Lançamento do livro Skate Educa, Skate Salva e entrevista com uma lenda do skate brasileiro


Livro de Emanuel Bueno tem como proposta capacitar instrutores e empreendedores para o mercado do skate. Foto: Marco Castro

Mais uma vez, o skate levou esporte, cultura e educação para a comunidade pelotense. Na tarde de sábado (26.out), aconteceu o lançamento do livro “Skate Educa, Skate Salva’’, escrito pelo professor e skatista Emanuel Bueno, o Maneca. A Pista Pública de Pelotas (PPP) estava lotada de crianças, jovens e adultos, que aproveitaram a tarde de sol para passear entre as árvores do Parque Dom Antônio Zattera, ouvir música, apreciar artes e assistir às manobras de skatistas profissionais. O Evento recebeu as equipes da Spliff Mafia, de Porto Alegre, e a Low Pressure Family, de Curitiba. Junto com a galera do Paraná, esteve manobrando na PPP o skatista Augusto Akio, o Japinha, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

“As ideias que compartilho’’, escreveu Maneca na apresentação do livro, “foram inspiradas pelos meus mestres do skate, alunos e alunas, pela atleta Marina Brauner, e pelo meu filho’’. O professor é o criador da Nova Geração Skate, uma marca que organiza campeonatos, oferece aulas, cursos, livros, além de mentoria e consultoria sobre branding e produtos físicos e digitais. A Nova Geração Skate já atingiu a marca de sete mil alunos, dentro e fora do Brasil. 

Foi com essa experiência que o Maneca promoveu as atividades do evento. Esteve presente o skatista e empresário de Porto Alegre, Cezar Gordo, um dos primeiros skatistas profissionais de street do Rio Grande do Sul. O fotógrafo Marco Castro, montou uma exposição com mais de sessenta fotografias, resultado dos dezoito anos em que vem registrando manobras. A música rolou nas pick-ups do DJ CASS, e com o hard core da banda Freak Brothers, que provocou velocidade e inspiração para os skatistas deslizarem pelo obstáculo instalado especialmente para o evento. Dois dias depois, em uma conversa de Whatsapp, o skatista André Pereira me disse: “Caraaa… tava épico o negócio, um find daqueles é o sonho de todo skatista’’.

A skatista Marina Brauner deslizando no obstaculo montado para o evento. Foto: Marco Castro

A chama do skate já estava acesa há alguns dias. Na sexta-feira (25.out), a loja Mercado Skate Shop comemorou vinte anos de atividade. Para celebrar, a equipe Low Pressure Family realizou uma sessão de autógrafos no local. Com a rua Andrade Neves bloqueada para carros, foi instalada em frente à loja a “Fumira Jump”: uma rampa pintada para simular um baseado, na qual os skatistas manobravam em meio à curtição e à fumaça.

Após a sessão de autógrafos, conversei com o skatista curitibano Carlos de Andrade. Confere aí:

Lucian: Primeiramente satisfação em estar aqui trocando essa ideia contigo: Carlos de Andrade, o Piolho – uma lenda do skateboarding brasileiro. Eu li um pouco da tua história no livro “O Skate no Paraná’’, do Victor Augusto, e curti muito as fotos do campeonato mundial no Canadá. Foi uma oportunidade muito da hora que tu teve, como rolou a tua profissionalização pela marca Maha Skateboard Co.?

Piolho: A Maha é uma marca local de Curitiba, que começou em 1977. Eu comecei a andar de skate em 1987 e, em 1990 eu consegui entrar na Maha. No início eles me ajudavam com material, eles me ajudavam com shape, só faziam shape na época. Mas eles foram evoluindo como marca, e se tornaram uma marca de nível nacional. Eles me passaram para profissional em 1994 e daí, em 1995, rolou de ir competir no Canadá, em Vancouver. Eles me levaram nessa viagem e eu acabei ficando em terceiro lugar. Além disso, eles me pagavam um salário, e como eu morava com os meus pais, eu consegui guardar uma grana, pois eu já tinha planos de ir passar uma temporada na Califórnia. Eu consegui ir em 1997 para a Califórnia. Morei lá com mais cinco amigos num apartamento, aqueles perrengues de primeira viagem. Mas foi legal, foi uma experiência positiva.  

Lucian: O que me chamou atenção, foi esse lance de como o dono da marca tratava o skatista, bancando a viagem, pagando salário. Parece que ele queria que o skatista evoluísse. Como era essa cena? 

