A arte exposta de maneira visceral através de acordes, críticas e improvisos. É na praça Coronel Pedro Osório, peça intrínseca do centro histórico dePelotas, que Serginho Ferret, mais conhecido como o “maluco da vassoura”, mostra o seu relacionamento mais íntimo com a música. E é através do “vassourolão”, uma mistura literal de vassoura com violão, instrumento pensado carinhosamente por ele, que o artista local mostra os seus devaneios e atrai aplausos das mais diversas idades, tipos e estilos.
> Confira no vídeo uma apresentação de Serginho da Vassoura
O visual não é dos mais elegantes, mas, e até talvez por isso, é dos mais atrativos no cenário musical pelotense. Apesar de sua aparência desleixada e, ao mesmo tempo, singular, o compositor conta (e canta) em suas letras uma espécie de documentário da vida local. E isso já faz mais de dez anos. “É impossível viver de música. Eu vivo do teatro. Esse personagem não sai mais de mim”, conta o músico. Na bagagem, o tripé: Tom Zé, Belchior e Zé Ramalho. Influências claras em suas melodias.
Viagem à Inglaterra
Nesta sexta-feira, no Dia Mundial do Rock, Serginho lança o CD Ilusionismo sonoro. Mas a data significa mais. É nesse dia 13 de julho que passa a valer também o seu visto para o exterior e, durante seis meses (período de validade do documento), o artista trocará as ruas de Pelotas pelas da Europa. Como principal destino: Inglaterra. Isso porque uma velha amizade lá mora e o som já foi combinado. O que não seguirá na viagem? Letras escritas. “Minhas músicas estão na mente. Elas têm um nome, um refrão. O resto é poesia e improviso”, diz.
Outra peculiaridade que acompanhará Serginho é seu microfone feito de lata de azeite Gallo. Seu sonho sempre foi cantar em microfones antigos. Sem dinheiro para adquirir o produto e com o seu quebrado, ele resolveu improvisar. Qualquer semelhança em relação à marca também não é mera coincidência. “Tentei outras, mas o galo canta”. Calçadas de Brasília, Bahia, Santa Catarina e Rio de Janeiro também já fizeram parte desse cenário criado pelo artista para envolver o público.
Trabalho
Toda a sua produção é feita de amizades. O CD, por exemplo, surgiu de um projeto do curso de Produção Fonográfica da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). O que geralmente leva meses, durou apenas sete horas de gravação e a ideia de fazer um álbum tornou-se inevitável para ajudar o músico nessa jornada pelo mundo. Questionado sobre a vassoura, a simplicidade responde: “Quando criança via filmes em que os personagens tocavam música em vassouras. Quando meu violão quebrou tive essa lembrança e acabou virando minha principal característica”.
Suas composições, em português, são inspiradas em pessoas. E naquele velho ditado “em cada canto, um conto” Serginho compõe por onde passa. Nas canções, decepções como o amor que virou fã de Calypso e o deslumbre da sociedade por medalhões e eventos que não respiram cultura são acompanhados do Johnny Walker que transformou-se em Velho Barreiro.
Relato do Bicentenário
Entre as 11 faixas, pode-se esperar um relato sobre os 200 anos de Pelotas. Em meio à “minha música é genérica e o teu ouvido é transgênico”, as vidas que passam percebidas por ele escutarão que “o chafariz que vem da França continua vomitando água”. A discotecagem da noite fica a cargo de Marquinho Woodstock e a organização do evento é da Satolep Circus.
Serviço
O quê: lançamento do disco de Serginho da Vassoura
Onde: no Galpão Satolep, em Pelotas
Quando: nesta sexta-feira (13), pós 23h
Antecipados: Stúdio CDs, Papuera, Café Gato Gordo, Cidadão Capaz e com o próprio músico na praça Coronel Pedro Osório. Com disco o valor do ingresso é R$ 10,00 e, sem, R$ 5,00
Por: Yéssica Lopes
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Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.