: HFJ-DM

A 25 de setembro em Lisboa. Trata-se da primeira etapa de mais uma viagem para a Europa. No trajeto deste ano, Portugal e Espanha. A ideia inicial previa ida até Israel. Porém, devido à turbulência no Oriente Médio, houve alteração do passeio. Um pouco acerca das andanças do pelotense Joari Reis e esposa, por países como França, Holanda, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Suécia e até o minúsculo principado de Liechtenstein, é relatado aos sábados na Rádio Com 104.5. Das 8h30min às 9h, ele participa da programação. Além das viagens, aborda também aspectos do cotidiano brasileiro. Como cinéfilo, não deixa de falar sobre filmes de variadas épocas. Há mais de trinta anos colunista de cinema, autor de “Breve História do Cinema” (Educat/2002), Joari também é odontólogo e chegou a escrever livro sobre botânica. A inquietação por diferentes áreas, bem como a experiência como professor de roteiro e cinema na UCPel, contribuíram para que criasse suas histórias.

ROTEIRISTA – Exigente com o que escreve, Joari menciona que “nunca me atirei na ficção”. Porém, revela que elaborou sinopses para curtas. Com temática universal, as ideias narram o cotidiano, apresentando pitadas de comicidade e ironia. Ele revela que é autor de mais de trinta roteiros. O material permanece inédito.

Pioneiro Francisco Santos

CENA cinematográfica local, conforme o crítico Joari, apresenta etapas como pioneirismo, declínio e a recente retomada. Com a proximidade do bicentenário da cidade, ao DM ele falou sobre o português Francisco Santos (1873/1937) que, nas primeiras décadas do século vinte – radicado em Pelotas – realizou algumas das primeiras ficções no País. Também a produção “Angela” (1951) – locações na então chácara da Baronesa –, e o mais recente “Concerto Campestre” (2004). Na atualidade, elogia o curta “Marcovaldo” (2010), produção da Moviola.

Primeiro longa de ficção “O Crime dos Banhados”, é de 1914 baseado numa chacina em Rio Grande
“Ângela” é produção paulista de 1951, com locações na chácara da Baronesa em Pelotas
“Um homem tem que ser morto” de 1973
Charqueada criada para Concerto Campestre, poderia ter sido aproveitada para estimular turismo

HISTÓRIA – Francisco Santos – um dos construtores do Theatro Guarany, bem como de espaços como o Avenida e Capitólio –, dedicou-se a várias áreas. Além das casas para exibições de filmes, também esteve à frente de iniciativas como a produtora Guarany Films. Do curta “Os óculos do Vovô” (1913) – teve como principal locação o então parque Souza Soares no Fragata –, restaram cinco minutos de filme. Conforme Joari, fragmentos do filme foram localizados pelo pesquisador Antonio Jesus Pfeil em 1973. Durante décadas, suspeitava-se até sobre a veracidade da produção em Pelotas. No ano seguinte, adaptando chacina que acontecera na localidade da Quinta em Rio Grande, Francisco produziu o longa “O crime dos banhados”. Tem sido considerado como o primeiro longa de ficção no País. Porém, não há registro de cópia. Joari acrescenta que, provavelmente, o rolo tenha sido derretido para a fabricação de cola. Do filme existe apenas um “fotograma”. Após o período, somente na década de cinquenta haveria novo longa na cidade. Trata-se da produção paulista “Angela” (1951), que tinha o galã Alberto Ruschel como protagonista. Ele contracenava com Eliane Lage. Como curiosidade, locações na chácara da Baronesa. Eventualmente o filme é exibido na tevê, em canais fechados.

CULTURA – “Quem não tem cultura geral, nem cultura cinematográfica, dificilmente fará bom filme.” Afirmação de Joari, que também menciona o filme “Um homem tem que morrer” (1973). Ele observa que assistiu mas, devido à fragilidade do filme, não se atreveu a elaborar crítica. Naquele ano, Pelotas também foi locação para a produção “O Negrinho do Pastoreio” com Grande Otelo. Em 1985, Lauro Escorel dirigiu “Sonho sem fim” que, entre outros locais, teve como locação a antiga Estação Ferroviária. Em 1999, algumas locações de “Mauá” foram na cidade.

IDEIA – Joari lamenta que não houve aproveitamento da charqueada temática, criada para o cenário de “Concerto Campestre” (2004). “Pelotas não soube tirar vantagem da estrutura, que poderia contribuir para o fomento turístico”, diz o crítico. E acrescenta que o cenário do filme prossegue fechado à visitação.

MEMÓRIA – Na infância, ele levava os irmãos à sessão matinê. Nos cinemas Fragata – bailão atualmente -, e São Rafael, faroeste e seriados como “Caveiras do Terror”. Na década de cinquenta, acompanhando os pais, descoberta dos filmes franceses. Também a admiração por musas como Martine Carol e Cécile Aubry. Joari recorda que havia ritual precedendo sessão no Capitólio. Ir ao cinema era convivência social, flertes e encontros. Como espectador, acompanhou filmes nacionais de produtoras como Cinédia, Atlântida e Vera Cruz. Na memória do crítico também a reviravolta estética proporcionada pelo cinema novo. Atualmente, tratando-se de diretores vivos, destaca Woody Allen, Francis Ford Coppola, Terrence Malick, Walter Salles, Almodóvar e Fernando Meirelles. No Estado, destaca Pedro Furtado.

BICENTENÁRIO – Em relação à cidade ressalta as mostras de cinema, sob a coordenação do prof. dr. Luis Rubira (UFPel). Com entrada franca, as sessões acontecem sextas à noite no Centro de Integração do Mercosul. Em destaque o Festival Manuel Padeiro de Cinema e Animação, que terá a terceira edição neste ano. Joari foi convidado e será um dos jurados. Para o cinéfilo, está ocorrendo um aquecimento real – Pelotas já tem curso de cinema na UFPel – e a produtora “Moviola” integra a fase. Porém, observa que há muito por fazer, e compara com a Europa, onde o cinema é ensinado desde o curso primário. Sobre o bicentenário dispara: “Pelotas ainda não soube capitalizar o turismo. Parece que às vezes, trabalho é palavra proibida por aqui. A cidade precisa de um psicanalista”.

Fonte: 3milenio.inf.br
Texto Carlos Cogoy
Carlos Cogoy é jornalista, editor de “Cultura” do jornal Diário da Manhã. Professor de Filosofia – Pelotas/RS.
E-mail: carloscogoy@uol.com.br

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