Com filmes em 35 mm, a mostra O Cinema de Béla Tarr é uma realização da Surreal Filmes em parceria com a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Prefeitura de Porto Alegre.
Pela primeira vez os cinéfilos porto-alegrenses terão a oportunidade de desfrutar de uma retrospectiva da obra singular do cineasta húngaro Béla Tarr. Cinco filmes em 35mm, transportados desde a Hungria até aqui, serão vistos nesta mostra que se inicia dia 25 de junho, na Sala P. F. Gastal e tem entrada franca. O Cinema de Béla Tarr é uma realização da Surreal Filmes em parceria com a Coordenação de Cinema e Vídeo da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, com curadoria de Francesca Azzi, consultoria da Zeta Filmes e apoio cultural da Embaixada da Hungria-Brasília.
Nascido em 1955, na pequena cidade de Pécs, Béla Tarr vem sendo aclamado como um dos grandes gênios do cinema contemporâneo. Ainda que seu nome seja pouco conhecido no Brasil – até o momento, nenhum de seus filmes teve lançamento comercial no país –, Tarr dá continuidade a uma nobre linhagem de cineastas húngaros, na qual se destacam nomes como Jan Kadar (A Pequena Loja da Rua Principal), Miklos Jancsó (Vícios Privados, Virtudes Públicas), Károly Makk (O Amor), István Szabó (Mephisto), Marta Meszáros (Diário Íntimo) e Pal Gabor (A Doutrinação de Vera).
A filmografia de Tarr começou a ser conhecida fora das fronteiras de seu país no final dos anos 1980, com o lançamento de Maldição (1988), cuja repercussão positiva seria amplificada pelo impacto do monumental Satantango (1994), com suas sete horas e meia de duração. A partir daí, a produção do diretor desperta a atenção de personalidades da estatura de Gus Van Sant – que definiu Tarr como “um dos poucos cineastas genuinamente visionários” e dedicou ao colega húngaro um de seus filmes mais bem sucedidos, Gerry (2002) – e Susan Sontag. A ensaísta americana foi, a propósito, uma das primeiras vozes fora da Europa a saudar o talento de Tarr, chegando a incluir Maldição na célebre mostra que reuniu seus 25 filmes favoritos, realizada em 1990 no cinema Arsenal, em Berlim.
A estreita colaboração de Tarr com o escritor Lászlo Krasznahorkai, com o compositor Mihaly Vig e com o diretor de fotografia Gabor Medvigy se materializa em uma série de filmes hipnotizantes, marcados por um preto e branco suntuoso e por majestosos e elaboradíssimos planos-sequência. Ambientados em pequenos vilarejos do interior da Hungria, constantemente fustigados pela chuva e pelo frio, estes filmes oferecem um registro perturbador da experiência individual nos países do leste europeu nos estertores do século XX, formando um dos conjuntos cinematográficos mais expressivos produzidos nas últimas três décadas. Agora, finalmente, colocado ao alcance dos espectadores de Porto Alegre.
SOBRE BÉLA TARR
Béla Tarr nasceu na Hungria, em 1955. Criado na capital Budapeste, onde seu pai e sua mãe trabalhavam com teatro e cinema, começou a filmar com uma câmera 8mm aos 16 anos. Seu trabalho amador atraiu a atenção do Estúdio de Béla Balázs, que ajudou a patrocinar o longa-metragem de estreia de Tarr, “Ninho Familiar”, rodado aos 22 anos. O filme manteve-se fiel à “Escola de Budapeste”, o estilo documentário popular naquela época no Estúdio de Béla Balázs, preservando um absoluto realismo social na tela. Tarr graduou-se pela Academia Húngara de Teatro e Cinema, em Budapeste, em 1981.
Em 1982, com sua adaptação para a televisão de “Macbeth”, a obra de Tarr começou a sofrer alterações estilísticas que continuam até hoje: o estilo pessoal de Tarr foi refinado com o uso de suas inconfundíveis imagens em preto e branco, a atmosfera meticulosamente composta e longas cenas. Seu cinema ainda trata da decadência e dos distúrbios da sociedade, embora com um viés mais metafísico.
