Produzido em 2020, no auge da pandemia, o curta-metragem gaúcho O Olhar do Artista Não Descansa já foi projetado em mais de 20 festivais no Brasil e em países, como Alemanha, Argentina, Índia e México. A mais recente exibição foi no último sábado, 16 de julho, na Marmostra – International Film Festival, em Portugal. O filme foi totalmente produzido em isolamento social e oferece um passeio por 15 esculturas criadas pelo ator Nelson Diniz com pedaços de papel, madeira, tinta, sucata e outros objetos que iriam para o lixo. Em uma entrevista exclusiva ao E-Cult, o diretor Guilherme Carravetta De Carli conta como foi o processo criativo e os bastidores dessa produção que deve seguir rodando pelo mundo.
E-Cult – Como foi produzir um curta-metragem no auge da pandemia e retratando o processo de criação artística durante a pandemia?
Guilherme Carravetta De Carli – Foi necessário. Quando vi as primeiras esculturas já sugeri pro Nelson um registro audiovisual, o trabalho dele com as miniaturas proporciona uma reflexão maior do fazer artístico. E foi tudo muito rápido. No dia seguinte, o Nelson escreveu a locução e começamos a pensar na produção. Tínhamos o desafio de entender as novas dinâmicas de trabalho que foram impostas pela pandemia e nos adaptamos a elas, além de todas as questões técnicas. Mas o trabalho foi produzido com todos da equipe trabalhando sem sair das suas casas, respeitando o momento de isolamento social. Então, foi mesmo uma questão de necessidade, de estarmos juntos, criando e produzindo.
E-Cult – O Olhar do Artista Não Descansa é bem mais que um título. Seria síntese do trabalho de toda equipe envolvida nesse processo?
Guilherme Carravetta De Carli – Perfeita e importante essa reflexão. Acho ótimo pensar que o título é a síntese do trabalho, não só dessa equipe, mas de todos os artistas. O fazer artístico impõe um constante e atento olhar para o novo, para vida e para a arte, um processo contínuo de observação e de aprendizagem. Essa frase que o Nelson trouxe nas primeiras postagens das miniaturas e depois na locução, representa muito. O título não poderia ser outro. O olhar do artista não descansa mesmo. Para sorte do trabalho, além do Nelson, tivemos o privilégio dos olhares inquietos de Liane Venturella, Simone Rasslan, Letícia Vieira, Álvaro RosaCosta, Juan Quintáns e Juliano Moreira. Sou muito grato a eles por imprimirem no curta os seus olhares e contribuírem na construção desse trabalho.
E-Cult – Você e o Nelson Diniz já trabalharam juntos em outros trabalhos no cinema e no teatro. Como foi dessa vez dirigir um filme que é uma espécie de tributo a um dos mais talentosos e premiados atores gaúchos?
Guilherme Carravetta De Carli – É sempre maravilhoso trabalhar com o Nelson, um grande amigo, um irmão que a vida me deu, aprendo demais com ele sempre. O Olhar mostra um recorte do grande artista e ser humano maior ainda que ele é. A sensibilidade dele no trabalho manual das esculturas é incrível, elas são um registro da angústia, da solidão daquele momento, em imagens carregadas de beleza e significado. O objeto fílmico coloca uma lupa nesses sentimentos e expande esse universo.
E-Cult – Você imaginava que o filme teria essa trajetória, sendo selecionado em tantos festivais?
Guilherme Carravetta De Carli – Não imaginava. Mesmo dois anos depois de ser produzido ele segue trilhando o seu caminho. Esteve em diferentes mostras e festivais, dos tradicionais aos experimentais, de questões voltadas ao meio ambiente ou ao âmbito infantojuvenil, por exemplo, assim como em projetos sociais. É lindo pensar em todos os públicos que ele atingiu. Trabalhamos no “olhar” pela nossa necessidade, pensando exclusivamente em um testemunho daquele momento através do olhar do Nelson e de todos os artistas envolvidos. A trajetória e as conquistas do trabalho são reflexo disso.
E-Cult – E essa trupe já tem novos projetos para as telas?
Guilherme Carravetta De Carli – Estamos sempre trocando ideias, pensando em novos trabalhos e possibilidades. Maria é um curta/documentário que tem o apoio da Cia. Incomode-Te e da maioria dos artistas envolvidos no “olhar”, com minha direção. Teve estreia na 19ª Muestra de Cine de Lavapiés, em Madrid, em junho e seguirá agora para o seu caminho em festivais. Além de Maria, estamos trabalhando em Manhã, roteiro escrito pelo Nelson Diniz e interpretado por ele e pela Liane Venturella, minha direção. Além de Apoio, roteiro e direção do Nelson, com a Liane e eu no elenco. Ambos os curtas-metragens são de ficção e estão programados para rodagem em 2023.
Jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por cinema, artes e viagens.
Faça um comentário