Após dois álbuns solo, o músico Gustavo Cunha apresenta “BUTOH”, seu primeiro EP. Com três faixas, o novo trabalho traz referências da cultura pop japonesa, a ideia de distopia e conta com participações especiais de Camila Cuqui e Lucas Fê.
A exemplo do disco “vaga-lume-grão”, de 2018, o novo EP do artista pelotense é lançado via selo Escápula Records. Segundo Gustavo, a experiência em um formato mais curto lhe possibilita expandir o mesmo trabalho para outros formatos. Assim, além do áudio, BUTOH também se transformou em EP visual que foi construído a partir de vídeos enviados por colaboradores. (confira vídeo ao fim da matéria)
Parcerias e experimentos
Na parte sonora, o trabalho contou com duas participações. O músico Lucas Fê aparece no arranjo da primeira faixa, “DELÍRIO uhf 01”, na qual Gustavo sampleou trechos de gravações do baterista. O riograndino, baterista do KIAI, ainda gravou as linhas de bateria da faixa que fecha o EP, “t s u k i NO ME (take 3)”. Já a cantora Cuqui é a parceria de letra e voz na segunda faixa, “Sombra e fuga, Segundo movimento”.
Gustavo conta que já tinha intenção de trabalhar com os dois há algum tempo. A colaboração de Cuqui só não ocorreu antes por seus compromissos com a Musa Híbrida. “Quando eu fiz o rascunho da melodia eu já ouvi soando no registro da voz dela”, conta ele. A letra foi escrita de forma conjunta por meio de um documento online e ambos gravaram as suas próprias vozes para essa que é a única faixa não instrumental do EP.
Lucas Fê já havia tocado com Cunha em alguns shows do “vaga-lume-grão”. Na terceira faixa, a mais longa e experimental do EP, o baterista gravou três takes do instrumento no estúdio Pedra Redonda, em Porto Alegre, dos quais o terceiro foi o escolhido. “Essa composição reflete bastante sobre um diálogo humano-máquina, então buscamos representar isso através do improviso fluido do Lucas dialogando com a coisa mais robótica do computador/sintetizador”, explica Gustavo.
“Esse lado mais experimental e instrumental eu já desenvolvia mais em trabalhos com trilha sonora para cinema, agora quis experimentar explorar isso no formato de EP”, complementa.
As fotografias de divulgação e da capa são da sua irmã, a artista Gabriela Cunha. O EP visual, por sua vez, foi construído a partir da colaboração de 25 pessoas, entre artistas e público em geral que lhe enviaram vídeos. O trabalho final foi montado e editado pelo próprio Gustavo Cunha.
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Influências da cultura japonesa
O artista afirma que seu processo de composição sempre foi bastante imagético. Para este EP, a referência veio principalmente de elementos, linguagens e manifestações de cultura japonesa: mangás, animes, cinema e jogos 8 e 16-bits. Dessas influências imagéticas, tudo habitava uma ambientação distópica, o que encaixou com 2020.
Outra manifestação artística japonesa inspirou o título do EP. Butoh (ou Ankoku Butô) – “dança das trevas” – é também o nome de um tipo de dança vanguardista japonesa que surgiu no pós-guerra. Deste modo, Gustavo faz um paralelo entre a sociedade que sofreu com a bomba atômica e o Brasil em pandemia. “A ambientação distópica já não é mais imagética, a distopia é aqui, uma realidade”, afirma o artista.
Assim como a dança butoh visava refletir sobre a reconstrução de uma identidade japonesa em uma sociedade traumatizada, o EP BUTOH começa a conversar sobre a necessidade do “resgate identitário, da autoestima social pós-pandêmica e da superação dos traumas causados pela precarização em todos os âmbitos político-sociais, culturais e ambientais”, sugere o músico.
Ouça na sua plataforma preferida: http://linktr.ee/gustavolcunha.
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Jornalista, estudante de História, obcecado por música. Conhece menos atalhos em seu computador que a sua gata.
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