O dia da mulher é simbólico porque é um dia que representa toda a nossa luta por direitos. Ao contrário do que nos ensinaram, não é um dia de ganhar presentes e flores, mas sim um dia de protestos e manifestações, porque nós ainda precisamos reafirmar os direitos que conquistamos, para que não sejam retirados de nós, como tentam fazer diariamente.
É um dia de reivindicar o que o patriarcado ainda nos subtrai. Isso não quer dizer que homenagear uma mulher pelo que ela é e pela sua causa seja algo ruim. Quer dizer sim que de nada adianta presenteá-la nesta data e não lhe dar o direito de ser respeitada, o direito de ser livre e andar pelas ruas sem medo, o direito de fazer o que quiser com o seu corpo sem ser agredida ou violentada. A nossa falta de tranquilidade e o instinto de sobrevivência que temos que desenvolver por conta disso nos custa caro. Custa a nossa sanidade mental.
Desde sempre as mulheres foram criadas em regime de servidão ao patriarcado. Como diz a escritora Marcia Tiburi, “desde que nasce, não é um exagero dizer, uma menina está condenada a um tipo de trabalho que se parece muito com servidão que, em tudo é diferente do trabalho remunerado ou do trabalho que se pode escolher dependendo da classe social à que se pertence.” Nós já viemos condenadas à inferioridade pelo fato de sermos mulheres e somos forçadas a acreditar que esta é a nossa condição e o que fizermos fora da forma comportamental padronizada nos torna loucas, feminazis, agressivas e marginalizadas.
A divisão do trabalho entre homens e mulheres permeia a noção de diferença sexual, na qual a própria mulher pensa que além de trabalhar fora, é sua obrigação cuidar de tudo (casa, marido, filhos e afins), exaurindo a sua energia e sendo impossibilitada, pelas normas da sociedade do que é tido como certo, de ter uma vida fora do trabalho e da casa, de ter um tempo pra si, pra ler um um livro, pra exercer seu ativismo. Isso sem contar que nós ainda recebemos menos que os homens pelo mesmo serviço prestado.
Os homens são tão avessos ao feminismo não porque não entendem ou ainda não evoluíram, mas sim porque se valem de seus privilégios para manter o sistema patriarcal. Convenhamos que em 2019 ninguém mais é ingênuo e se nós mulheres criamos consciência sobre as novas configurações sociais, eles também tem que criar. E isso inclui reconhecer os nossos direitos, nos ajudar na conquista de igualdade e respeitar o nosso livre-arbítrio. O feminismo não é o contrário do machismo, que além de matar, oprime e incita o ódio às mulheres na sua configuração estrutural de inferiorização do sexo oposto. O feminismo busca a igualdade entre homens e mulheres sem normas de gênero, de forma democrática.
O nosso movimento coletivo assusta tanto que a ala masculina machista incentiva a rivalidade entre as mulheres para nos manter reféns do sistema, pois quando nos unimos, passamos a desconstruir os muros capitalistas que nos segregam.
No dia 8 de março é de extrema importância que todas as mulheres se unam nas ruas de suas cidades para protestar pelos nossos direitos. Isso inclui manifestações contrárias à reforma da previdência, que prejudica muito mais as mulheres, e repúdio à violência que convivemos diariamente. O Brasil é o 5 país com a maior taxa de feminicídio no mundo e essa realidade não pode continuar. É uma questão de sobrevivência apoiar e participar dos protestos no dia de hoje.
por Paola Fernandes
Jornalista, Feminista, Integrante do Conselho Diretivo do Grupo Mulheres Empreendedoras do Sul.
Jornalista, Feminista, Integrante do Conselho Diretivo do Grupo Mulheres Empreendedoras
do Sul.
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