Uma das angústias dos fotógrafos da minha geração era como fazer para que seu material chegasse até as pessoas. Isso porque de toda nossa produção, somente algumas fotos são publicadas no jornal. Algumas nem isso.
Talvez a geração da era digital nem imagine as angustias que vivíamos há menos que de década. Uma das nossas opções era montar exposições, mandar material para revistas especializadas, ou inscrever as fotos que sobravam em algum concurso alternativo. Mas a verdade é que nem sempre as fotografias chegavam ao público da forma que imaginávamos. Geralmente eram divulgadas muito tempo depois da produção.
A famosa foto do abutre observando o menino – do fotógrafo sul africano Kevin Carter – só foi publicada seis meses depois de ser tirada. Acabou ganhando o Pêmio Pulitzer. Mas a verdade é que nem sempre era assim. Fazíamos grandes fotos e elas ficavam “na gaveta”, sem nunca serem vistas.
Mas hoje a coisa mudou. Temos o mundo das redes sociais totalmente ao nosso dispor. Um imenso espaço para “compartilhar”, (usando a palavra mais adequada) e divulgar nosso material. Ali podemos também usar as imagens para manifestar alguma opinião, protestar e até mesmo dividir os lugares e as pessoas que amamos, através das nossas imagens.
Semana passada eu estava na Praia do Laranjal, em Pelotas, garimpando uma boa foto de verão. Tarde de calor, céu azul e a imensidão prateada da Lagoa dos Patos. De repente me deparei com um grupo de crianças que brincavam na areia. A cena me chamou a atenção e fui pedir autorização para fotografá-las. A senhora que os acompanhava explicou que não poderiam ser identificados, pois eram da Casa do carinho, um abrigo municipal para crianças de zero a sete anos.
Então busquei uma alternativa que não os identificasse, colocando o grupo de mãos dadas, de costas para a foto. Depois disso, como tratava-se de um foto alternativa, que não estava na pauta do jornal, a publiquei no meu perfil do Facebook, com um pequeno texto explicando a situação.
A repercussão a partir da publicação daquela imagem foi impressionante. Até hoje foram 1.771 compartilhamentos, 160 pessoas curtiram e 65 pessoas comentaram no meu perfil. Isso sem falar nos comentários dos compartilhamentos. Foram manifestações emocionadas e houve até uma rede de solidariedade em prol da entidade que as crianças fazem parte.
Mexeu tanto com as pessoas, que tiveram alguns que me encontraram na rua e, emocionados, perguntaram de que forma poderiam ajudar estas crianças. A foto foi responsável por uma verdadeira peregrinação á Casa do Carinho, oferecendo ajuda e solidariedade às crianças e monitoras.
Penso que a imagem, por se tratar de uma linguagem universal, pode tocar as pessoas de uma forma direta. Busco um mundo melhor e tento fazer a minha parte quando desenvolvo meu trabalho. A fotografia nada mais é do que uma mensagem escrita com a luz, direto do autor para o mundo.
Em tempos de photoshop e milhares de ferramentas voltadas à manipulação das imagens, penso que deveríamos pensar muito mais na função social da fotografia, do que na estética. Acho também, que as angustias diárias de um fotógrafo diminuem quando conseguimos mudar um pouco os paradigmas e o eixo da sociedade através de nosso trabalho.
É a sensação de que estamos no caminho certo. Sensação se missão cumprida. Mas a vida de um fotógrafo recomeça cada nascer do sol!
Foto e texto: Nauro Júnior
Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/retratosdavida
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.