Raiz do Samba – Arte e Inspiração


Foto: Gil Facchini

O grupo estreou esse ano, mas os músicos integrantes do Raiz do Samba já somam longa experiência. Eles possuem carreiras consolidadas em diferentes estilos, mas, nesse novo projeto, juntaram-se e uniram seus talentos para homenagear os grandes clássicos do samba.

“As Rosas Não Falam”, mas se assim o fizessem, quantas e quantas histórias teriam para contar, não é mesmo, Cartola? A morena “Faceira” de Ary Barroso, “Jura” ao Sinhô que encontrou, nas rodas de batucada, o seu lugar no mundo. Ela também poderia se chamar Rosa, assim como outras tantas Rosas, outras Marias… E a “Marina”, de Dorival Caymmi? Ah!…Essa não pode faltar! Sabem por quê? Porque hoje é dia de batucada!

Foto: Gil Facchini
Foto: Gil Facchini

Todos irão render-se ao ritmo envolvente do lundu africano com a polca européia e a habanera hispano americana. No balanço do maxixe, resultante dessa mistura, irão mexer, saculejar a noite inteira. Noel Rosa já avisou que a festa vai “Até Amanhã”. E, cá entre nós…Não sei por qual motivo, mas estou achando que isso vai dar samba!
História, cultura e tradição naquele que é considerado por muitos artistas, críticos e historiadores, a matriz da nossa música popular. O samba! E para homenageá-lo, bem como àqueles compositores que tanto contribuiram para a fixação da nossa identidade nacional, o violonista e cavaquinista Thiago D’Ávila, do Raíz do Samba, é nosso entrevistado de hoje. Ele fala da paixão pela música e sobre esse grupo que anda agitando a nossa doce princesa do sul.

A Paixão Tem Memória
O mulato já está a postos com seu pandeiro, chocalho e violão. A castanhola já avisou que vai chegar e o berimbau não quer ficar de fora. O pandeiro e o tamborim? Esses foram os primeiros a chegar. Tem sido assim desde os tempos da Bahia, nas danças, encontros de celebração e religiosidade dos negros escravos que ali chegaram. No Rio de Janeiro do século XIX, nossos representantes dessa cultura, vindos de vários lugares do Brasil, não perderam o seu gingado. Seja na Praça Onze ou nas casas das tias baianas, o balanço não podia parar. Nem perder o ritmo! Tia Ciata mandou chamar e o cavaquinho chorou!

Mais de cem anos depois, o cenário é a nossa querida Pelotas. Ela até pode ser a cidade do doce, mas também é terra de muito samba. Sendo assim, de antemão, já vou avisando…Não se preocupem! Pois a festa continua garantida e o convite ainda está de pé. Mas agora, pelas mãos do Raíz do Samba, um trio apaixonado pelo gênero que estabeleceu-se como tal em meados das décadas de 1910 e 1920.

Thiago D’Ávila morou no Rio de Janeiro durante oito anos. Lá, graduou-se em Música pela Universidade Federal (UFRJ) e trabalhou com diversos grupos, tanto de samba de raíz, quanto de forró e rock. Washington Rodrigues, pianista clássico, atua também como professor de piano na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Quanto a Douglas Ribeiro, no cicuito musical da noite pelotense, é bastante conhecido e requisitado.

Unidos na mesma paixão pelo samba, a ideia é remontar o clima e o repertório das rodas de samba da era de ouro da música popular brasileira, diz D’Ávila, idealizador do projeto, fomentado em 2015, assim que voltou do Rio de Janeiro. Na cidade maravilhosa, o músico trabalhou durante dois anos numa casa de samba raíz chamada Estação da Glória, onde teve contato com diversos músicos oriundos do estilo, relembra. “Nesse trabalho me apaixonei pelo repertório de samba. Esse projeto é uma demanda desse amor que cultivei durante anos nos sábados de rodas de samba”.

