O livro, lançado em 2017, pela Penalux/SP, contempla 53 poemas dispostos em 116 páginas. O prefácio é do talentoso poeta Daniel Baz.
Leonardo Alves aprecia muito discos e livros. É leitor voraz e crítico. Entre suas influências e referências, destacam-se Thomas Eliot, Borges, Drummond, Mallarmé, Ferreira Gullar, Arthur Rimbaud, Walt Whitman, Herberto Helder, entre outros.
E carrega tais referências em seus poemas, sem no entanto permitir-se sufocar sob tais influências. Antes, busca alguma distância e exercita sua capacidade de dosar e digerir essas influências sob seu pulso criativo.
Alves aceita o desafio de criar a que se propõe (…aceito o cavalo indócil/ e abro o coração/ para o verme da lira e o vexame/ dos espelhos…).
Em sua temática aberta, explora tanto dores particulares (…eu queria apenas o esboço do oásis anunciado em prospectos/ um grão de paz para poder deitar e acordar sem culpa…), quanto coloca em pauta dores alheias num mundo tão desigual (…e no subúrbio/ crianças descalças (…) gente paupérrima/ praquejando/ ferindo a brancura ideal do sábado…).
Questões existenciais como o próprio tempo – algo que nos afeta a todos e sobre o qual não temos nem ao menos o mais mínimo controle (um sonho obscuro que envelhece/ sonho marcado pelo tempo/ no fundo do fundo/ de algo que ignoramos/ e nos ignora…).
Frente a um mundo cujo destino o poeta combate nas entrelinhas, o desenrolar da engrenagem tira-lhe o sono (…o que se preserva é a inquietação/ que não permite descansar/ os insones/ eles – que batem nas pedras do cotidiano…).
Vez por outra, invoca algumas de suas referências (…íamos por sendas nossas/ falando de sonhos/ com bibliotecas/ nos olhos…). neste poema, percebe-se sutilmente uma sombra amiga: Borges.
Embora desvie propositadamente, há momentos em que o amor se impõe (…o que amas em mim é o talho de nascença na alma/ por onde rebenta um arco-íris – o que amas/ em mim é o abraço a remo nesse mar sem sol…).
Leonardo Alves nos faz crer no poder da poesia em remodelar o mundo, os homens, as mulheres e ambientes. Embora por vezes amargo e muitas vezes irônico, Alves redescobre a força da esperança e seu poder de redesenhar nossos destinos (…vencer/ o homem-cópula/ o vazio do homem/ no regaço da tragédia/ tentacular/ e conhecer/ as chaves da caverna/ o segredo das rochas…).
É preciso reconhecer e saudar os ventos de resistência, o jogo simplicidade/ densidade/ profundidade com que Leonardo Alves nos convida a reencarar o mundo e suas facetas.
Por Alvaro Barcellos – poeta e letrista pelotense
Sinopse de Artefatos
Artefatos adora a arte com a mais sublime conquista humana. O autor que fala sobre a fragmentação do homem, a voraz necessidade de vencer na vida, de conquistar, também confessa em seus versos as suas falhas, as suas derrotas. Em seu poema chamado “Elegia Primeira – Confissões”, o autor se desnuda deixando a mostra as suas fragilidades, não se contém ou se intimida ao declamar “um corpo sem leme”, “uma casa sem janelas”, ao referir-se a sua própria condição de batalhador, muitas vezes de perdedor. Após expor paulatinamente várias confissões que apontam para suas derrotas, o poeta finaliza sua elegia com a conclusão de que a arte é a mais redentora conquista do humano. O autor que tanto poder atribui a poesia, a música, a arte, também especula o significado desta transcendência, no seu poema “Primeira Pessoa”, o escritor afirma que o pronome deve vir sinceramente em sua essência, mesmo que ele traga a face cruel dos fatos, os xingos, as tristezas, “não se lava o pronome / não se faz cirurgia no pronome”, apenas se aceita a poesia como ela aparece ao seu elaborador. Reconhecendo o valor da arte o autor afirma que é necessário se despir dos mitos, das crenças, da erudição e aceitar as tempestades, as lutas, porque no final das contas, a trajetória de perdas, erros e acertos são as responsáveis por dar sentido à vida.
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