O empoderamento precisa passar pela sexualidade


Madrugada quente no sul, sem sono, devorando um pote de açaí, comecei a me questionar sobre alguns conceitos que nós, mulheres, temos sobre liberdade. Ser livre pode ter um significado bem específico pra cada indivíduo. Mas quando abrimos o peito pra gritar pro mundo que somos livres sim, que podemos e fazemos o que queremos, estamos realmente certas disso ou essa é apenas uma forma de querer provar que somos? Teoricamente, se nos sentimos livres não precisamos da validação da sociedade para termos essa sensação.

Pra sermos realmente livres, precisamos quebrar alguns tabus internos, que nos foram impostos e acabamos adotando como verdade. O estereótipo que a sociedade patriarcal criou acerca do feminismo, de que feministas são mulheres que não se arrumam, não se depilam e definitivamente não se maquiam é um desserviço à autoestima de muitas mulheres que acham que não podem cuidar da aparência por serem feministas ou das que acham que se intitular feminista não as credencia pra fazer a unha e ir no salão. Feminismo é justamente sobre liberdade e sobre poder ser quem se é, da maneira que quiser, sem julgamentos.

Um dos maiores tabus que enfrentamos, além deste, é sobre a nossa sexualidade, começando pelo preconceito de que se a mulher for sensual ela não é inteligente, ou vice-versa. Gente! Uma característica não exclui a outra. Diante deste contexto, acabamos nos sentindo inadequadas quando somos sexualmente livres. Mas será que somos, de fato? Ser sexualmente livre se resume a sair com quem quiser e transar no primeiro encontro? Pra mim, essa visão de liberdade está equivocada.

Desde que me tornei feminista, esta é a primeira vez que me questiono a respeito.

Além de sermos reprimidas, aprendemos a fazer sexo de uma maneira satisfatória pro homem, não pra gente. Antigamente a mulher não podia sentir prazer e esse conceito que demoniza as que sentem ajudou a indústria pornográfica a nos vender um sexo totalmente machista. Todas nós já fingimos orgasmo pra deixar o parceiro contente. Mas e o nosso prazer? Que liberdade é essa que nos faz sentir inadequadas quando não gozamos no tempo esperado, ou quando só conseguimos chegar ao ápice com sexo oral, ou que nos julga por não conseguir? Temos que ressignificar a nossa relação com o corpo e o prazer. Como diz a terapeuta tântrica Carol Teixeira, “o empoderamento precisa passar pela sexualidade, pela vagina”.

O nosso prazer não pode ser vinculado ou dependente do prazer do outro. Precisamos nos conhecer e saber nos dar prazer pra abandonarmos as amarras sociais que nos limitam, subtraindo a nossa liberdade.

Por Paola Fernandes
Jornalista, Feminista, Integrante do Conselho Diretivo do Grupo Mulheres Empreendedoras do Sul.

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