Esses dias eu estava no balcão do Café Aquários quando ouvi o diálogo: “Bah, tu viu o tamanho do buraco que vai ficar em Maceió?, os caras cavucaram sem limite por baixo da cidade”. No que o outro respondeu: “É o maior crime da história do Brasil”. Após essa resposta sumária, é razoável refletir que, para um país que tem aí cerca de quinhentos anos de ilegalidades incontáveis, aparecer em destaque nesse quesito é porque a coisa vai feia em Alagoas.
Sei que os dramas e tragédias humanas são os carros-chefes quando pensamos em crime. Só aqui, nessas bandas do Rio Grande do Sul, muito vivente vestiu a gravata colorada num conflito político que ficou popularmente conhecido como Guerra da Degola. Mas esse comportamento de briga, morte e maldade vem desde quando aquele macaco do filme 2001- Uma Odisseia no Espaço, teve um insight e descobriu que um osso pode servir como ferramenta para derrubar o oponente. O maior crime da história do Brasil, é coisa mais recente, e foi praticado com uma facilidade estúpida.
Na noite desse 19 de dezembro, faz 40 anos que uma turma de canalhas invadiu a sede da CBF, no Rio de Janeiro, e roubou a taça Jules Rimet. A taça, que ficava exposta na parede da sala do presidente da confederação, era protegida por um vidro blindado preso a uma moldura de madeira. Veja o detalhe: vidro blindado e moldura de madeira. O Santo Graal do futebol. Um troféu mais desejado que a coroa da Elizabeth. Um tesouro tão valioso, que poderia ser trocado taco a taco pelas mais raras relíquias egípcias, estava guardado como se fosse uma medalha de honra ao mérito.
A taça que nasceu com o nome de Coupe du Monde, feita com o refino do artesão francês, Abel Lafleur, teve um fim bárbaro. O seu quilo e oitocentos de ouro foi derretido com a ignorância de três brasileiros e um argentino. Desde o descobrimento do Brasil pelo Vicente Pinzón, até o primeiro rebaixamento do Santos, um crime pior que o furto da Jules Rimet, foi eu ter deixado meu café esfriar.
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Jornalista.
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