Mostra alusiva ao Carnaval em Pelotas


A Secretaria de Cultura local (Secult), por meio de sua Gerência de Artes Visuais, abriu ao público, nesta sexta-feira (10), suas primeiras mostras deste ano, estas em alusão ao Reinado de Momo. As exposições, compostas por fotos datadas desde 1917, ocupam as Salas de Exposições Antônio Caringi e Ináh Costa, ambas situadas no Centro Cultural Adail Bento Costa. São parceiros da exposição os Clubes Sociais Diamantino e Fica Ahí, que cedem parte de seu acervo e de sua própria história para ilustrar a mostra, que fica em exposição até o dia 29 deste mês.

Por meio do material exposto, a comunidade poderá apreciar a criatividade dos carnavalescos da época, em especial no que tange à confecção dos carros alegóricos, cujos efeitos obtidos são considerados bastante avançados para aquela época, onde estes carros eram tracionados por bois ou mulas. Ainda por meio de fotos e banners, pode-se observar nitidamente a diferença de concepção da confecção das fantasias utilizadas, já que haviam, como até hoje, a criação de fantasias mais elaboradas, porém predominam as roupas mais comuns, que eram minuciosamente adaptadas aos propósitos da Folia de Momo.

Entre as imagens expostas, encontra-se ainda a do Baile do Centenário do Clube Diamantinos, com a foto da soberana da época Gilda Marinho em imagem captada no ano de 1931.

Confira parte da história das agremiações sociais que fazem parte da Mostra.

Clube Diamantinos

Fundado em 08 de abril de 1906, teve como primeiro presidente João Abadie. Seu primeiro nome – Clube Carnavalesco Diamantinos, proposto pelo sócio Armando Xavier, em 27 de maio, sendo aprovado em assembléia. Surgiu com objetivos carnavalescos, fazendo sua estreia nos préstitos pelotenses em 12 de fevereiro de 1907, ocasião em que apresentou seis carros alegóricos, de autoria dos cenógrafos Giácomo Mancini e Joaquim Bastos Guerra. A entidade renovaria drasticamente o Carnaval da cidade, retornando antigas formas de comemoração e criando outras. Dentre as atividades desenvolvidas no período extrafolia, intensificadas a partir de dezembro, mas mantidas o ano todo, estava a coroação da Rainha, recepção ao Rei Momo, passeios burlescos nos finais de semana anteriores ao carnaval e apresentações de Músicas em salões e teatros da cidade. No período de carnaval, destacavam-se os bailes à fantasia, participação no corso e desfiles de carros alegóricos, sendo esse o grande destaque que viria marcar os demais desfiles, juntamente com o luxo acentuado. A recepção ao Rei Momo foi uma inovação do clube, ocorrendo pela primeira vez em 1907 para marcar a chegada do ano, fato que veio a se repetir inúmeras vezes durante os anos seguintes, com o Rei Momo chegando por via marítima, aérea, terrestre ou ainda, encenando o clima sugerido pela Primeira Guerra Mundial, sobre um canhão, como ocorreu em 1915. O clube contava com um amplo apoio da imprensa pelotense, principalmente por ser considerado o responsável pelo legítimo carnaval veneziano na cidade. O préstito, já em seu primeiro ano, contava com duas bandas de acompanhamento, modelo apresentado pelas entidades do final do século XIX e que viria a ser seguido pelo grande rival, Brilhante. As alegorias não apresentavam uniformidade, os carros alegóricos compunham-se sobre estrados cedidos pela companhia ferroviária, sendo puxados por cavalos, bois ou muares devidamente ornamentados e conduzidos por uma guarda fantasiada, a qual era formada basicamente por negros, não recebendo, no entanto, muito destaque na imprensa da época.

Inicialmente, o Clube não possuía sede própria, fazendo suas reuniões de diretoria nos mais variados locais, como o Bazar Musical, à rua 15 de novembro, a Caverna, à rua Marechal Floriano, e Clube Caixeiral, entre outros. Em 1917 foi adquirido um terreno na Rua Gonçalves Chave,s nº. 956, onde se construiria a sede, inaugurada em 15 de novembro de 1941.

