César Lascano regrava canção “Zé Pilintra blues” em versão elétrica e prepara novos projetos na carreira.
Encostado no poste de luz, acendendo calmamente seu cigarro, repousa Zé Pilintra. Com seu terno de linho branco, chapéu panamá, gravata vermelha e sapato lustrado, o patrono da malandragem carrega consigo o gosto pelos mistérios da noite, apreciando os largos goles de bebida, a vadiagem pelas ruas, as mesas de carteado e o embalo provocado por uma boa música. Essa figura inspirou o pelotense César Lascano a compor uma canção no início da sua carreira, “Zé Pilintra blues”, que, mais de dez anos depois, foi resgatada em uma nova versão já disponível nas principais plataformas de streaming.
A história do renascimento desse blues parte de uma viagem a São Paulo no final de 2022, quando Lascano e o produtor Júnior Vieira se reuniram com colegas de trabalho e amigos de longa data no estúdio Boca do Cigano, propriedade do músico Esteban Tavares. Para registrar essa experiência, decidiram gravar juntos uma canção. A escolhida surgiu por acaso numa noite de folga coletiva. Entre uma rodada e outra no bar, depararam-se com a imagem do Zé Pilintra fixada na parede, entendendo nela um sinal para regravar a faixa composta por Lascano e lançada em 2013 pelo projeto Diablues.
Os próprios versos da canção já anunciavam: “O Zé Pilintra vai nos encontrar de novo”. E foi assim que, na forma de uma celebração, servindo tanto como uma homenagem ao passado quanto uma possibilidade de vislumbre aos passos futuros, a canção encontrou uma nova roupagem. “Se na versão original, a música era bem orgânica, gravada ao vivo, com voz, dois violões e uma gaita em um mesmo microfone, sem amplificação, agora ganhou timbres de baixo e guitarra numa pegada mais elétrica”, avalia o compositor. “Zé Pilintra” foi regravada com César Lascano na voz e harmônica, Yuri Barbosa na guitarra, Wysrah Moraes no baixo e Júnior Vieira, que também assina a produção, na bateria.
Espiritualidade e música
A arte produzida para o relançamento da canção foi criada pelo ilustrador Pablo Conde e evidencia a figura-título. Parte do imaginário social, Zé Pilintra tem sua origem como uma entidade ligada às religiões de matriz africana. É considerado o protetor do povo boêmio que fica pelas ruas e bares nas madrugadas. “Tem um quê do malandro, da boêmia, ou seja, está perto de nós, músicos”, comenta Lascano.
Fascinado por esse personagem, o compositor e intérprete considera o Zé Pilintra como o “bluesman” brasileiro, sendo avesso aos padrões sociais, repleto de aventuras noturnas e capaz de subverter os conceitos. Pelo seu lado errante e festeiro, a entidade também é associada à bebida, principalmente nas oferendas realizadas em seu nome. Foi por essa razão que Lascano traz um verso de Vinícius de Moraes ao blues de Zé Pilintra. Se para o poeta carioca, “o uísque é o melhor amigo do homem: é um cachorro engarrafado”, para Lascano, “o blues é a alma do cachorro”.
Laços rítmicos
A canção simboliza o envolvimento de Lascano com o blues. Desde o início na música, o gênero fez parte de vários de seus trabalhos como intérprete, vide Toca um blues aí e Diablues. Inclusive, entre seus atuais projetos estão o Plays the samba, criado em 2014 e caracterizado pela desconstrução de sambas em versões blues, e o Bloco de Blues, no qual assume como produtor desde 2021 e traz quinzenalmente novos artistas para uma jam session no bar e restaurante Bloco.
“Zé Pilintra blues” resulta em uma homenagem à trajetória junto ao gênero do improviso e também no direcionamento aos próximos lançamentos da carreira. Embora lançada oficialmente como single, a canção não fará parte do novo álbum autoral de Lascano, intitulado “Visceral”, mas pode aparecer no set list de outros projetos do músico.
Lascano ao vivo
Enquanto prepara o seu segundo álbum de inéditas, com lançamento previsto para o próximo semestre, Lascano possui duas datas para apresentar Plays the samba, cuja novidade é a formação de uma banda com nove músicos: dia 12 de maio no Teatro Fuga, em Porto Alegre, e dia 7 de junho no Clube Cultural Chove Não Molha, em Pelotas.
Enquanto produtor, realiza a 35a edição do Bloco de Blues no 19 de maio no bar Bloco.
Ouça a nova versão de “Zé Pilintra blues”:
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Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
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