Tendo tratado de questões sociais em seus primeiros três filmes, Béla Tarr aborda os problemas de seus compatriotas esmagados pela pobreza nos filmes subsequentes, buscando também respostas para determinadas questões ontológicas. Tarr, que acredita na tese de que há uma razão para tudo no mundo, enxerga o ser humano com uma das menores unidades do universo. “Maldição” (1988), um dos mais memoráveis filmes da história; “Satantango” (1994), com seus 450 minutos de duração; e “Harmonias de Werckmeister” (2000), que combina tristeza e melancolia, são, nesse sentido, perfeitos exemplos de filmes em que o diretor analisa questões existenciais e aborda fatos como a pobreza, a decadência e a falência moral. Em 2007, “O Homem de Londres”, filme de Tarr baseado no livro de Georges Simenon, competiu no Festival de Cannes. Béla Tarr surpreendeu seus admiradores ao anunciar que deixaria de fazer filmes após seu último trabalho, “O Cavalo de Turim”, que lhe valeu o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim. Béla Tarr é aclamado como um dos mais completos e inovadores diretores contemporâneos de cinema autoral.
SOBRE OS FILMES
NINHO FAMILIAR | Családi Tűzfészek | Family Nest
1977, Hungria | Hungary, 35mm, 108 min.
Roteiro: BélaTarr
Fotografia: BarnaMihók, Ferenc Pap
Montagem: Anna Kornis
Música: JánosBródy, MihályMóricz, SzabolcsSzörényi , BélaTolcsvay, László Tolcsvay
Com: Gábor Kun, MrsGábor Kun, Mrs László Horváth, László Horváth
Sinopse: Irén e sua pequena filha, Krisztike, vivem apertadas em uma quitinete no subúrbio, que precisam dividir com quatro parentes do marido de Irén, agora no Exército. Um clássico da Budapest School, uma espécie de cinéma-verité húngaro da qual BélaTarr era um dos mentores, o filme captura a vida de uma família comum em uma sociedade falida. A proximidade de várias pessoas em um espaço tão reduzido leva a brigas intermináveis e a um sentimento infinito de desesperança. A situação no pequeno apartamento começa a ficar insuportável…
MALDIÇÃO | Kárhozat | Damnation
1987, Hungria , 35mm, 122 min.
Roteiro: László Krasznahorkai, BélaTarr
Fotografia: GáborMedvigy
Montagem: ÁgnesHranitzky
Música: MihályVig
Com: MiklósSzékely B., ValiKerekes, HédiTemessy, GyulaPauer, GyörgyCserhalmi
Sinopse: Em “Maldição”, o enquadramento claustrofóbico e as técnicas do cinéma-verité dos primeiros filmes de Tarr cedem lugar a paisagens expansivas e a uma mise-en-scène estilizada. O filme acompanha os planos e confabulações de um triste quarteto de personagens. Karel apaixona-se por uma atraente e perigosa cantora de cabaré, mas ela apenas o usa. O clima gélido, os bares escuros e os cães vadios são metáforas para o desespero de Karel. Para Tarr, a trama é secundária: “O filme é sobre a paisagem, os elementos e a natureza – sobre um mundo único em que nada permanece.”
SATANTANGO | Sátántangó
1994, Hungria/Alemanha/Suiça, 35mm, 435 min.
Roteiro: László Krasznahorkai, BélaTarr
Fotografia: GáborMedvigy
Montagem: ÁgnesHranitzky
Música: MihályVíg
Com: MihályVíg, PutyiHorváthDr., Peter Berling, BarnaMihók, ÉvaAlmási Albert, AlfrédJárai, Erika Bók, MiklósSzékely B., JánosDerzsi, László Felugossy, ErzsébetGaál, IrénSzajki.
Sinopse: A obra-prima de Tarr foi saudada como um panorama definitivo do fim do Comunismo na Europa Oriental. Com mais de sete horas de duração, este épico mostra o desmoronamento, em desagregação e traição, de uma fazenda coletiva. A complexa trama acompanha um grupo de pessoas que vive em uma pequena cidade dilapidada na Hungria pós-comunismo. Tarr examina suas vidas paralisadas através de uma série de episódios narrados a partir do ponto de vista de cada pessoa. O diretor afirmou que a estrutura do filme foi inspirada no tango, com seus seis passos para frente e seis para trás – uma ideia que também se reflete nas redundâncias do esquema temporal. A narrativa é acompanhada por uma impressionante fotografia em preto-e-branco e pelos movimentos pacientes e sinuosos da câmera. Os véus de lama e chuva não obscurecem o humor macabro de Tarr.
HARMONIAS DE WERCKMEISTER | WerckmeisterHarmóniák | WerckmeisterHarmonies
2000, Hungria/Itália/Alemanha/França, 35mm, 145 min.
