Em sua décima nona edição, esse festival internacional de artes cênicas invade a capital e, mais uma vez, firma o seu sucesso, como um dos eventos culturais mais importantes do Brasil. De 04 à 24 de setembro de 2012 serão apresentados diversos espetáculos de dança, teatro, música, oficinas, cursos, palestras, workshops, exposições e etc…
Para quem puder se deslocar até à capital do nosso estado ou para aqueles que lá estão, não faltarão opções sobre o que assistir. A edição desse ano traz vários espetáculos do Uruguay, além de trabalhos vindos da Israel, Argentina, Portugal, Alemanha e França. Obviamente, esse festival não se faz apenas com espetáculos estrangeiros, o público ainda tem a possibilidade de assistir diversos trabalhos oriundos de vários estados brasileiros, nos oferecendo um panorama diversificado da produção artística que foi selecionada pela curadoria do Em Cena.
Nos dias em que lá estive, me surpreendi com o tamanho das filas para entrar nos teatros, além das muitas pessoas que, como eu, se aglomeravam em frente às bilheterias pra comprar ingressos de última hora. Realmente, conforme a organização do evento informou no material de divulgação, as bilheterias não abrem na hora dos espetáculos para a venda de ingressos naquele momento. Apenas as pessoas que já haviam comprado as entradas pela internet estavam retirando os seus tickets. Porém, como todo grande evento, sempre são distribuídos muitos ingressos cortesias, algumas pessoas também acabam comprando em excesso, ocorrem desistências e etc… Nessas situações, esses lugares costumam ser vendidos ou até mesmo ofertados pelos próprios espectadores àquelas pessoas que não compraram seus ingressos com antecedência.
Nos teatros por onde circulei e nos postos de vendas de ingressos, observei que o público queria muito ir ao teatro, mesmo sem conhecer o trabalho que seria apresentado, o seu desejo se refletia apenas pelo prazer de irem ao teatro. Somente esse aspecto já nos ilustra o quanto a população gosta de frequentar eventos culturais e do quanto eles lhes são importantes. Entretanto, não podemos esquecer que estamos em ano eleitoral e a cultura não costuma entrar nos discursos dos políticos, nem mesmo ser incluída com ações específicas para implementar, fomentar e oferecer dignidade de trabalho aos profissionais dessa área.
A cultura não oferece emprego apenas para os artistas e profissionais técnicos envolvidos nos espetáculos, todo o comércio local lucra com os turistas que se deslocam até esses espaços, além do mercado informal que se forma à volta dos teatros, proporcionando trabalho e fonte de renda a diversas famílias. Com certeza, Porto Alegre ganha muito durante o Em Cena, não apenas no aspecto comercial, mas também na oferta cultural aos seus moradores e visitantes.
Infelizmente, existem poucas cidades no Brasil onde ocorre uma comunhão de ações como essas para incentivar a cultura e oferecer tantos espetáculos à população. Alguns poderiam justificar a ausência desses eventos devido ao alto custo que uma produção dessas envolve. Entretanto, com trabalho e muita força de vontade se consegue obter o devido sucesso. Porém, para que isso seja possível, há a necessidade de vontade política, investimentos da iniciativa privada, abertura e apoio da mídia, além de mão de obra competente para organizar um festival dessa dimensão. Também não podemos deixar de destacar que o Porto Alegre Em Cena não iniciou nas proporções em que hoje está. Um evento desse tamanho necessita uma construção eficiente e sólida ao longo dos anos. Aqui, nos fica exposto o seu sucesso consolidado como um dos eventos culturais mais importantes do país.
Além disso, ouvi algumas pessoas reclamando dos valores cobrados pelos ingressos, pois, segundo elas, estavam muito altos e a grande maioria da população não teria condições de arcar com esses custos. Sempre que ouço esse tipo de declaração, eu me pergunto sobre os valores que as pessoas pagam para irem aos estádios de futebol, festas, baladas, nos gastos que têm com bebidas alcoólicas, cigarros, alimentação e transporte nesses locais. Porém, não costumamos ouvir as pessoas dizerem que não vão em tal boate ou estádio de futebol porque os custos totais dessa ida serão muito altos. As pessoas economizam, juntam dinheiro, ou até mesmo pagam, sem reclamar. Entretanto, quando falamos em eventos culturais, esse tipo de argumentação sempre vem à tona, trazendo consigo uma falsa justificativa de que os eventos culturais são elitistas.
A cultura, nesse caso as artes cênicas em geral, empregam muitos profissionais e esses trabalhadores necessitam ser remunerados dignamente pelas atividades que desenvolvem. Quando um espectador está pagando para assistir a um espetáculo, ele não está entregando o seu dinheiro em vão, ele está contribuindo com o salário de todas as pessoas envolvidas naquele trabalho que está ali sendo apresentado e lhe propiciando entretenimento, diversão, reflexão, conhecimento, cultura e etc…
Bom, termino esse texto por aqui, pois em breve trarei novas “notícias do front” e as minhas percepções sobre os espetáculos que assisti. Além disso, não posso deixar de terminar esse texto sem pedir aos leitores que, quando forem votar nesse ano, pensem e reflitam bem, se o candidato que estão escolhendo lhe representa e se suas propostas não são meras promessas de campanha para iludir a todos com os chavões antigos de caça votos fáceis. A minha bandeira é a cultura e assim sempre será, pois acredito nas contribuições positivas que ela propicia à sociedade como um todo. Agora, entrego a vocês essas reflexões.
Por: MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 – Crítico Teatral.
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Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.