Formado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), e atualmente cursando o mestrado de História da Literatura pela mesma universidade, o autor riograndino Paulo Olmedo lança seu primeiro livro nesse mês de novembro: “A Razão do Absurdo”.
Paulo já é um escrevinhador online, explico: dono do blog de homônimo ao livro, ele lança mão desse formato online para expor na rede sua produção literária. Criado em dezembro de 2008, o blog armazena os mais variados textos, e agora uma parte deles ganha um novo formato com a edição “física” dos escritos.
Claro que o fator novidade também conta, por isso alguns textos inéditos surgem no horizonte do livro. Prestes a ser lançado, o autor responde algumas questões pertinentes a sua escrita, ao formato online, as dificuldades editoriais de autores independentes e até de… Paulo Coelho.
por: Felipe Nóbrega
Historiador e dono do blog O Diário do Matuto.
“A Razão do Absurdo”
Lançamento: 10 de Novembro – Livraria Vanguarda, Rio Grande.
Data: 10 de novembro – Horário: 17 horas.
Entrevista:
Felipe Nóbrega: Primeiro um “parabéns” pelo lançamento do livro, e depois a primeira pergunta bombástica para iniciar a entrevista: Thomas Mann ou Paulo Coelho?
Paulo Olmedo: Obrigado e agradeço pela disponibilização do espaço. Quanto à pergunta, bombástica é a revelação que farei a seguir: já li o segundo, mas não o primeiro. Porém, isso não faz com que eu o prefira. Mesmo sem nunca ter lido – A montanha mágica está na estante me tentando há tempos – sou do time do alemão.
FN: Respondido isso, é impossível deixar de lado que o “fator internet” parece ser fundamental para que esse livro tenha saído do prelo. Efetivamente, através do teu blog os contos eram publicados, comentados, criticados, e agora esses contos ganham um novo formato. Assim, o que se ganha e o que se perde nesse novo suporte de leitura na tua opinião?
PO: Eu sou old school e tenho paixão por livros. O blog foi o veículo ideal para que eu pudesse divulgar meus escritos, mas a vontade sempre foi de ser publicado em papel. Porém, sem o blog talvez eu ficasse mais intimidado de tentar uma empreitada editorial. Sem dúvida, o feedback advindo do blog é que me deu força para mudar de formato. É claro que o formato “papel” é mais restrito e de menor abrangência, mas também confere uma legitimidade que a internet ainda não conseguiu alcançar.
FN: Tua formação é na área das letras, com graduação e mestrado nessa área, convivendo diretamente com alguns cânones estabelecidos. Um deles é justamente a pouca atenção dada ao formato online dos textos, daí a necessidade de ter o formato físico como algo que legitime a qualidade do texto e seu autor. No teu entendimento esse cenário passa por alguma mudança? Desdobrando, qual o real alcance da literatura na internet?
PO: Só para não parecer incorreto, eu (ainda) não sou mestre, estou no meio do caminho (hehe). A minha experiência na Academia, na área de Letras, tem muito a ver com a Tradição, sim. Pelo menos o que vivenciei era/é permeado por essa perspectiva. Essa é uma questão complexa que depende de vários fatores, mas se for para simplificar prefiro pensar que temos dificuldade de absorver aquilo que não nos está distanciado. Acho que há pessoas tentando entender esse momento, que não é só literário, e se debruçando sobre os novos formatos e espaços. Mas o mais “seguro” ainda é olhar para trás e abraçar-se ao palpável. Mas isso não se limita à Academia, apesar de esta ser uma forte fornecedora de modelos. Muitas pessoas “leigas” desdenham da produção independente e online, até mesmo, talvez, por uma falta de filtro. Eu acho que a forma de nos relacionarmos com o objeto literário já mudou (até por conta da acessibilidade, sebos virtuais, etc.), mas enxergar a literatura como objeto de estudo dentro deste contexto é ainda um caminho que está sendo recém percorrido.
