Quando tu queres ficar sozinho, a solidão é agradável. Quando tu não podes ter contato com ninguém, tudo fica impregnado de melancolia. A vida digital ainda é um complemento das relações interpessoais. Mesmo que isso soe meio cringe, ainda assim fico com a bem colocada paráfrase do Nelson Rodrigues: “A pior forma de solidão é a companhia de um algoritmo”.
O que mais sinto falta nesses dias de isolamento, são os desconhecidos. Aquelas pessoas que tu cumprimentas no balcão do café, e compartilha uma afirmação sobre a manchete do telejornal que passa na televisão, tipo: — Olha lá, a polícia finalmente pegou aquele cara em Brasília. O desconhecido apenas balança a cabeça concordando, e segue bebericando seu café.
Há também aqueles desconhecidos que logo viram íntimos. Um dia desses, na fila na lotérica, um deles me cumprimentou, comentou sobre a demora no atendimento, e logo perguntou como estava a família, eu disse: todos bem. Tens filhos, seguiu ele, no que respondi: tenho sim, dois, estão na escola. E cachorros? Com um sorriso no canto na boca resolvi arriscar: temos oito. Ele expressou um olhar desconfiado, e voltou a esperar sua vez.
Não entrar em contato é uma prevenção contra a disseminação do coronavírus. Faz uma semana que abri o teste e o resultado foi positivo. Por sorte, tive apenas sintomas leves. O que mais sinto é essa necessidade de socializar, caminhar na rua, dizer bom dia para as pessoas na fila do pão, comprar o Diário Gaúcho… nunca me valeu tanto a frase do Alexander Supertramp: “A felicidade só é real quando compartilhada”.
Texto: Lucian Brum
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Jornalista.
Concordo com o texto, nesses momentos enxergamos os mínimos que na verdade são máximos para quem está isolado.