Exposição “A alma das casas” de Beatriz Rodrigues no Casarão 2 em Pelotas


“A alma das casas”, um ensaio poético sobre as casas que foram demolidas na cidade de Pelotas.

Beatriz Rodrigues assina a exposição “A alma das casas”, com abertura dia 03 de julho e visitação até 22 de agosto, na Galeria Antônio Caringi, no Casarão 2 da SECULT, em Pelotas.

Após tantas incursões pelas ruínas, era como se estivesse, pela primeira vez, encontrando a alma das casas, morando nos objetos remanescentes da casa-morada-do-afeto; um arrebatamento sensorial, a vertigem do vazio (pleno de sentido) de tantas destruições, impregnadas, ali, na matéria do que restou…

A alma das casas é uma cartografia de passos, imagens e algumas palavras: Uma narrativa visual de deslocamentos no interior do barracão de vendas de uma demolidora em atuação na cidade de Pelotas (Rio Grande do Sul, Brasil) há mais de 30 anos.

Esta mostra é o resultado de um trabalho de pesquisa iniciado em 2011, na então disciplina “Percursos Poéticos”, da especialização em artes visuais da UFPEL, ministrada pela artista visual e Profª Drª Duda Gonçalves, que atua como curadora desta exposição. Em 2012, este projeto foi um dos selecionados no edital de ocupação das galerias da SECULT.

A alma das casas é o desdobramento de um trabalho de pesquisa maior, iniciado em 2004, sobre as ruínas nas cidades da região sul do Rio Grande do Sul. Desde então a fotografia tem sido o meio de conferir visibilidade a estes lugares que deflagram o conflito temporal passado x presente, na realidade do abandono e do esquecimento. Em A alma das casas, porém, o foco não está nas casas em estado de arruinamento, mas nas imagens dos objetos remanescentes das casas que já foram destruídas, e que ainda são vendidos, dotados de um valor mercadológico, expostos no barracão da demolidora.

A experiência na demolidora trata deste arrebatamento sensorial, de perceber o empilhamento das memórias ligadas à matéria “do que restou”. Através das imagens, trabalha-se um ponto em que os objetos sejam compreendidos como uma reminiscência, capaz de trazer a memória da casa como uma metáfora a pensarmos o universo primeiro que constitui a nossa subjetividade – a casa primeira.

Já dizia Bachelard em A poética do espaço: “A palavra hábito está demasiado desgastada para exprimir essa ligação apaixonada entre o nosso corpo que não esquece e a casa inolvidável”. E para quando a casa não mais existe materialmente, o que seria das lembranças deste local que exprime os mais profundos valores de abrigo? Seria a casa apenas um amontado de tijolos, paredes desfeitas e uma regra geometrizada, a impor limites? Os espaços de proteção, as casas, lugares dos sonhos primeiros e das lembranças mais recônditas, nunca deixam de existir. Aquilo que resta da casa, aquilo que permanece, enquanto dotado de um valor econômico, passível de circulação, são os restos de intimidades: desde os azulejos cobertos pelo mofo da constante umidade, até sobras de madeira de armários empoeirados pelo tempo. Estes espaços outrora vivenciados, agora desfeitos, habitando um grande galpão, são os restos desta topografia do ser íntimo, formadoras de uma possível imagem da casa-que-foi.

Esta exposição faz parte da programação em comemoração ao aniversário da cidade de Pelotas, e também fará parte da programação em comemoração ao Dia do Patrimônio, promovidos pela Secretaria de Cultura de Pelotas.

Exposição A ALMA DAS CASAS, de Beatriz Rodrigues.
Curadoria de Duda Gonçalves.
Abertura dia 03 de julho às 19h, na Galeria Antônio Caringi (Casarão 2, da SECULT – Pç. Cel. Pedro Osório, n.2. Pelotas/RS).
Visitação de 04 de julho a 22 de agosto (de segundas a sextas, das 8h às 18h30).
Produção: Murmúrios Azuis – http://murmurios-azuis.blogspot.com.br
Apoio Cultural: Go Image
Realização: Secretaria de Cultura de Pelotas (SECULT)