Baterista fala sobre o novo álbum acústico e turnê; seu casamento em Pelotas com Renato Russo como padrinho; e sobre a primeira vocalista da banda.
O lançamento do álbum “Acústico em New York City”, em outubro de 2015, foi a segunda incursão do grupo pelo formato desplugado consagrado pela MTV, emissora que foi parceira no primeiro acústico da banda, lançado em 2000. Nas 24 faixas do lançamento, a banda desobedece o conselho de “Não Olhe Pra Trás” e relê seus maiores sucessos posteriores ao Acústico MTV, além de resgatar algumas canções mais antigas e apresentar três composições inéditas.
Fê Lemos, fundador da banda, avalia o momento inicial da turnê promocional do disco, que Pelotas é uma das primeiras cidades a receber. “Para mim esse projeto encerra um ciclo. A gente olha para trás em um formato que curtimos bastante (acústico), e permite aos fãs ver os sucessos dos últimos 15 anos de uma nova forma.
É uma pausa para respirar”. Sobre o futuro musical do Capital, o baterista prefere não especular: “Dinho é o principal compositor das últimas obras. Infelizmente, nos últimos anos, não compus nada para a banda, embora continue compondo e escrevendo. Iniciei o projeto Hotel Básico para registrar minhas idéias musicais e literárias. Não consigo vislumbrar o que o Ouro Preto está planejando, mas a gente precisa encontrar uma nova maneira de trabalhar em conjunto, gostaria que voltássemos a trabalhar de maneira mais colaborativa”, opina.
Hotel Básico é o projeto paralelo de Fê, que também lançou em 2015 o álbum “Amor Vagabundo”, e que ele divulga nos intervalos da agenda do Capital. “O produtor do disco do Hotel, Franco Júnior, diz que esse é meu caldeirão musical. Desde os Beatles até Roni Size, as influências são minha paixão por música pop, boas melodias, letras inteligentes. E a vontade de buscar novas sonoridades, uma coisa mais ligada à house music. Música negra, dançante, funk americano dos anos 70. Minha vida em forma de música!”, detalha Felipe
Um padrinho chamado… Renato Russo!
Antes do bis do show em Pelotas, Fê Lemos protagonizou ao microfone uma intervenção descontraída, quase em tom de ostentação: “Vocês não sabem, mas eu casei com uma pelotense! E o Renato Russo foi meu padrinho!”
De fato, em 1985 Fê veio a Pelotas para sua festa de casamento com Maria Inez Laurent, que seria sua companheira até 1998. Ele recorda que Renato Russo viajou às próprias custas, em uma época em que havia menos linhas aéreas com destino ao Rio Grande do Sul. Tanto os noivos quanto o padrinho se hospedaram no Hotel Manta. A celebração aconteceu em um clube social afastado do centro. Reza a lenda que Renato teria tomado ácido na ocasião, e na festa suava muito. “Ele ia de mesa em mesa falando com todo mundo, e chorava o tempo inteiro”, recorda Lemos. “A falecida bisavó da minha filha passou a se referir a ele como ´chorão´”.
Dali por diante, lamenta Fê, a distância geográfica entre ambos (o casal Lemos foi morar em São Paulo e Renato já morava no Rio) repercutiu em afastamento pessoal. Uma exceção aconteceu no início dos anos 90, quando, no apartamento de sua irmã, no Rio, Fê recebeu Renato para uma peixada preparada por Inez. “Foi antes da doença dele se instalar. Foi uma tarde muito agradável. Ele ficava muito à vontade com a turma de Brasília, de antes da fama”. Desde então, os contatos entre os ex-parceiros de Aborto Elétrico se tornaram cada vez mais raros. Fê soube da doença de Renato, “um segredo muito bem guardado”, pouco antes de sua morte. “O Loro (Jones, então guitarrista do Capital) ligou para ele e uma enfermeira atendeu. Achei que era depressão, Renato teve aqueles casos com cocaína e álcool. Não sabia que era um caso terminal. Semanas antes da morte, liguei mas não consegui falar com ele, deixei recado na secretária”.
Antes de Dinho, Heloísa
Outra ligação do passado de Fê e do Capital com o interior Rio Grande do Sul remete à cidade de Bagé, que se tornaria o lar da carioca que foi a primeira vocalista da banda, após o fim do Aborto Elétrico. Heloísa Helena Ustarroz foi convidada em 1982 por Fê, seu colega de UnB, para se juntar ao trio (ele, Flávio e Loro) que ensaiava desde o início daquele ano.
Ela assumiu o microfone durante cerca de oito meses, até meados de 1983, em um festival na Associação Brasileira de Odontologia, que reuniu bandas como Legião e Plebe Rude. “Ela curtia muito a banda e era bem-humorada, escrevia letras com uma pegada meio B-52´s”, recorda Fê. “Uma delas era ´Segunda-feira´(cantarolando) “segunda-feira eu saí pra passear”, que depois a gente rearranjou e virou ´Descendo o Rio Nilo´. Tinha uma que eu adorava chamada ´Cremação´, incrível: ´Muita gente debaixo desse chão/ dia a dia cada vez mais/ chegará um tempo que não haverá/ nem mais um centímetro pra te enterrar (refrão)/ temos que queimar nossos mortos, queimar nossos mortos!´.
Tenho uma fita cassete dessa época, acho que tem ela cantando ´Segunda-feira´ e outras músicas. Havia uma chamada ´Você Não Sabe´, a única letra escrita pelo Flávio. Com a chegada do Dinho essas músicas ficaram pra trás”, relembra o baterista.
Jornalista. Interesses: música, quadrinhos, cinema, filosofia, tecnologia e seus respectivos subprodutos
eu fui o dj do casamento do fê e da Inez. foi demais.