Roteiro: BélaTarr, László Krasznahorkai
Fotografia: Erwin Lanzensberger, MiklósGurbán, Emil Novák, Patrick De Ranter, JörgWidmer, GáborMedvigy, Rob Tregenza
Montagem: ÁgnesHranitzky
Música: MihályVíg
Com: DjokoRosić, Ferenc Kállai, JánosDerzsi, Hanna Schygulla, Peter Fitz, Lars Rudolph, TamásWichmann
Sinopse: No meio de um inverno rigoroso, em uma cidade das planícies, um povo estranhamente inativo, dividido e impaciente espera por um circo que apresentará uma magnífica baleia e um misterioso príncipe. Rodado no mesmo soturno mundo rural de “Maldição” e “Satantango”, o filme explora as fronteiras precárias entre civilização e barbárie. Violência e beleza irrompem de modo igualmente inesperado neste fascinante universo.
O CAVALO DE TURIM | A Torinói Ló | The Turin Horse
2011, Hungria/França/Alemanha/Suíça/EUA, 35mm, 146 min.
Roteiro : BélaTarr, László Krasznahorkai
Co-author: ÁgnesHranitzky
Fotografia : Fred Kelemen
Montagem : ÁgnesHranitzky
Música : MihályVíg
With: JánosDerzsi, Erika BókandMihályKormos
Sinopse: “Em Turim, em 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche sai do imóvel da Via Carlo Albert, número 6. Não muito longe dali, o condutor de uma carruagem de aluguel está tendo problemas com um cavalo teimoso. O cavalo se recusa a sair do lugar, o que faz com que o condutor, apressado, perca a paciência e comece a chicoteá-lo. Nietzsche aparece no meio da multidão e põe fim à cena brutal, abraçando o pescoço do animal, em prantos. De volta à sua casa, Nietzsche então permanece imóvel e em silêncio durante dois dias estendido em um sofá, até que pronuncia as definitivas palavras finais (“Mãe, eu sou um idiota”) e vive por mais dez anos, mudo e demente, sendo cuidado por sua mãe e suas irmãs. Não se sabe que fim levou o cavalo.” Esse é o texto de abertura de O Cavalo de Turim. BélaTarr, a partir desse evento de Nietzsche, dá prosseguimento à história, descrevendo minuciosamente a vida do condutor de uma carroça, de sua filha e do cavalo após o acontecido. Este último trabalho do diretor húngaro contém todas as marcas registradas de seu estilo inimitável, incluindo longas cenas, fotografia em preto-e-branco e raro diálogo.
Premiação: Urso de Prata – Grande Prêmio do Júri no festival de Berlim /2011
PROGRAMAÇÃO
25 de junho, terça-feira
19h – coquetel de abertura
20h – O CAVALO DE TURIM | 2011, Hungria/França/Alemanha/Suíça/EUA, 35mm, 146 min.
26 de junho, quarta-feira
20h- HARMONIAS DE WERCKMEISTER | 2000, Hungria/Itália/Alemanha/França, 35mm, 145 min.
27 de junho – quinta-feira
18h -NINHO FAMILIAR | 1977, Hungria , 35mm, 108 min.
20h -MALDIÇÃO | 1987, Hungria , 35mm, 122 min.
28 de junho – sexta-feira
20h- MALDIÇÃO | 1987, Hungria , 35mm, 122 min.
29 de junho – sábado
15h – SATANTANGO | 1994, Hungria/Alemanha/Suiça, 35mm, 435 min.
Obs.: sessão dividida em duas partes devido à duração do filme, com intervalo de 15min.
30 de junho – domingo
15h – NINHO FAMILIAR | 1977, Hungria, 35mm, 108 min.
17h – HARMONIAS DE WERCKMEISTER | 2000, Hungria/Itália/Alemanha/França, 35mm, 145 min.
20h- O CAVALO DE TURIM | 2011, Hungria/França/Alemanha/Suíça/EUA, 35mm, 146 min.
SERVIÇO
O cinema de Béla Tarr – mostra de filmes em 35mm
De 25 a 30 de junho de 2013
Sala P.F. Gastal / Usina do Gasômetro- 3ºandar
Av. Presidente João Goulart, 551
Entrada franca
Com retirada de senhas meia hora antes de cada sessão, na bilheteria da Sala P.F. Gastal
Informações:
Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia
Usina do Gasômetro, 3º andar
Av. Presidente Goulart, 551
Porto Alegre, RS – BRASIL – CEP 90010-120
Fone (51) 3289 8133 e 3289 8137
E-mail: salapfgastal@smc.prefpoa.com.br
Mais informações nos sites:
www.salapfgastal.blogspot.com
www.surrealfilmes.com.br
Realização – Surreal Filmes e Prefeitura de Porto Alegre
Curadoria – Francesca Azzi
Consultoria – Zeta Filmes
Apoio cultural – Embaixada da Hungria-Brasília
Por: bebê baumgarten e milenka salinas/ bd divulgação
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.