Além de valorizar os grandes poetas do samba, o grupo também imprime ao repertório sua identidade e características próprias, regadas a uma sólida formação acadêmica e popular. Na dedicação à pesquisa do samba raiz, alguns números inusitados do brega e até mesmo do rock enriquecem o repertório. Outra particularidade que chama a atenção está no uso do piano na execução das músicas tocadas pelo grupo. O músico observa a possibilidade de alguns considerarem, num primeiro momento, algo não muito usual quando o assunto é samba de raíz tradicional. No entanto, segundo ele, ao aprofundarmos nossos conhecimentos sobre o gênero, veremos tratar-se de uma visão um pouco precipitada.

São as influências anteriores dos músicos refletindo nos clássicos do samba e proporcionando-lhes uma nova roupagem sem perder a sua essência. “Algo importante no nosso trabalho é que buscamos uma sonoridade acústica com piano, pandeiro, violão e cavaco. Quem presencia nossa apresentação vê e escuta algo como em tempos antigos, tanto na sonoridade quanto no figurino, o que faz a apresentação também ter um caráter teatral”, declara Thiago D’àvila.

O Ritmo Que Faz o Brasil Vibrar
A origem da palavra samba parece ainda não ter encontrado um consenso. As opiniões divergem, mas dentre os estudiosos e especialistas, algumas possibilidades aparecem como sendo as mais prováveis. Para o pesquisador Marcos Alvito, uma das possíveis origens estaria na etnia quioco, na qual o termo samba significa cabriolar, brincar, divertir-se. Outras tribos africanas também disputam a estatueta, onde “sam” significaria “dar” e “ba” “receber”. Temos aqueles que afirmam originar-se na lingua árabe, como “Zambra” ou “Zamba”, a partir da invasão dos Mouros na Península Ibérica no século VIII. Porém a mais aceita dentre as teorias, atribue esse mérito às danças nupciais angolanas, caracterizadas pela umbigada, nos rituais de fertilidade. Viria de semba, tradução para umbigo ou coração.

Bem, teorias a parte, quando o assunto é música, a contribuição do samba é imensa. Grandes poetas e suas composições inesquecíveis, fazem parte do imaginário nacional, celebrando os encontros, embalando sonhos e amores. Nesses Brasis de tantos ritmos, o samba é a síntese da alma verde-amarela. O Raiz do Samba que o diga. O grupo reverencia os mestres de outrora e suas grandes obras. Paulinho da Viola, Ataulfo Alves, Adoniran Barbosa e Lupicínio Rodigues são alguns dos nomes de peso que figuram dentre os homenageados por eles. Thiago D’Ávila revela que na escolha das canções que fazem parte do show, a satisfação de tocar o que gostam transparece na execução do repertório e, principalmente, na troca com o público. “A escolha do repertório é algo absolutamente prazeroso, pois se trata de uma pesquisa não no sentido chato e acadêmico, mas sim uma atividade divertida, emocionante e gratificante”.

Agora você já deve estar se perguntando quando e onde poderá conferir o som dos rapazes, não é mesmo? Pois na quinta-feira (19), às 18h00min, na Banca 42 do Mercado Público, eles farão um show no Mercado Público de Pelotas. Se depender do clima de união e das expectativas do grupo quanto a essa apresentação, pode ter certeza que ela promete! O porta voz do Raiz do Samba diz que o público poderá ouvir os sambas antigos, com letras sagazes e inteligentes, dos clássicos compositores. Acredita que será uma apresentação muito agradável, pois o local escolhido é um lugar bonito e tradicional ponto de encontro da cidade.

Em meio ao trabalho de produtor musical e já separando as próximas canções a serem ensaiadas, Thiago D’Ávila declara seu amor à profissão e o prazer de estar no palco com seus colegas de trabalho. “Entendemos que somos operários da música e dividimos no palco aquilo que trabalhamos no dia a dia. Somos músicos integrais e totalmente dependentes dessa atividade, seja profissionalmente e psicologicamente. Nossa dependência é o que nos move e nos faz continuar em frente. “