Praia, sombra e água fresca: a fórmula do conforto no verão. Quem tem dinheiro se retira para relaxar na lagoa ou se embalar nas ondas do mar. Mesmo aqui pertinho, no Laranjal, ou na maior praia do mundo, são refúgios mais interessantes do que apreciar o sol escaldante sobre o asfalto. Na cidade, só ficam os proletários, os desocupados e jornalistas como eu, que têm de ganhar a vida.
Mas entre um dia e outro, tive um período de recesso e pude colocar o celular no silencioso. Assim, vagabundeei tranquilo pelas livrarias em busca de maravilhas intelectuais feitas por esses tais seres humanos. Num desses dias, voltando para casa, encontrei uns amigos bebendo cerveja. O sol já havia caído e um vermelho-púrpura tingia o crepúsculo.
E de um punhado de amigos foram se juntando outros, e mais alguns, até formarmos um grupo de sonhadores que narravam os prazeres da criação, o nascimento de ideias e sua elaboração através da pintura, música, fotografia, desenho, escrita… Foi a noite quente do janeiro pelotense, e a cerveja gelada que instigou a confraternização daqueles que acreditaram na arte com todo furor de sua juventude.
No meio da madrugada, na boa e velha esquina do Papuera, ríamos cambaleantes e lembrávamos de planos feitos para vida, em alguma noite de tempos passados nessa mesma esquina do Porto. Assim como eu sonhava em escrever algo como Sal Paradise: naquela época eles dançavam pelas ruas como piões frenéticos e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante – pop! – pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos “aaaaaaah”.
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Jornalista.
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