Na tarde de 28 de maio de 2023, um grupo de pessoas se reuniu no bistrô da Secretaria de Cultura (Secult) em uma conversa que recebeu o nome de “Temporal Literário”, dentro da programação do V Festim de Maio #EuLeioPelotas, evento anual realizado pelo Coletivo Autores de Pelotas (CAP). O objetivo era tratar de questões relativas à literatura e elaborar uma Manifesto Literário que destacasse alguns pontos de interesse da categoria. Os quatro pontos listadosno Manifesto foram unanimidade entre os presentes.
Manifesto Literário – V Festim de Maio #EuLeioPelotas
*Ter um livro publicado não constitui um “escritor”; não ter nenhum livro publicado tampouco desconstitui um escritor; o escritor tem essa necessidade pungente de se expressar e de comunicar algo (um sentimento, uma ideia, uma inquietação…), embora às vezes seus escritos não saiam da gaveta (ou de uma pasta no notebook)
*A pandemia deu um “bum” no consumo de livros (físicos e, sobretudo, e-books), o que foi extremamente positivo, mas também trouxe uma enxurrada de cursos curtos on-line que (ilusoriamente) apontam o comércio de livros como uma rápida alternativa para renda extra, o que tende a criar um mercado de produção “em massa”, quase como um fordismo literário; não acreditamos em receitas milagrosas que ensinam a “produzir um livro em 90 dias” ou a “vender e-books como se fossem água” (excepcionalmente, pode ocorrer, mas não como regra geral); não se produz literatura em massa
*A “glamourização do escritor”, como um ser superior/inalcançável, acaba por elitizar a literatura, o que aumenta a distância entre potenciais leitores e os livros; é preciso desenvolver práticas de estímulo à leitura, de aproximação entre autores e leitores, e que deem a conhecer a produção literária local
(Neste sentido, o CAP é parceiro dos Pontos de Leitura Secult e Estação Cidadania (Dunas) na promoção de atividades com leituras dramáticas, esquetes teatrais, conversas com escritores, oficinas literárias, etc. – em consonância com o que propõe o Plano Municipal de Cultura)
*Precisamos propor políticas públicas que descentralizem a literatura, fazendo chegar aos bairros e às escolas públicas iniciativas de incentivo à leitura (também apontado no Plano Municipal de Cultura) e que possibilitem novos autores a publicar suas obras; entre essas iniciativas, o grupo propõe a criação de:
** um “plano de leitura” para o município, para ser desenvolvido ao longo de cinco ou dez anos, a partir das escolas públicas/bibliotecas escolares/centros comunitários (essa sugestão será encaminhada à Comissão Escolas do CAP)
** editais que financiem a publicação de obras literárias de autores locais para distribuição nas escolas e bibliotecas públicas e também para que novos autores possam comercializar seus livros a preços mais acessíveis à população de baixa renda e que viabilize, ao mesmo tempo, que se dediquem mais à literatura
(O CAP produziu um Caderno Literário virtual que pode ser acessado no blog euleiopelotas.blogspot.com; a ideia é produzir cadernos específicos para crianças e adolescentes e divulgá-los nas escolas, para que os professores possam trabalhar textos de autores locais e promover encontros dos estudantes com os autores.)
Assinam este Manifesto: Charlie Rayné (escritor), Joice Lima (escritora), Silvia King Jeck (escritora), J. Gonçalves (escritor), Helena Manjourany (escritora), Marielda Medeiros (escritora), Carmen Jara (escritora), Glauco Manjourany (ativista cultural) e Jaime Bornacelly (bibliotecário).
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