A primeira vez em que fui à livraria Monquelat procurava o livro Um Quarto de Légua em Quadro, do Luiz Antônio de Assis Brasil. Havia me deparado com uma reportagem na Zero Hora sobre literatura gaúcha e estava ansioso para ler o autor porto-alegrense. Tinha uns 18,19 anos e imenso interesse em literatura. Naquele dia não encontrei o livro que procurava, mas fiquei impressionado com o conhecimento do livreiro e compreendi que ali voltaria seguidamente, não apenas para comprar livros.
Até porque nem sempre eu andava com dinheiro, mesmo assim, passava horas lendo lombadas, folheando gramáticas, almanaques, tratados, compêndios… se encontrava de tudo naquela sala, e o livreiro comentava sobre todos os assuntos com naturalidade. Certa vez imaginei que aquela livralhada era o pilar sustentador do edifício Manhattan, e se um dia os tirassem de lá, o prédio poderia vir a baixo.
A descoberta do prazer na leitura é um momento secreto, íntimo, obscuro, quase impossível de recriar em outras pessoas. Talvez se manifeste com sensibilidade fonética e gráfica, em atração pela forma ou pelo som das palavras. Mas o que funciona, de vez em quando, para formar um leitor, é o exemplo. Ter alguém próximo que mantenha o hábito da leitura pode inspirar a curiosidade, ao menos a imitação. E esse exemplo para A. F. Monquelat foi o seu pai: “Eu sempre via o meu pai lendo aquele livrinho de bolso que ele tinha. Lembro-me dele no bolso de trás da calça. Sempre aqueles livros pequeninhos”, recordou, em perfil publicado no e-cult, em 2019.
Pelotas, perdeu o cidadão que dedicou sua disposição intelectual para emaranhar-se nas suas histórias, sem academicismo, com grande parte de sua obra expondo fatos vividos por homens e mulheres comuns, e aqueles que construíram a cidade com as próprias mãos. Deixou uma produção com quase vinte livros, fora os que colaborou, e certamente havia outros em sua gaveta que devem vir à baila. Suas pesquisas podem ser lidas na internet no blog: Pelotas de Ontem. No entanto, talvez desde o início do inverno eu não ia à livraria Monquelat, entre os últimos livros que lá comprei, estava o Diário do Doutor Gaspar de Fróis.
Por: Lucian Brum
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Jornalista.
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