Documentário conta histórias do rock independente de Canoas e mostra força da cultura produzida fora das capitais


Cartaz - This Is Canoas, not POA

“Fale de sua aldeia e estará falando do mundo”, diz a famosa frase do escritor russo Leon Tolstoi. Foi com esse espírito que o músico e produtor cultural Wender Zanon resolveu coletar histórias do rock de sua cidade, Canoas, em formato de um documentário, o recém lançado “This Is Canoas, not POA”.

O filme, que conta com pouco mais de duas horas, estreou no último dia 27 no Youtube e já ultrapassou a marca dos 15 mil visualizações. O projeto foi contemplado por um edital da prefeitura de Canoas, com repasses da Lei Aldir Blanc. O documentário é descrito como um relato sobre música, construção coletiva, amizade, underground, cultura e a importância da manutenção de espaços para arte.

Show paqueta – Foto: Alice Tenorio

A produção do documentário teve início em agosto de 2020. Antes das filmagens, foi realizada uma pesquisa por meio de um formulário online para mapear os personagens e histórias que deveriam entrar no filme. No total, foram 60 entrevistas com pessoas que frequentaram e ajudaram a manter bares, casas de shows, Xis, estúdios e lojas de discos por onde a cena roqueira de Canoas passou nas últimas quatro décadas.

Assim, temos depoimentos de integrantes de bandas de diferentes gerações do rock canoense como Apocalipse, Crise, CxFxCx, Mondo Calado, A Vingança de Jennifer, Aster, entre muitas outras. O próprio Wender Zanon também é músico e atualmente toca nas bandas Paquetá e Conflito (essa última de Porto Alegre). Este foi o primeiro projeto audiovisual grande dele e de boa parte da equipe, que inclui várias pessoas que de alguma forma já atuam na cultura independente.

Claudio Berzagui – proprietário da Loja Prisma

De forma cronológica, o documentário optou por contar as histórias partindo de locais importantes para a existência de uma cena roqueira na cidade como: Loja Prisma, Fundação Cultural de Canoas (na antiga Estação férrea), Gully’s, Studio Purple, Estúdio da Carol, bar Pontal, Coletivo Bil, Rock Bar, Estúdio Navarro, Wave Music Hall, Black Bird Pub e outros espaços.

“Pra ter show tem que ter público e banda, que precisa tocar em algum lugar, que precisa ensaiar, aí precisa ter estúdio, que precisa de equipamento, que precisa de loja de instrumentos e por aí vai. E acho que dentro desse ciclo aí, o espaço para shows (seja lá qual for) representa o elo da corrente, é onde a coisa acontece”, justifica Wender.

Perto demais da capital

O nome do documentário, “This is Canoas, Not POA”, foi retirado de um evento que Wender fazia na cidade. A inspiração veio da coletânea “This is Boston, Not L.A”, que colocou em evidência a cena de hardcore da capital de Massachusetts, em resposta a cenas de outros grandes centros dos EUA, como Los Angeles, que recebiam mais projeção.

Localizada na região metropolitana de Porto Alegre, Canoas é uma das cidades mais populosas do Rio Grande do Sul. Por estar tão próxima da capital e ser cortada por uma rodovia que conecta Porto Alegre a outras cidades do norte do Estado, o município conhecido pelos Xis (disputa dura com Pelotas e Santa Maria) é considerado por muitos, “especialmente para os não canoenses”, como uma cidade dormitório.

Banda Lepra – Arquivo Xaxo

Se Canoas é apenas uma cidade dormitório, no entanto, esqueceram de avisar alguns moradores que insistem em montar bandas, se reunirem, fazerem shows e terem muita histórias para contar. A pesquisa preliminar para produção do documentário contou com a participação de 128 pessoas que citaram 342 bandas (!) e 88 espaços de shows (!).

“Toda cidade tem sua história pra contar, toda cidade também tem diversos pontos de cultura não oficiais espalhados por aí e influenciando e colaborando pra formação de diversas pessoas”, reflete Wander. “Desde o início, tive essa preocupação de tentar apresentar um conteúdo que fosse identificável com qualquer cidade-satélite, cidade suburbana, qualquer local fora do centro, qualquer lugar no mundo, hehe“, complementa.

A proposta deu certo e o documentário vem sendo bem recebido, superando as expectativas da própria equipe. O diretor comenta que o filme parece ter ganhado uma “vida própria” após o lançamento. “Os melhores comentários que eu vejo são da galera querendo fazer banda ou fazer o filme da sua própria cidade”, conclui Wander. Assista:

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“This is Canoas, Not POA” – Ficha técnica:

Direção, produção, roteiro e pesquisa: Wender Zanon
Produção executiva e Co-autoria: Roger Neres
Direção de fotografia e câmera: Renato Chama
Assistente de câmera e captação de som: Izza Balbinot
Montagem e finalização: Pedro Rheinheimer
Direção de arte: Daniel Hogrefe
Mixagem e masterização: Jonas Adriano
Suporte de pesquisa: Gabriela Garcia

1 Comentário

  1. Cara, talvez seja um ponto de vista focalizado parcialmente,de acordo à visão centralizada dos envolvidos, e não coletiva, vi muita suposta “Autobiografia” contada bem diferente do que era

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