Segundo livro da escritora rio-grandina Juliana Blasina, Toracotomia Caseira acaba de entrar em pré-venda pela editora Urutau (São Paulo). O livro foi um dos dez selecionados pela editora em chamada que recebeu mais de 250 originais de toda a Região Sul, no início de 2021.
Com texto da orelha escrito por Bruna Mitrano (Rio de Janeiro) e posfácio de Daniela Delias (Rio Grande), a obra reúne poemas sobre mulheres e o desejo de fuga e emersão através da palavra. A pré-venda se dá por meio de financiamento coletivo do tipo ‘tudo ou nada’, o que significa que precisa bater uma meta mínima para que o livro seja lançado. A campanha teve início na última sexta-feira, dia 09 de julho e vai até o dia 23 de agosto.
Juliana Blasina é poeta, mãe e bióloga. Nascida na Porto Alegre dos anos 80, vive em Rio Grande desde menina. Tem textos publicados em diversas revistas e antologias e é autora da coletânea de poemas 8 horas por dia (Rio Grande: Concha, 2017).
Atualmente, Juliana cursa mestrado em Letras pela FURG, coedita a zine feminista Marítimas, tem uma barbearia com o marido e escreve entre três gatas e um menino.
Confira seus trabalhos pelo IG @blasina_ju.
Confira a campanha de pré-venda clicando aqui.
Leia três poemas de Juliana Blasina que participam de Toracotomia Caseira:
UTENSÍLIOS
Como dizer usando colheres
dizer enquanto borbulha
dizer sem queimar
o arroz
dizer de dentro de uma panela
de cinco litros
picando legumes
com as pontas dos dedos
como dizer encarando batatas
sem ironia
dizer
que seu destino é virar
purê.
como dizer entre colheres
conchas
e escumadeiras
que a faca é também
um objeto feminino.
VÉSPERAS
Abramos pela página quarenta
lá onde Adélia
pousa a velhice entre as folhas
lá onde Cecília
bate com remos n'água
o céu nublado das duas
sussurra a liturgia das horas
o céu nublado das seis
e eu sonhando um peixe vivo
no raso das poças.
TORACOTOMIA CASEIRA
Abrir o peito com as mãos
esse espaçador sem aço
não é tão fácil quanto supõem os versos iniciais
prender os dedos em pinça na carne dura do peito
enfrentar a derme na escassez de gordura
a pega frustrada de diminutas falanges distais
abrir no fundo do armário da cozinha
a caixa vazia de ferramentas
tomar emprestado o alicate de Felix
o martelo Ivánova de avermelhar papel
ter sobre a mesa um objeto em cada prato
olhar, sem a coragem necessária para tocá-los
penso logo como seria manusear uma motosserra?
e o abrir o peito não passa
de um beliscão mal dado
algo jaz encerrado
na escuridão do tórax.
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Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
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