Coreógrafa pelotense, sediada há 12 anos em Niterói, comemora o sucesso de sua mostra de dança e conta um pouco da sua trajetória.
Texto: @LuciahTavares
Se, para ser um ícone é preciso possuir uma relação de semelhança com o que se representa, posso afirmar com convicção que o artigo em questão trata de um ícone da dança, de Pelotas a Niterói, pelo Rio, pelo Brasil… Trata-se da pelotense Anaí Sanches, bailarina, coreógrafa, professora de dança que está há 12 anos sediada na cidade de Niterói.
Ao longo de uma turbulenta semana de copa convivemos juntas entre passeios e conversas informais, surgiam às perguntas sobre a sua carreira. Como passeávamos por Niterói começamos nosso papo falando das atividades que está desenvolvendo no momento. E me contou sobre as aulas que ministra em diversos espaços de Niterói, do grupo que coordena e que leva seu nome, do filme que contou com uma coreografia sua e ainda sobre suas classes personalizadas, entre elas a que desenvolve com uma garota com síndrome de down. Quando eu já estava sem fôlego, ela com a agilidade de um salto, a rapidez de uma pirueta, me diz:
“Ah e estou organizando também mais uma edição do Dança Icaraí, que este ano completa dez anos.”
Icaraí é o mais tradicional bairro de Niterói, e seu festival reúne apresentações de mais de 20(vinte) escolas e diversos coreógrafos, entre estes a presença constante de Natasha Calabria, Rosane Parreiras e Lilia Almeida.
“A mostra cresceu ao longo de dez anos e junto com isto a responsabilidade.”
Em meio as nossas conversas, a todo instante o Iphone, chamando: trabalho, apoiado também na tecnologia… Músicas para incluir em suas coreografias, enviadas por alunas e amigos, fotos e ideias de cenários… num instante o papo era sobre toda a produção que precisa empreender para que ao final do ano tudo saia perfeito… Da maquiagem ao telão,das cores dos figurinos ao gênero de cada coreografia e onde estes se inserem dentro da mostra… passo a passo, fui entrando no ritmo… Pude perceber a rotina de vida desta pelotense espetacular de dentro da cena, e as mil e uma nuances que darão a tônica ao X Dança Icaraí, que embora aconteça só em dezembro já vai de vento em pompa. Uma risada a mais e pronto, demos um salto mergulhando noutro tempo, da vista deslumbrante do Parque da cidade em Niterói para o palco do Teatro Sete de abril, na terra natal,lembranças de festivais, cenas da vida real,o início de sua formação com dança… Como a contemporaneidade é fragmentada abaixo apresento ao público informações provindas de nossas conversas, um pouco da vida desta fantástica artista pelotense!
A FORMAÇÃO
A base de sua formação aconteceu em Porto Alegre-RS entre os anos de 1981 e 1988. Iniciou com ballet clássico e posteriormente estendeu seus estudos na área de Jazz dance, street dance, dança contemporânea e alongamento. Conta-me que os 8(oito) anos que viveu na capital gaúcha foram decisivos para definir seus rumos na dança. Em Porto Alegre teve a oportunidade atuar junto a Jonas Moura, carioca que recém havia retornado dos Estados Unidos e trouxe consigo as tendências do que a época havia de melhor do jazz. E diz:
” …a base do que iniciei trabalhando veio deste contato com jazz puro, que posteriormente desenvolvi exaustivamente na minha terra natal e que foi levado adiante por alunos que até hoje trabalham o jazz em Pelotas…”
Mas ela não parou por aí, ao contrário, sua formação diversificada teve entre mestres como Lennie Dalle (USA), Vilma Vernon (SP), Roseli Rodrigues (SP), Carlota Portela(RJ) , Marli Tavares (SP) apenas para citar alguns.
PELOTAS & FESTIVAIS
Em 1989, de volta a Pelotas, fundou a Free Jazz Company, academia de dança que funcionava na Rua Osório e que foi a sensação da dança do período…
“Em 1992 fui trabalhar na Cia da Dança…”
O tempo que atuou em Pelotas destaca ter sido de suma importância:
“Lá realizar uma montagem sempre foi sinônimo de parceria. Para levar à cena os espetáculos de fim de ano, contava com a boa vontade de colegas de profissão. Eram ótimos profissionais, mas tudo era feito de maneira amadora, não no que tange a qualidade técnica dos espetáculos não! O grau dos bailarinos da nossa terra natal sempre foi elevado, mas em relação a cobrir os gastos relativos aos espetáculos mesmo… era na raça, com muito jogo de cintura e criatividade… e isso sem dúvidas foi o que fez a diferença no período que atuei lá.”
E lembra que não foram poucas as vezes que cenários eram pegos emprestados de outros grupos ou tingidos em madrugadas insones. Esta força da coletividade que tinham os trabalhos em Pelotas pode ser vista em diversos festivais onde a Cia. da dança recebeu prêmios, entre eles Bento em Dança, Festival do Mercosul, Prêmio Sogipa, POA in dança, FESTIDANCE- São Paulo, entre tantos espetáculos e coreografias ela destaca a participação no Festival de Danças de Joinville em 1996, Duo Contemporâneo, “Busca” por Marcelo Lages e Pedro Sanches Filho, e a Coreografia “Comum de Dois” dançada por Diego Porciùncula e Fabíola Reginatto que ganhou destaque de duplas no Festival do Mercosul em 1996.