 

Clubes carnavalescos negros

Nas comemorações pela emancipação de escravos, em 18841, apareceu o clube Negro Netos D’África. No século XIX, ainda houve outras associações carnavalescas, como a Satélite do Progresso, nascida em julho de 1891, e a Flores do Paraíso, em 1898. Antes, existiu a sociedade Recreio dos Operários, de caráter recreativo e carnavalesco, além de também manter um Grêmio Dramático.

Contudo, as mais importantes associações recreativas do grupo negro para o Carnaval surgiram entre 1916 e 1921, como cordões carnavalescos, entre as quais citam-se o Depois da Chuva (1916), Chove Não Molha (1919), Fica Ahí Para Ir Dizendo (1921), Quem Ri de Nós Tem Paixão(1921)e Está Tudo Certo (1931). Desses clubes, os mais duradouros foram os três primeiros, dois dos quais (Fica Ahí e Chove) existem até hoje, tendo conseguido edificar sede própria no perímetro central da cidade, através de muito esforço de seus associados. O Depois da Chuva localiza-se à rua Dr. Cassiano e acredita-se que seu nome tenha surgido do fato de que seus carros alegóricos e fantasias eram feitos inicialmente com papel crepom e papelão, podendo desfilar apenas com tempo bom ou depois da chuva. O Clube Fica Ahí teve como sua primeira sede um prédio na rua Félix da Cunha, e em 1953 foi lançada a pedra fundamental de sua sede própria, à rua Marechal Deodoro.

Neste mesmo ano, o cordão passou a ser denominado Clube Cultural fica Ahí e entre os seus associados encontravam-se algumas das pessoas de melhor condição ecônomicasocial da comunidade negra.

Foi a partir da organização de seus sócios que se criou a Academia de Samba, uma das primeiras Escolas de Samba a participar do Carnaval de Pelotas. O Chove Não Molha teve sua sede à rua Major Cícero, sendo que em 1952 foi lançada a pedra fundamental da atual sede, à rua Benjamin Constant. Destacou-se em relação aos demais clubes por realizar, durante vários anos, jogos de futebol e ping-pong dos que participavam os demais clubes negros da cidade e também de Rio Grande. Quanto ao Quem Ri Nós Tem Paixão, sua sede era na Rua Urbano Garcia e, na década de 1930, foi o cordão mais popular e preferido pelos jovens. Também o Está tudo Certo era de jovens e foi o que monos perdurou, sendo sua sede na rua Argolo.

Além desses, existiram vários outros clubes, menos duradouros, e ainda havia a possibilidade de se formar blocos de associados dentro de um clube, mas que tinham programação e diretoria próprias, muitos deles dirigidos por mulheres e que funcionavam auxiliando financeira e socialmente a entidade maior. Nas décadas de 1920 e 1930 esses clubes e outros participavam ativamente do Carnaval de rua, contribuindo de forma significativa para dar a Pelotas o título de Carnaval mais importante do interior de Estado, inclusive atraindo turistas para a região.

Os cordões carnavalescos negros formavam a alma do carnaval de rua, sendo a maioria nos desfiles e corsos, e vencedores, inúmeras vezes, de concursos de”melhor bloco de rua” promovidos por empresas e ou pela imprensa pelotense.

Depois de 1940, esses cordões se recolheram ao interior dos clubes, intensificando o carnaval de salão nas décadas posteriores, em que, de certa forma, substituídos pelas escolas de samba e pelos blocos com nomes de bichos. Entretanto, continuaram a manter suas atividades, congregando a comunidade negra da região, promovendo concursos de beleza negra e outras atividades de cunho social ou educacional, contribuindo para agregar os negros pelotenses e auxiliar em sua integração social.

Bibliografia. -Loner, Beatriz. Negros:oraganização e luta em Pelotas. IN: História em Revista, v. 5, dezembro 1999, PP.7-27; Loner, Beatriz. Construção de classe:operários de Pelotas e Rio grande(1888-1930). Pelotas: Editora e Gráfica Universitária – UFPel, 2001; Loner, B. e Gill, L. Clubes Carnavalescos Negros na cidade de Pelotas. In: Estudos Ibero-Americanos, v 35, nº 1, jan/junho 2009, P 145-162.

Texto do livro Dicionário de História de Pelotas, Beatriz Ana Loner/ Lorena Almeida Gill/ Mario Osório Magalhães (organizadores)

Redator: Sandra Lima
Foto: Jonathas Rivero
Fonte: pelotas.com.br