Sim, tudo envelhece: as casas, as roupas, o corpo, as idiossincrasias, as ideias … os sentimentos também?
Eu, particularmente, gosto de alguns elementos antigos na minha casa: um móvel de família, uma luminária de antiquário, objetos que trouxe de viagens, pequenos adornos garimpados em feiras de rua. Todos estes objetos trazem autenticidade, imprimem personalidade ao espaço e desta forma deixam o ambiente “a nossa cara”.
A roupa que vestimos também traduz um estilo, nos confere uma marca, estampam nosso look pessoal. E, convenhamos, com o passar dos anos, só ficam no guarda-roupa os clássicos e as peças que mais gostamos. Eu assumo que não sigo moda. Claro, observo as tendências, mas com o tempo aprendi a eleger roupas que, mais do que se ajustem ao meu corpo, representem quem sou. Eu gosto de uma certa individualidade, não ser igual a todo mundo.
Mas, e a minha pele, a minha idade facial? O que fazer com a vaidade de ter um rosto sem rugas, de não ter cabelos brancos e um corpo que não sofra a ação da gravidade? Fazer harmonização facial é equivalente a ter uma casa tipo show room? Tudo novinho, sem história, sem marcas, sem passado? Eu lá no início do texto admiti que não admiro casas neste estilo.
Por favor, prestem atenção: não estou falando em deixar a casa cair e nem que abdiquem de cuidar da sua saúde. Estou falando de estética, de aparência. A ideia aqui não é criticar quem faz plásticas e procedimentos estéticos (eu mesma já fiz alguns), mas fazer pensar: a ideia de beleza que nos satisfazia na adolescência, que nos deixava feliz com 20 anos não pode ser a mesma de agora. O ser humano além de envelhecer, evolui e amadurece.
E sobre a forma de pensar? Eu, por exemplo, acho que virei princesa depois dos cinquenta anos. Vou explicar: dias atrás um amigo, meio “ex crush”, daqueles charmosos e interessantes, do nada me enviou uma mensagem dizendo que queria um café acompanhado de um beijo meu. A minha primeira reação foi pensar que ele havia errado o destinatário e, sorrindo enviei isto para ele. A resposta foi imediata: “Claro que não errei, café com o teu beijo é muito melhor!” Gostei de ser lembrada, mas estava acompanhada de uma amiga e, como prezo as amizades, sugeri um café na próxima semana. Deixei no ar, fui sutil.
Bom, já se passaram oito dias, quatorze horas e quarenta e dois minutos e nada, nenhuma mensagem. Não que eu esteja contando (já ouvi muito esta frase em filmes e sempre tive vontade de usá-la), mas hoje me dei conta que já é quinta feira e nenhum whatsapp, insta ou sinais de fumaça. Vou esperar, não vou tomar iniciativa. E agora o mais importante desta história toda: estou me perguntando o porquê desta atitude, por que esperar?
Sempre fui uma mulher de atitude, autêntica, que nunca gostou de perder tempo com joguinhos amorosos ou de poder, imagina agora neste momento da vida em que é sabido que não tenho mais tempo a perder. Toda esta impulsividade me fez quebrar a cara e o coração muitas vezes, mas descobri que prefiro sofrer do que não sentir nada, que é melhor ter histórias e lembranças para contar do que me divertir ou me emocionar com a história dos outros. Eu também aprendi a rir de mim mesma, pois a maioria das histórias tristes, com o passar do tempo se transformam de drama para tragicomédia.
Então, se já sei disto tudo, por que estou aguardando? Acho realmente que as idiossincrasias também têm prazo de validade. Sim tudo envelhece, mas temos que renovar este conceito para algumas situações: se no dicionário está que o sinônimo de envelhecer é enfraquecer, desgastar, ressecar, deixemos isto apenas para o corpo, para a matéria, pois é inevitável, mas para a mente e o espírito não podemos permitir. Por isso, gaste seu tempo com quem merece, conviva mais com gente jovem, escute música no volume máximo e cante (o volume alto não vai permitir que tu pagues mico por ser desafinado, e, se for, isto também não importa), aprenda as novas gírias, viaje muito, volte para casa por ruas diferentes, jogue The last of us com seus filhos e abrace mais, abrace muito, passamos muito tempo sem poder sentir a energia dos amigos.
Não confira ao tempo o seu peso exato.
Ahhh!!!!! Lembrei de algo que devemos deixar envelhecer: os preconceitos!
Arquiteta e escritora, conhecida mundialmente no bairro por Guga. Mãe do Santiago, sempre em busca de inspiração, viajante cada vez mais de rotas clandestinas, e ser livre é um destino essencial.
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