Orgulhosa de seus feitos na terra natal, destaca ainda o trabalho realizado junto ao extinto Centro Coreográfico Sete de Abril, na década de 90, entre eles “Amálgama”, “A Flor do Sal” e “Intrusa”, espetáculos dirigidos por Otávio Augusto e que contavam com os melhores profissionais de dança de Pelotas.
Em 2000 coreografou a Ópera Carmen, de Bizet, que foi apresentada no Theatro Guarany, com a presença de solistas de renome no Brasil e exterior, entre estes: Regina Helena Mesquita (Diretora do Teatro Municipal de São Paulo), o barítono italiano Rio Novello, a soprano Rita Continuo e a OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre). Em Pelotas foi ainda Vice-Presidente da Associação de Dança Pelotense (Gestão 1999) e membro do Conselho Municipal de Cultura. No Theatro Guarany consta uma placa em reconhecimento ao seu trabalho. E sua arte deu diversos frutos ela cita alguns, como Igor Vieira, atualmente no Ballet da cidade de São Paulo, Marcelo Lages (que teve artigo sobre sua trajetória já publicado no E-cult em abril de 2013), do DC e do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Jean Coll e Diego Porciúncula, a frente da Pless Studio em Pelotas, Thais Coelho, que também dança na Pless Studio e em Porto Alegre, Tavane Viana a frente do Primeiro ato núcleo de ginástica e dança, também de Pelotas e sua filha Cássia Sanches, que atuou por dois anos no Grupo Tholl e ministra aulas no Rio e Niterói.
As palavras de Jean Cool, diretor artístico e coreógrafo e um dos idealizadores da Pless Studio, define bem a importância de Anaí Sanches, também como fomentadora da dança:
“A presença de Anaí na minha vida, foi determinante para que eu calçasse minhas primeiras sapatilhas aos 17 anos. Hoje, com 40 anos elas não saem do meu pé. Ela é minha eterna mestra.”
E Igor Vieira hoje no Ballet da cidade São Paulo diz:
“(…) foi a pessoa que trouxe a dança para minha vida. Sempre a tive como um grande referencial e nunca duvidei de suas palavras. Ela me ensinou a unir os passos, a colocar as pessoas em cena, a como dar aula e a construir um espetáculo. Até hoje tenho alguns ‘toques’ da Anaí(…) inteligente, sincera e gentil.”
NITEROI
Em Niterói estabeleceu-se em 2002, dedicando-se inicialmente a dar aulas infantis, mas já em seu primeiro espetáculo apresentado em terras fluminenses diz ter recebido uma surpreendente aceitação por parte do público e de participantes. Daí em diante percebeu que seu trabalho recebia a aprovação, ganhava vulto e o aumento da abrangência de sua atuação foi apenas consequência. O que a levou a formar o Grupo de dança Anaí Sanches, que anualmente realiza uma mostra coreográfica com diversos trabalhos, sob sua direção e participou de diversos Festivais entre eles Festival Nacional Darcy Dutra Porto/RJ.
“Atualmente sinto meu trabalho plenamente valorizado em Niterói e posso executá-lo com serenidade, o costume local de ser cobrada uma taxa de participação, para integrantes ainda não profissionais, nos espetáculos dá uma tranquilidade e segurança de levar a cena um espetáculo com qualidade.”
Segundo a coreógrafa este fato faz bem também a autoestima:
“como artista é sempre satisfatório trabalhar quando se tem aceitação e apoio, sem precisar envolver-se constantemente com a burocracia das leis de incentivo.”
Ministra aulas na BAMO-Ballet Ana Maria Olive, Dupuy Studio de Danças e em várias outras escolas, além das aulas personalizadas. Em 2009 uma de suas coreografias serviu de inspiração para o filme “Canções em mim” de Jocimar Dias Jr.
Ao observá-la em sua rotina entendo a importância do reflexo desta segurança em suas atitudes, mas é inegável que há algo mais forte que permanece desde que dedicava -se de corpo e alma a dança pelotense, o amor incondicional a arte que escolheu trilhar, o que a faz mais que uma simples professora de dança, uma bailarina, uma guerreira… Digo que quando crescer quero ser assim exatamente como ela: um ícone… Uma DIVA! Mas por enquanto, como mera mortal, me conformo em ser testemunha ocular de sua história, em Pelotas e por aqui, em tentar acompanhar uma de suas aulas, surpreender-me com sua perseverança e é claro, escrever estas palavras…E sobretudo aplaudi-la com a devida elegância e força das mulheres de nossa doce terra… Bravíssima!
Para acompanhar os passos desta pelotense é só acessar a página no facebook: Grupo Anaí Sanches
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Luciáh Tavares é correspondente do e-cult Mídia Ativa, atriz profissional, dramaturga e blog writer. Cursou Bacharelado em Interpretação Teatral na UNIRIO- Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro.
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.