Quando atravesso a Praça Coronel Pedro Osório, em direção à rua XV de Novembro, sempre paro na banca de revistas para ler as manchetes. Nas últimas semanas, esse prazer tem sido frustrante. Fazem três meses que não chegam novas revistas na banca. A última Piauí que comprei foi no final do mês de maio, mesmo assim, era edição remanescente de março, mês em que fecharam as bancas devido a pandemia, e os fornecedores deixaram de remeter.
Nas conversas sobre jornalismo, é consumada afirmação de que o impresso vai acabar. Que a instantaneidade da internet é insuperável etc., etc. Um dia ouvi a questão: o que uma revista semanal tem a dizer que não foi dito e analisado durante a semana? — tudo. Há mais de um nó nos fatos sociais que podem ser desatados, outros detalhes significativos orbitando o óbvio. A reflexão se aproxima da “essência do fato” fora do imediatismo (mesmo que não seja publicado). Sem falar que, ler no papel, ainda é a forma mais sensível à concentração.
Em seus primeiros momentos na terra, o ser humano era um animal herbívoro. Com o tempo passou a ser carnívoro. Ao longo dos séculos, desenvolveu com precisão seu telencéfalo e nos dias de hoje seu alimento fundamental é a informação. Ou seja, se transformou em: informívoro. Assim como na feira-livre e no açougue escolhemos a dedo o que vamos comer, é preciso ter essa inclinação na prática da leitura.
Assisti no programa Roda Viva o filósofo da internet, Pierre Lévy, comentar sobre o conceito de economia da atenção. Em bom francês, ele dizia que no oceano de informações da internet, o que garante progresso na navegação é para onde você dirige sua concentração (neste momento estás no caminho correto). Atualmente, atenção das pessoas na rede é mapeada por algoritmos, as induzindo a lugares comum e a um mercantilismo pesticida. Sentar no sofá e folhear uma revista continua sendo orgânico e saudável.
Texto: Lucian Brum
Jornalista.
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