O coronavírus veio a reforçar a importância de sentar e conversar com nossos ancestrais


Darci Emiliano (D) é o primeiro indígena a receber título de doutor na história da FURG Arquivo Pessoal

A primeira vez que Darci Emiliano, integrante da aldeia kaingang Cacique Doble, na zona norte gaúcha, pisou na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) foi em maio de 2013. Era o início do sonho de ter um diploma de pós-graduação universitária, com a busca pelo título de mestre. Sete anos depois, ele acaba de se tornar o primeiro indígena com o título de doutor na história da universidade.

Darci Emiliano é o primeiro indígena a receber título de doutor na história da FURG
Arquivo Pessoal

“O coronavírus veio a reforçar a importância de sentar e conversar com nossos ancestrais”, afirma primeiro doutor indígena formado pela FURG
Educador ambiental Darci Emiliano concluiu o doutorado em Educação Ambiental em março deste ano

Em entrevista ao Portal da FURG (www.furg.br), Emiliano, que é técnico administrativo no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), relata como enfrentou as adversidades até chegar à conclusão do doutorado em Educação Ambiental. Sua tese, “A Educação Ambiental no IFRS: Estratégias ecosóficas para construir os dispositivos de ingresso, permanência e êxito dos estudantes indígenas”, articula ecologia e filosofia e foi defendida no dia 17 de março de 2020.

“É um sonho realizado e também um desafio e incentivo para que outros estudantes indígenas possam buscar os seus objetivos pessoais. Espero que essa titulação ajude a facilitar as condições de levar mais indígenas para o ensino superior”, afirma Emiliano.  A jornada de estudos, para ele, tem uma dimensão prática fundamental: reduzir o índice de evasão acadêmica de indígenas. “A vida acadêmica é difícil para todo mundo. Mas sendo indígena, essas dificuldades são multiplicadas. O conhecimento que trazes da tua cultura nem sempre é levado em conta, e muitas vezes fui mal compreendido em sala de aula”, observa, demarcando que, “afora o aspecto cultural, os problemas financeiros estão acima de tudo.”

Além da defesa de políticas afirmativas para facilitar o acesso dos indígenas às instâncias acadêmicas, Emiliano também defende, numa via de mão dupla, os saberes indígenas para uma vida melhor em comunidade. “Se hoje o indígena preserva a natureza, ele não a preserva para si, mas para a sociedade como um todo. A questão do desmatamento, da água envenenada, todo o sistema capitalista também sente isso, até mais do que nós. Houve uma época em que não existia dinheiro, e vivíamos bem. Defendo o processo de revitalização dos saberes e práticas indígenas.”

Darci Emiliano (E) é o primeiro indígena a receber título de doutor na história da FURG
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Em tempos de confinamento, afirma que para os povos de coletividade é difícil viver em quarentena. “Mas o coronavírus não é de todo mau, pois veio para reforçar a importância de sentar e conversar com nossos ancestrais. É quando sentamos ao redor do fogo de chão, preparando chás, ervas e xaropes, ouvindo curandeiros e kujás, que reencontramos nossa ancestralidade”, diz.

Sobre o 19 de abril como “Dia do índio”, lamenta que exista só essa data para se refletir sobre os povos indígenas, mas vê também como oportunidade para entrada nas escolas e centros de educação para conversar sobre o reconhecimento das diferenças. “É uma data de luta. Mas Dia do Índio deveria ser o ano todo”, conclui.

Para ler a entrevista na íntegra, acesse: https://www.furg.br/noticias/noticias-entrevista/o-coronavirus-veio-reforcar-a-importancia-de-sentar-e-conversar-com-nossos-ancestrais

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