Ele poderia ter entrado para as estatísticas de tantos outros meninos nascidos e criados na periferia pelotense. Um dos três filhos da Dona Maria, faxineira, César Brisolara começou a ajudar no sustento da casa aos sete anos.
O guri iniciou guardando carros pelas ruas, mas só isso não era o suficiente para aumentar a renda da família e logo ele acrescentou a venda de raspadinha, produtos de limpeza e depois passou ainda a cortar a grama em frente aos apartamentos da comunidade e limpar e capinar os jazigos do cemitério.
Em seguida se tornou conhecido na Duque de Caxias, na Rodoviária, e não mais apenas na Guabiroba. A vida difícil fez com que desde pequeno Césinha, como é conhecido, entendesse a realidade de tantos moradores das comunidades mais humildes e assim passou a compreender melhor o mundo. Até aos 13 anos, a vida dele foi assim, correndo atrás de ajudar a mãe. Porém, Dona Maria queria mais para o filho e não permitiu que ele largasse os estudos. E o jovem Cesinha estudava em um turno e trabalhava no outro, resistindo assim às tentações da rua, que anos mais tarde, levaria, para sempre, amigos de infância envolvidos pelas drogas e pela violência.
Responsável, o adolescente ajudava a mãe com quase todo o dinheiro que ganhava, só tirava o necessário para pagar o ônibus para ir e voltar da escola. Quando completou 14 anos ganhou a oportunidade de trabalhar como empacotador em um supermercado na Guabiroba. E seu maior orgulho era ter a carteira assinada. Depois de alguns anos na empresa, e de exercer várias funções, Brisolara deixou o supermercado aos 18 para cumprir o serviço militar.
Ao sair do Exército resolveu tentar a vida em Porto Alegre e na Capital trabalhou em diversas frentes como empacotador, auxiliar de cabista, office boy e técnico em informática. Voltou para Pelotas e virou empreendedor e depressa percebeu que precisava trabalhar para que outros meninos como ele tivessem a chance de ficar longe dos perigos das ruas. Ele queria ser um parceiro junto aos mais necessitados, um “gerador de oportunidades”. E foi assim que Cesinha descobriu a sua verdadeira vocação: tornou-se Lutador pela Cidadania.
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O Guri da Guabiroba, cresceu, virou líder comunitário. Criou projetos sociais para as crianças e adolescentes da comunidade, virou presidente da Associação de Moradores e mudou a realidade do bairro em que vive. Como tantos outros, não acreditava na política, mas na busca de mudar a vida das demais pessoas, percebeu que o caminho era ser uma voz potencializada por tantas outras sufocadas pelas esquinas das periferias.
César Brisolara trilhou o caminho até ser eleito em novembro passado vereador de Pelotas pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Na casa há poucas semanas o Guri da Guabiroba que iniciou a vida cuidando o bem dos outros, tornou-se Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania, realizando assim mais um sonho: O de fazer uma agenda propositiva e igualitária com união de todos na luta pelos direitos humanos em Pelotas.
Fonte: Adriene Antunes
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
Parabéns guerreiro!
Pessoas assim precisamos divulgar, para incentivar outros e mostrar que se quiser, todos tem oportunidades.