Piolho: O Marco Imaguire (Maguila), que era o cara que fundou a Maha, que era o dono né, foi um skatista de nível nacional lá de Curitiba. Quando eu comecei a andar, ele era um cara referência. O Eduardo Dias (Alemão) da Drop Dead também, sempre gostou de skate, sempre andou. São marcas e pessoas que entendem de skate e sempre amaram o skate. Eles ainda fazem muito pelo skate, mas eles fizeram muito no passado. Eles realmente apoiavam a molecada, eles faziam evento, eles faziam pista, eles realmente foram muito importantes para a cena ali.

Lucian: Curitiba ficou conhecida como a capital do skate no Brasil. Como surgiu esse reconhecimento? 

Piolho: Teve essa fama de ser a capital do Skate. Foi uma fase que foi muito boa mesmo. Os melhores eventos eram lá. As marcas né, como nós falamos, a Maha e a Drop estavam em evidência no país. E a galera que saiu de lá: o Ferrugem (Rodil de Araújo Júnior), o Alex Carolino, o Danilo Cerezini; também os caras do vertical, o Marcelo Kosake, o Vítor Simão… Foi uma galera que botou a cara para bater. Foi correr campeonato fora do país e tal, e conseguiu bons resultados. Eu e o Ferrugem ganhamos alguns campeonatos, e fomos convidados para participar dos X Games. E Curitiba ficou com essa imagem, a galera falava: – o skate lá é legal e tal. A gente quer trazer essa imagem de volta, mas não precisa ser a capital do skate, ela pode ser uma das capitais do skate no Brasil. 

Lucian: Tu começou a andar ali por 1986/87.

Piolho: É, comecei a andar na pista do Jardim Ambiental.

Lucian: No livro do Victor, tu contou que foi o teu pai que te deu o primeiro skate, mas era para dividir com o teu irmão. Ele ainda anda?

Piolho: É, foi um skate do “Paraguai’’, aqueles de plástico. E o meu irmão ainda dá umas voltas de vez em quando, sabe andar, sabe manobrar,  e de vez em quando ele vai dar o rolê dele.

Lucian: E quando tu começou a andar, qual foi a sensação que tu sentiu? Qual é o sentimento que forma um skatista? 

Piolho: A pessoa, quando ela descobre o skate, quando ela sobe em cima do skate ééé… Eu acho que todos os amantes do skate sentiram isso a primeira vez, e eu senti isso, é um amor à primeira vista. Se torna um negócio tão viciante, tão… como posso falar, é como se você fosse infectado pelo skate. É um negócio que você quer muito. Eu senti isso quando era moleque. 

Lucian: E como foi o início do teu rolê?

Piolho: Quando eu ganhei o primeiro skate do meu pai, era um skate que não tinha nível. Mesmo assim, fui vendo que eu estava evoluindo. Os caras que já andavam bem na pista, me davam as peças antigas deles, e eu fui montando um skate melhor. Eu lembro quando ganhei a minha primeira rodinha gringa, era uma Bullet, Santa Cruz Speed Wheels. Era uma roda usada, mas era o sonho de consumo da época. Aí o meu skate começou a mudar, a melhoria do skate ajudou na minha evolução. E esse cara que me deu a peça, ele realmente ia parar de andar, já não estava andando mais. Ele olhou pra mim e disse: – acho que você vai fazer um bom uso dessa roda. E acabou me dando o jogo de rodas, isso eu nunca vou esquecer. 

Lucian: Depois desses anos todos de skate, o que te motiva vir aqui para o extremo-sul, entrar numa van e se aventurar com a galera? 

Piolho: Isso é um negócio que eu quero prolongar por muito tempo. Eu fiz isso a minha vida inteira. Teve umas fases que era bem cansativo, porque era toda hora mesmo, e você tem que fazer isso, tem que fazer aquilo. Mas é um trabalho como qualquer outro, tem que assumir o compromisso e fazer. Ultimamente, eu já não viajo tanto que nem eu viajava antes, então eu aprendi a apreciar. Os caras até fazem uma piada comigo, que eu lancei a frase: Não interessa o destino, o que interessa é a jornada. 

Piolho: E a jornada é muito legal, você pegar uma van com um monte de moleque que curte as mesmas coisas, andando de skate, ouvindo música. A mentalidade de um skatista é diferente de quem não anda de skate, você sai a procura de lugares para andar, vendo o que fica legal e o que não fica. E todo aquele lance de encontrar amigos, que nem eu encontrei o Franco, que foi meu chefe de equipe quando eu era da Code, e é a primeira vez que venho para Pelotas. Eu quero continuar fazendo isso. É trabalhoso, mas hoje em dia, assim, meu, é só você pegar e ir, sem medo. 

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Confira como foi o lançamento do livro nas fotografias do Marco Castro (@marcoecolc)

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