Lembranças de Carmem Araújo


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Após anos de exercício médico, desenvolvendo habilidades científicas de pesquisa e de cuidado, a ginecologista Carmem Araújo voltou-se ao interior e à capacidade autoexpressiva, transformando-se progressivamente numa artista plástica, cada vez mais definida, lúcida e ousada.
Com boa disciplina e produtividade, trabalha elementos como a autoestima e a sensibilidade feminina, primeiro associando-os às mulheres atendidas em seu consultório, logo a seu próprio corpo e alma e, mais recentemente, ligando esses conceitos à cidade de Pelotas.
No primeiro semestre de 2009, Carmem apresentou 30 quadros de mulheres nuas alusivos à Princesa do Sul, a maioria produções recentes (veja nota).
Ao finalizar o segundo semestre, de 9 a 21 de dezembro, trouxe nova amostra de telas em acrílica, desta vez à Galeria de Arte da Universidade Católica, totalizando 18 “Lembranças”, a grande maioria recém criadas.
Algumas imagens contêm basicamente erotismo e sensualidade: o elemento corresponde a séries anteriores, em que a desinibição se relacionava com o autoconhecimento anímico e corporal. Quando os temas incluem figuras artísticas como os vitrais ou se baseiam em esculturas de casarões antigos ou do chafariz das nereidas, o mundo feminino anterior se entrelaça com a realidade pelotense, talvez necessitada de autoestimação e sensualidade amorosa, não destrutiva.
Nesta nova série, pelo menos duas figuras falam do tema do nascimento e do parto, formas de realização do ser feminino que se conhece e se ama a si mesmo (isto inclui o lado feminino de um homem). O uso do metal – como material de trabalho ou como suporte (abaixo à esq.) – também sugere um contraponto, em relação à fase anterior, mais cálida e flexível.
Outra possibilidade não resolvida é sobre o papel do homem na evolução feminina… objeto de percepção, de interação, de inclusão? Ainda não há respostas, mas as perguntas já parecem sugeridas.
A artista conserva e aprofunda suas motivações, progredindo como pesquisadora do espírito humano. Sua profissão permitiu-lhe operar com os misteriosos procedimentos de criação da vida e de regeneração biológica, a arte lhe faz reconstituir os modos em que uma alma se conhece a si mesma em busca da sanação interna. Mesmo que esses modos sigam parecendo indecifráveis, os espectadores e a própria “criadora-criatura” se beneficiam dessa progressiva consciência autoamorosa.
Imagens de F. A. Vidal

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