Idealizada em 2012 pela Casa Fora do Eixo, com o intuito de fomentar a cadeia produtiva cultural através do trabalho colaborativo e da economia solidária, dia 24 de março a organização estará realizando sua 61ª edição.
Sofá é mesmo uma palavrinha gostosa de se ouvir, concorda? Duas sílabas e uma infinidade de significados em meio a uma porção de sentimentos. É no sofá que curtimos aquele momento do qual esperamos tanto, no final do dia. É nele que reunimos amigos, nos aconchegamos junto às pessoas queridas, junto de quem amamos, nas horas de lazer, diversão e criação. Ou, simplesmente para jogar conversa fora. Importante mesmo é o sabor daquelas horas tão especiais, as quais gostamos de preservar e reviver a todo instante, sempre que possível.
Porém, chega um momento em que o sofá fica pequeno, tamanha a vontade de dividir algo de bom e significativo, não somente com aqueles que estão próximos, mas também com todos que vierem. E sabe qual o motivo? Porque quando se trata de arte não há limites nem fronteiras. Este é o caso do Sofá na Rua, que iniciou em Pelotas, mas hoje em dia já acontece em outras localidades, como SP, Minas, RJ e Bahia.
No Espaço Público. A Democratização da Arte
A ocupação dos espaços públicos de Pelotas, como ambiente de realização do Sofá na Rua, traz consigo a motivação maior de todo fazer artístico. Reinterpretar o mundo, reviver novas potencialidades, assimilar o ambiente e nutri-lo de um novo olhar. Resinificá-lo, construir e interagir no espaço. Uma grande intervenção artística em que a obra acontece a partir da atuação do espectador junto do artista, numa linguagem que somente a arte proporciona.
Trata-se de, segundo o texto do projeto: “movimentar e estimular a criação, produção, divulgação, socialização e acessibilidade às manifestações artísticas e culturais, não como um processo finito, mas como uma ação integrada e articuladora, tanto pelo seu conteúdo cultural quanto pela maneira como se apresenta”. Significa oportunizar acesso às artes, produzir cultura, e legitimar um lugar que, por ser estratégico, também converge-se em espaço educativo e político cultural.
Outra característica dessa convergência cultural é a constante renovação, recriando-se a cada nova edição. “Quando o projeto nasceu não se tinha ainda um desenho bem definido, nem a pretensão de criarmos um produto. A ferramenta do Sofá é uma fórmula que se transforma mensalmente”, observa a produtora executiva, Isadora Passeggio. “O evento é efêmero. O que fica é a memória e a vivência. Existe uma construção simbólica e imaterial que pode ruir a qualquer momento se nos apoiarmos no que ele foi e não no que ele é ou pode vir a ser. O Sofá está em nosso imaginário e na nossa paixão. Não existe estabilidade nesse trabalho, é uma batalha constante para mantê-lo vivo”, afirma.
A Cultura Está Na Rua
Para os idealizadores do Sofá na Rua, a compreensão de que o espaço tem caráter inclusivo e democrático, dispõe o livre acesso da cultura à população. Além disso, atua na formação e fortalecimento dos artistas locais, no entendimento de que a rua não somente serve de palco para as diversas manifestações artísticas e culturais, como também faz parte dela, nasce com ela. Resgata sua essência através de uma economia criativa e solidária de autogestão da produção cultural. Nesse sentido, converge-se em mola propulsora para a criação, consumo e, por conseguinte, a distribuição das riquezas centradas, sobretudo, na valorização do ser humano, a partir da igualdade.
Segundo Passeggio, o evento traduz um misto de sentimentos e, por conseguinte, significações. Trata-se de algo visceral, que desacomoda, desafia e, ao mesmo tempo, transborda, em sua fala apaixonada e orgulhosa ao ver o resultado desse trabalho.
Mída Livre. Livre Arte.
