Sobre Corra, Lola, Corra (1998) | 24 Frames de Literatura


Pequenos orçamentos podem nos trazer grandes e boas surpresas.

Por Cássia Benemann da Silva

Uma grande produção não é sinônimo de um grande orçamento, ou até mesmo de uma grande bilheteria.Uma grande produção está diretamente relacionada com a qualidade do produto final e com o impacto causado no espectador. Assim, partindo dessa premissa, deparamo-nos com Corra, Lola, Corra (Lola Rennt, 1998), uma produção alemã dirigida por Tom Tykwer e orçada em US$ 2 milhões, valor baixo em comparação as grandes produções do cinema atual. Bom, de qualidade e empolgante, Tykwer não precisou de muito dinheiro para fazer um excelente trabalho. Lola Rennt traz uma narrativa, em certo ponto, diferente das que estamos acostumados; o filme começa três vezes e termina três vezes, com três inícios iguais, mas o desenrolar e o desfecho são diferentes. Temos um filme cíclico, no qual a jovem Lola tem três chances de salvar a vida de seu namorado Manni, e essas três chances duram apenas 20 minutos.

Apesar da trama girar em torno da jovem, ela não é a principal personagem da história. Esse papel cabe ao tempo, é ele quem ditará o desdobrar dos finais, todos os outros são secundários e estão à mercê dele. Para o desenrolar da história, pouco importa o caráter e as ações das personagens, o que importa é o que elas fazem com o tempo e quanto dependem dele, tanto que o último dos finais só beira ao feliz devido ao fato de Lola ter pedido ajuda ao tempo e não apenas ter tentado vencê-lo. O tempo é o narrador em off, mas que tudo vê, tudo sente e pode contar os fatos como ele bem entender e quantas vezes for necessário, ele o dono da história. Lola, os ponteiros do relógio, as demais personagens funcionam quase como viajantes do tempo que circulam entre as três narrações (como o guarda do banco que comenta com Lola, na última narração, que ela está atrasada) e a trilha sonora frenética: o tic-tac.

Rápido, ágil, moderno, surpreendente e redondo. Um filme pós-moderno, que fala várias línguas (cinema, vídeo, música, animação, videogame) ao mesmo tempo, mas que não apresenta grandes questionamentos ou necessita de uma longa reflexão; é uma obra de consumo imediato, vai desde o drama que a mocinha morre no final até uma sessão romance no estilo Bonnie & Clyde. Uma produção que brinca com o destino, nada acontece por acontecer, tudo pode mudar a qualquer momento. Um excelente produto de origem alemã que não fez e nem faz parte do circuito comercial de cinema, mas mostra ser inovador, tecnológico, capaz de despertar curiosidade e de render bons frutos (cultural e monetariamente). Corra, Lola, Corra só é o que é devido ao seu baixo orçamento e foi este quem deu a liberdade criativa necessária para a construção de um boa história – coisa que Tykwer talvez não conseguisse tendo produtores e um orçamento maior por trás de tudo. Quando falamos de arte, falamos de qualidade e não de preço, tudo é muito variável.