Frisson: Nova Dubai – O Trash Humpers tupiniquim


Foto: Divulgação

Por Mateus Neiss

Um dos recursos narrativos cada vez mais utilizados no Cinema Independente nacional é o hibridismo das relações estabelecidas entre ficção e documentário. Em “Nova Dubai” Gustavo Vinagre se apropria de tal ferramenta e decide explorar novamente a temática do sexo e suas nuances, ao mesmo tempo que estabelece um confronto com as paisagens urbanas crescentes em cidades interioranas.

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O média (com aproximadamente 56 minutos) se passa na cidade de São José dos Campos (São Paulo), em específico no bairro onde o diretor (e protagonista) passou sua infância e adolescência. É justamente devido ao sentimento de desconforto ao deparar-se com seu lugar de infância sendo tomado pro obras megalomaníacas e gigantescas que Gustavo Vinagre e seus amigos decidem fazer um filme onde esses espaços sejam discutidos e, de quebra, usam o explicistimo sexual como uma manifestação de ultraje a esse fenomêno social. Uma chance ideal para promover a reflexão em torno de assuntos como gentrificação e comportamento humano, mas que se perde em meio a tanta vaidade e auto-promoção por parte da equipe idealizadora do projeto.

Uma clara referência ao filme é, justamente, o b-sider “Trash Humpers” (lançado por Harmony Korine em 2005), o qual apresenta a proposta de inserção de personas psicóticas em meio a espaços urbanos, públicos e privados. Enquanto em Trash Humpers a concretização desse impulso inicial é de fato coesa e possessor de uma atmosfera única, Nova Dubai soa como uma miscelânea de possíveis narrativas que não chegam de fato a lugar algum.

A frustração é contínua conforme a projeção se estende, não só pelo fato de todas as propostas de debates não tomarem forma, mas também por se levar em conta o histórico de Gustavo Vinagre, que possui em seu currículo um dos filmes mais interessantes de 2012 – Filme Para Poeta Cego – e que, de forma maestral, explora o sexo como ferramenta narrativa.

Em determinado momento do filme, Caetano Gotardo (diretor do longa “O que se move”) interpreta um corretor de imóveis que apresenta um apartamento para os protagonistas, os quais estão ali exclusivamente para a realização de mais um de seus fetiches sexuais. Um belo plano apresenta, da sacada desse imóvel, o verde campo que dará espaço para novas moradias. Trata-se da oportunidade ideal para maturar a proposta de intervenção civil em meio a sexualidade e que não se concretiza, mais uma vez, pois abre espaço para sequência de primeiros planos em uma sessão de “gag on fag”. O tão essencial espaço geográfico é mais uma vez engolido em nome de um capricho pueril.

O gratuito de forma alguma soa desnecessário, o choque e desconforto provocado é de fato uma das grandezas do média e Gustavo Vinagre é feliz na super exposição daquilo que continua tabu no cinema nacional. A questão é que tanta alegoria acaba por não chegar a um objetivo maior e, no final das contas, um filme com extrema grandeza social acaba por se comprovar frívolo e desinteressante.

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