Morei em Pelotas há uns dez anos atrás e toda vez que alguém me perguntava como era eu invariavelmente respondia: a cidade como um todo padece de estrutura, as ruas são esburacadas, a cidade tem poucos empregos, a economia com a quebra das indústrias de doce se tornou fraca. O prefeito na época estava há sete meses de licença, havia realizado várias falcatruas, empobreceu mais ainda o município. Mas as pessoas, ah! as pessoas. As gentes de lá são preciosas. Entra-se numa padaria qualquer e todos te cumprimentam. O povo é acolhedor. Tu te sentes em casa. Ficaram boas lembranças dos humanos que ali habitam.
Na quarta-feira estive em Pelotas depois de tanto tempo. Fui fazer minha matrícula na UFPel, sou a mais nova bixo de Ciências Sociais. Não é o curso que eu quero, mas é o que mais se aproxima, lá não tem Psicologia. Um prêmio de consolação pra mim que tanto luto pra ser psicóloga. Ao passar pela ponte e ver Porto Alegre ficando pequeninha, colei meu nariz no vidro e fiquei admirando o rio. Depois vieram os campos, os arrozais e meu coração se enebriava. Eu sentia estar fazendo algo que ia mudar. Ia me mudar. Ou mudar tudo. Sabia que ali estava um marco sendo sedimentado ao encerrar uma fase e entrar em outra nesta minha vida tão incomum. Cheguei em Pelotas, mas já no ônibus encontrei pessoas que tinham o mesmo destino que eu. A moça pelotense do ônibus que nos dava instruções de como chegar ao campus Porto, não negava minhas antigas impressões, orientou-nos como chegar mui solicitamente. Fizemos nossa matrícula, e fomos fazer nossa carteirinha de estudante com o pessoal do DCE. Estes em sua maioria do curso de Ciências Sociais, nos receberam muito bem, me deram dicas do curso, levaram-nos pra comer do RU, literalmente nos ciceronearam por Pelotas. Gente boa estes pelotenses. Pra mim um choque cultural com esta alemoazada de Novo Hamburgo, fechada, tem medo até de dar informação na rua. Sem contar o nível intelectual dos estudantes, fiquei impressionada com a mobilidade política e cultural deles, eu acostumada com estas patricinhas da Feevale que não sabem quanto é 1+1, outro choque cultural, maravilhei-me. Pelotas… Aqueles prédios históricos lindos, aquele ar que Bento respirou, o horizonte no final das ruas como se o mundo acabasse ali no alcance do braço.
Del charque ao dulce. Assim o folheto turístico distribuído na rodoviária apresenta o município. Sim, sem dúvida Pelotas é uma doce cidade.
E agora? O que eu faço?
Esta cidade habitada por estes seres humanos tão agradáveis fica a 294 km de Novo Hamburgo. Não é um pulinho…
Cíntia Viviane Ventura da Silva
http://cintiavvs.blogspot.com/
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.