Uma parceria de fazer história. Uma dupla imbatível. A união mais que certeira. No Sofá na Rua, arte e mídia livre e independente atuam juntas nas produções de narrativas dos eventos, em tempo real. Possuem conteúdo informativo e reflexivo sobre os acontecimentos, provocando ativismo e mobilização sócio-cultural. Nesse ambiente de fazer acontecer, designers, cobertura fotográfica, narrativa do evento e produção de teasers, entre outros, reforçam a estrutura do evento, a cada nova edição.
Para tanto, solidários à causa, uma gama de redes, dos mais variados segmentos, garantem a viabilidade de hospedar os agentes culturais em circulação pelo Brasil e no mundo, proporcionando a “otimização dos recursos humanos, financeiros e naturais”, consta no projeto. Ele integra uma rede de hospedagem, composta por casas que garantam o atendimento de agentes culturais em circulação por países da América Latina, expandindo-se para outros continentes”.
Clima Intimista
O Sofá na Rua chegou à sua 60º edição. Atualmente é desenvolvido na região do porto de Pelotas, propondo-se a apresentar essa região da cidade como um pólo cultural, encontrando em meio às ruínas de fábricas abandonadas a ludicidade necessária para novas criações. Proporciona à população um espaço para mostrar trabalhos, expondo diferentes tipos de produtos, além de compartilhar arte e cultura. Leva às ruas os sofás, que promovem um clima intimista e confortável de trocas de vivências, saberes e fazeres culturais, numa prática inovadora e singular, sendo gratuito e aberto para todas as faixas etárias e tribos compartilharem experiências, valorizando a cultura local.
“O Sofá é resistência, é união, é paixão, é respeito, é diversidade, é transformação. O atuador deve ser lúcido e ambicionar mudar a sociedade, percebendo como primeira e urgente a transformação de si mesmo”, observa Passeggio. Ela defende que a cultura de rua e o acesso gratuito é, por si só, um trabalho de contrapartida social, pois vai ao encontro de seu público, levando a arte e seus artistas para uma comunidade que, poucas vezes teria o mesmo acesso. A rua é um espaço democrático onde só ali é possível refletir a sociedade conforme ela se organiza e criar novos mecanismos de atuação e transformação.
Passeggio não desvincula o evento de seu caráter político, na forma como é concebido. Em função disso, revela que o Sofá já foi mal compreendido, mas que isso não é algo com o qual os idealizadores se preocupem. “Desde que o Sofá surgiu, sempre enfrentamos críticas. E elas serão sempre bem vindas para que possamos nos reavaliar, refletir sobre o nosso funcionamento. Seguiremos sendo políticos, atuando na rua, usando a arte como uma ferramenta de reflexão e de possível transformação social”, afirma.
É importante frisar que além do compartilhamento colaborativo de todas as etapas de criação e produção artística e cultural, o evento oferece gratuitamente atividades de capacitação, como oficinas e exibições de filmes, de modo a facilitar debates e diálogos, gerando empoderamento e contribuindo assim para a formação crítica dos cidadãos. Nesse sentido, destaca-se também o Sofazinho, desenvolvido por Passeggio, focando em trabalhos artísticos com crianças.
O Sofá tem parcerias na produção com diversos coletivos, espaços e movimentos sócio-culturais de todo o país. Além disso, todo apoio é sempre bem vindo, ajudando a fortalecer a cultural local.
No dia 24 de março de 2019, o Sofá na Rua pede passagem, mais uma vez! Marque na sua agenda e venha celebrar esse evento que une a cidade em uma só corrente, uma só paixão… A paixão pela arte! E nessa união a química é mais que perfeita!
SOFÁ NA RUA EM NÚMEROS
– Edições Realizadas: 60
– Bandas Circuladas: 163
– Brechós parceiros: 15
– Rede de Foodtrucks: 12
– Exibição de Filmes (Compacto.Cine): 21
– Apresentações Cênicas: 36
– Público Atingido: Cerca de 72.000
– Hospeda Cultura: 195 hospedagens de artistas, produtores e mídia livristas de toda América Latina.
– Oficinas: 40
– 19 Postvs
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