Músico gaúcho finaliza canções do Prêmio Ibermúsicas e parte para novos desafios em outro continente.
No último fim de semana, o cantor, violonista e compositor LEANDRO MAIA apresentou o repertório do disco Suíte Maria Bonita e Outras Veredas (lançado em POA e Pelotas em novembro passado) em show em São Paulo, no Sesc Ipiranga. O espetáculo contou com a participação do virtuoso pianista fluminense/paulista André Mehmari e outros tradicionais parceiros, como Sérgio Santos. Foi sua última apresentação formal, com banda (Luke Faro e Neymar Dias), em um palco brasileiro.
No próximo dia 27 de setembro, Leandro viaja para a Inglaterra, contando com bolsa da Capes para Doutorado Pleno no Exterior. O músico vai estudar, justamente, “Canção”. O título do projeto dele é “Poetics of Song: Creative Processes of Brazilian Songwriting” (Poética da Canção: processos criativos da canção popular brasileira). O gaúcho realizará o PhD na School of Music and Performing Arts da Bath Spa University e tem o retorno para o Brasil marcado somente para outubro de 2018.
Antes da despedida, Leandro esteve envolvido com a finalização do Prêmio Ibermúsicas, no qual foi contemplado em 2014. Ele recebeu US$ 6 mil para compor seis canções de gêneros populares. Foi escolhido um compositor de cada país ibero-americano. Uma das inspirações foi o seu casamento “oficial”, em maio último, com a artista Maria Falkembach, com quem tem o pequeno Gonçalo, de 6 anos – o mote do disco anterior, Mandinho.
A música Aboio será incluída em uma coletânea do concurso, a ser lançada na Argentina, com produção de Fer Isella – que já produziu Mercedes Sosa e outros. “É uma das minhas preferidas. Um blues, milonga, com impostação de voz mais gaúcha, mas muito misteriosa. O violão é afinado em “afinações preparadas”, como diria o Vitor Ramil, e realmente me inspirei nas suas afinações para fazer este tema. Gosto muito”, conta o premiado Leandro. Para ouvir: https://soundcloud.com/leandromaia/aboio-leandro-maia.
Seu último trabalho de estúdio distribuído pela Tratore, Suíte Maria Bonita e Outras Veredas, teve o projeto contemplado pelo Prêmio Funarte de Música Brasileira em 2013. Ficou entre os 10 melhores discos lançados em 2014, segundo os críticos consultados por Zero Hora (RS) e na posição 42ª na coletânea dos “Melhores da Música Brasileira 2014”, levantamento feito pelo Embrulhador. Teve, também, a faixa Luzidia considerada uma das 10 canções para serem ouvidas antes de 2015 começar, pelo blog Pampurbana.
Ainda, a parceria entre Leandro Maia e Vitor Ramil Eu-nuvem, presente no mais recente CD, integra a coletânea MPB Brazil: Samba, Bossa Nova and Beyond, lançada neste ano, 2015. Fazem parte deste álbum importantes nomes do cancioneiro nacional, como a banda gaúcha Apanhador Só e os cantores Zezé Motta, Julia Bosco, Gilberto Gil e Marjorie Estiano.
Como projeto futuro, o compositor gaúcho Leandro Maia – que assinou recentemente a trilha do espetáculo de dança-teatro Destecendo Penélope Bloom – afirma estar trabalhando em um espetáculo cênico-musical sobre Barão de Itararé, uma homenagem: “É um projeto para os próximos anos”.
Confira a entrevista com o autor sobre as composições do Prêmio Ibermúsicas:
PERGUNTA – Quais as inspirações que nortearam a “feitura das seis composições sem fronteiras” do prêmio?
LEANDRO MAIA – Estou chamando de “seis singles para casar”, pois são, de certa forma, canções que fiz para o meu casamento; são de amor, de alguma maneira. São canções que unem as identidades do meu primeiro disco, Palavreio, e o último, Suíte Maria Bonita e Outras Veredas, pois entra o toque cantautor ainda com o lance do feminino. Ia, Mulher Passarinho, Tempo é timing, Perto de Você, Aboio têm uma celebração ao casamento, em certa medida. Singles, porque são unidades desconexas, “solteiras”, mas compostas neste contexto de quem se casou.
P – Quando elas foram compostas? Antes e depois do teu casamento, em maio de 2015?
LM – Infinito e além – Ia (apelido da esposa) fiz para o casamento, mesmo. Cantei no casamento, inclusive, e ela dançou esta valsa em que toco piano. Obviamente, mal. Mas e daí? Para agradar o tempo é mais antiga, a primeira de todas – um samba para celebrar Chronos e baixar minha própria e característica ansiedade. Perto de Você, Mulher Passarinho e Teu Tempo é Timing (ou Os Milagres do Barão de Itararé) são mais recentes. Já tinha saído a confirmação da bolsa para o doutorado na Inglaterra, por exemplo, e a necessidade de entregar logo o prêmio. Compus muito rápido. Para receber o prêmio, precisava estar no Brasil, ainda. Foram as minhas “férias de julho” que não tive, em meio às preparações para a viagem e a finalização do áudio de Destecendo Penélope Bloom, que entrou em cartaz em agosto. Uma loucura, para falar a verdade.
P – E como ficam os planos como músico, com a estadia por três anos na Inglaterra para estudos?
LM – Estou muito feliz com o resultado das composições, que apontam para um novo futuro disco em breve. Teu Tempo é Timing (ou Os Milagres do Barão de Itararé), por exemplo, é uma canção que eu estava tirando do repertório, porque não me convencia. Desenvolvi através de insights. O violão mistura um arpejo de Villa-Lobos (Prelúdio 2), mas transposto para um blues, ‘roquinho’. A canção atribui ao Barão de Itararé o Status de Santo (Santo Apporelly) e brinca com as novidades do novo Papa. Joga com humor, irreverência, anarquia e uma certa polêmica.
P – Por que mudaste de ideia sobre este tema?
LM – Até que assumi a homenagem ao Barão, sendo que o Papa veio como uma anarquia final, um devaneio e um registro do momento atual do papa, quem diria, latino pra frentex. Antes era só o trocadilho “tempo é timing (tá em mim)”. Foi a Maria [Falkembach, a esposa] que me incentivou a não abandonar a canção. Agradeço a ela. O espetáculo cênico-musical sobre a obra do Barão de Itararé é um projeto para os próximos anos, podes anunciar.
Sobre Leandro Maia:
Cantor, violonista e compositor, teve seu CD de estreia, Palavreio, lançado em 2008, premiado com o Açorianos de Música de Revelação. Também educador musical, lançou em 2013 seu segundo disco, intitulado Mandinho – Prêmio Açorianos de Música de Melhor Disco Infantil e indicado a Melhor Espetáculo do Ano. Em 2013, na Feira do Livro de Porto Alegre, lançou Palavreio em formato de obra de poesias, um livro-CD, pela editora Mediação. Em 2014, apresentou seu terceiro trabalho de estúdio, Suíte Maria Bonita e Outras Veredas, produzido por André Mehmari. Professor de Música na Universidade Federal de Pelotas, também é Mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS. Mais sobre o autor em www.leandromaia.com.br.
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.