FN: Por se tratar de uma publicação independente, imagino que os problemas e os gargalos para sua publicação tenham sido consideráveis, mas mesmo assim foi alcançado o objetivo final: sua chegada nas livrarias. Quais os maiores percalços nesse trajeto de publicação independente que podes falar um pouco?
PO: Meu maior percalço foi a falta de dinheiro (hehe). O mercado editorial, como todo negócio, não investe para perder dinheiro. É muito difícil para um autor iniciante lançar-se se não há algum apadrinhamento ou fator externo que o faça se destacar. Ainda assim meu livro saiu, só que de forma independente (e com orgulho), sem suporte de nenhuma editora. E está sendo uma experiência e tanto, já que não há alguém experimentado na área para me guiar. Felizmente, os conselhos de amigos e o breve conhecimento de mercado editorial que tenho estão me ajudando.
FN: Qual foio critério de escolha dos contos que entraram na obra final?
PO: Eu poderia dizer que foi a falta de criatividade (hehe). Eu queria que o livro tivesse contos do blog, mas que tivesse material inédito. Os do blog era fácil por conta dos comentários e manifestações das pessoas, mas os outros foram a parte mais difícil. Assim, entraram os contos minimamente interessantes e com temática condizente à proposta “fantástica” do livro. Mas não tenho muitos textos afora os que estão no livro ou no blog, minha produção é, de fato, pequena.
FN: Teu trabalho acadêmico lida com o Lourenço Mutarelli, de que maneira ele te influencia no teu trabalho autoral? Ou não influência?
PO: Acho que todos os autores que lemos nos influenciam um pouco, nem que seja. Mas o Mutarelli foi uma descoberta posterior à produção do blog e destes contos que estão no livro. Talvez o que eu escrevo hoje tenha uma influência mutarelliana, mas estes escritos não têm.
FN: A possibilidade de escrever mais um livro se liga à escrita no blog ou possui um projeto independente dessa mídia? Um romance?
PO: Eu tenho um romance em andamento, já faz uns dois anos. O blog acho interessante para formatos mais curtos, até por que as pessoas não são afeitas a visitas periódicas a blogs (especialmente se for de ficção). Eu me sinto à vontade para escrever em blog, mas de forma descompromissada. Meus projetos futuros são todos pensados para o formato editorial, mesmo.
FN: Não sei quantos autores riograndinos já escreveram e lançaram seus livros de forma independente nos últimos anos, acredito que sejam poucos, e por isso te pergunto: Já não seria hora de reunir esse pessoal que está produzindo e pensar em um projeto maior ligado a literatura na cidade? Como vê essa possibilidade?
PO: Acho que sim. Acho que temos bons valores e pouco conhecidos. O Sandro Martins Costa Mendes, que escreveu a apresentação do meu livro, tem um livro de contos ótimo, a Andréia Pires, que acabou de lançar o seu livro, também escreve bem pra caramba. Tem o Rody Cáceres, que vai por outra linha, mais voltado à poesia. Fora as pessoas que publicam nos seus blogs e que muita gente desconhece. Acho que esse projeto já está em andamento e os investimentos em Cultura que devem vir em breve podem viabilizar melhor essa aproximação.
FN: Por fim, deixo espaço aberto para alguma consideração especial, comentário, enfim, aquilo que seja importante deixar frisado.
PO: Bueno, primeiro, eu gostaria de agradecer por abrir espaço para que eu pudesse falar um pouco da minha produção e, também, por divulgar meu livro, que em breve será lançado (dia 10/11, na Livraria Vanguarda, às 17h – espero vocês lá!). Segundo, queria agradecer às pessoas que leram, opinaram, incentivaram minha produção no blog e que, sem dúvida, são parte importante deste lançamento. Por fim, gostaria de reforçar o chamado para o lançamento e pedir para que as pessoas olhem um pouco para a produção artística da sua cidade. Há muita gente por aqui merecendo atenção. Obrigado!
Contato de Paulo Olmedo: prolmedo@gmail.com
Seu blog: http://www.arazaodoabsurdo.blogspot.com
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.