Os sessenta poemas que compõem o livro de estreia da rio-grandina Suellen Rubira chegam para tentar resolver com palavras o que se não pode resolver com ações.
A poeta, radicada em Porto Alegre, buscou no céu algo que pudesse tocar e desmanchar: “é importante salientar que o espaço físico da cidade de Porto Alegre foi fundamental para a tessitura desse livro. Em primeiro lugar, uma ampla janela que me oferecia o céu, as nuvens e muitas árvores todas as manhãs, mesmo em uma cidade de verticalidades de concreto. Em segundo lugar, uma vontade de buscar no céu algo que eu pudesse tocar e desmanchar. As nuvens mais robustas foram as mais difíceis de transformar, mas estão aqui colocada“, diz Suellen.
A consciência da impossibilidade do silêncio absoluto ou do silêncio como oposição ao som – como aponta o posfácio escrito pelo poeta, professor e doutor em Letras, Giliard Barbosa – é um dos elementos de maior destaque da obra, como o desejo de romper ou (ao menos) contornar o silêncio com palavra, ainda que consciente dessa impossibilidade.
Foto: Marcelo Lemos
“Suellen nos fala incessantes vezes de uma busca, busca que se dá na palavra mas também no outro, vocábulo que nomeia quarenta e cinco poemas desse todo que nos encontra e que também se materializa em sentido nos dizeres de um eu que se dirige constantemente a um tu flutuante, invólucro verbal tanto do corpo de quem a voz-tentativa-de-casa agora se distancia quanto da própria voz sob outra face falando consigo mesma”, aponta Giliard.
Não há nada mais insignificante do que falar.
Não há nada mais bonito do que falar.
A palavra é sempre tentativa.
Todos os dias acordamos e tentamos.
(outro)
Suellen Rubira
Ruído branco
Ruído branco é também uma conversa com grandes inspirações poéticas, mas especialmente com Orides Fontela (na vontade de ser sucinta) e Hilda Machado (na vontade de sonhar as nuvens). A poesia do real através da filosofia do irreal com Hilda. A poesia das arestas pontudas, das formas geométricas da Orides.
Com Paul Auster, Suellen assume uma postura poética que enxerga a linguagem e a retorce, uma postura de nunca confiar nas palavras, mas amar plenamente todas elas, como se só com elas pudéssemos, de fato, atingir algo para além do poço profundo das angústias e da solidão.
“Não quero desacomodar ninguém com os poemas desse livro” – diz a poeta, no texto de apresentação do livro – “o que eu quero de você, leitora/leitor/leitore, é que você desça comigo, um pouquinho mais, até o centro do ser”.
O projeto gráfico, assinado pela editora Juliana Blasina, acompanha a tentativa da autora de dar corpo ao intangível, desde o movimento delicado de fumaça emulando nuvens que ilustra a capa, “nos poemas de Ruído branco, há todo um gestuário que orquestra verticalidades e horizontalidades, – diz a editora – Suellen nos conduz do cinza do calçamento ao azul que se revela e se esconde entre os arranha-céus da cidade e olhar da poeta”.
O livro segue em pré-venda até o dia 17 de fevereiro, pela Gênio editorial.
Além do livro, uma Oficina de Leitura poética envolvendo as principais influências da autora de Ruído branco, como Pizarnik, Wislawa, Hilda Machado, Hilda Hilst e Paul Auster, está com inscrições abertas durante o período de pré-venda. Suellen Rubira ministrará a Oficina no dia 25 de março, em encontro virtual, às 10h da manhã (vagas limitadas). Livro e oficina podem ser adquiridos no site da Gênio Editorial.
Suellen Rubira
Professora de Língua Inglesa e doutora em Letras. Ministra cursos de análise poética, apresenta o podcast We can be readers, coedita a Zine Marítimas e escreve a newsletter Um troço absurdo e fascinante. Vive em Porto Alegre (RS). Ruído branco é o seu primeiro livro.
Ruído branco (poemas), de Suellen Rubira
Gênio editorial (SP), 1ª ed., 2023
88 páginas
Livro R$ 45,00
Livro + Oficina de leitura poética R$ 75,00
Saiba mais: Gênio Editorial
Sobre Ruído branco
por Daniela Espíndola, poeta
Ruído branco, de Suellen Rubira, caiu-me no colo, na retina e no ouvido fazendo jus ao que se propõe: revelar o incômodo gerado pelo irrefreável hábito de produzir conceitos via a matéria-prima do pensamento – a palavra – enquanto, nos silêncios das pausas, chega-nos o alívio soprado pelos estrondosos ventos da desacomodação.
Dizem que uma única ocorrência de ruído branco é um choque aleatório. Eu diria que cada poema de Ruído Branco é uma obra orquestral premeditada, que arranja em (des)harmonia nuvens e pálpebras, aves e pele, cosmos e casa. Rubira nos aponta, quem sabe, um novo paradoxo, o ruído como revelação e epifania, que sacode e estabiliza, sem querer propor soluções, construindo muros “para seguir falando que não falaria”.
O que nos resta senão a rendição, a aceitação do estático em movimento? Deixe-se levar pela poesia de Rubira, aprecie-a sem moderação e não se surpreenda quando perceber seus poemas reverberando corpo adentro, espaço afora, na velocidade do som, ad infinitum.
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Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
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