Surpreendidos como todo o mundo, os integrantes da Alpargatos adiaram as gravações do primeiro álbum, cuja pré-produção acontecia quando a pandemia foi deflagrada. “[Estávamos] selecionando repertório e fazendo os primeiros ensaios, mas não deu pra seguir pela necessidade de isolamento”, conta Bruno dos Anjos, produtor e membro da banda. A partir disso, a Alpargatos deu início à organização de materiais já produzidos, mas que não tinham destino definido – ainda.
No início do segundo semestre de 2020, lançaram vídeos de uma apresentação feita no Agulha, em Porto Alegre. O retorno foi muito positivo, principalmente por, no momento de isolamento, recriar o ambiente de um show, espaço onde a banda construía uma relação mais próxima de seu público, dado o fato de que diversas ferramentas, como figurinos e novos arranjos musicais, tornavam o ao vivo uma experiência única, que foi perdida por tempo indeterminado.
Agora alguns recortes de shows feitos e registrados ao longo destes anos estão sendo lançados nas plataformas digitais de streaming de áudio. Assim, a Alpargatos consegue estar presente também nas playlists pessoais e no dia a dia do público.
Clique aqui e torne-se um apoiador e-cult
A banda tenta, com este lançamento, recriar de alguma maneira os momentos de troca intensa que teve junto do público. Segundo Bruno, a vontade era de dar ao fã um momento em que bastasse colocar “os fones, fechar os olhos e se imaginar naquele show”. Ele continua: “Por isso, optamos por manter as palmas, ambiências e algumas imperfeições das execuções das músicas, deixando tudo mais realista”. O nome do EP foi tirado de um dos versos da faixa “Solar Nº2”: “Tudo bem / se hoje eu não sair / amanhã quem sabe”, que pode ser ressignificada e usada como tentativa de traduzir um pouco a incerteza sobre quando será possível fazer aglomerações em segurança novamente.
“Então, se hoje nós não sairmos, que ao menos as pessoas consigam relembrar um pouco da experiência de um show com esse trabalho”, completa Bruno dos Anjos. Na escolha do repertório, o grupo decidiu contemplar todas as fases da banda: “desde os primeiros singles que lançamos, como ‘Alô’, até a nova safra de canções que virá no disco novo, representada por ‘Solar Nº2’”, conta Bruno.
Amarrando o conceito da novidade, chega-se ao projeto gráfico. A capa foi criada por Moa Gutterres, cartunista porto-alegrense que se tornou fã da Alpargatos. Ele assistia performances de bandas munido de papel e caneta e desenhava o que via.
A ilustração da capa do EP foi feita durante uma apresentação da banda no Ocidente, histórica casa de eventos de Porto Alegre, e registrou a os membros da banda com seus figurinos vermelhos que já viraram marca registrada. A escolha do trabalho de Gutterres para a identidade visual dos lançamentos foi feita por ter sido executado como as músicas do EP: ao vivo, durante o momento em que tudo acontecia.
Nas capas, Moa Gutterres utilizou o mesmo método de criação, com direção de arte de Mariana Sartori: ele deu play nas músicas e desenhou o que sentiu ao ouvi-las, em vez de documentar a performance em si, por causa do isolamento. Ele manteve os traços simples e sem muitas cores, dando acabamento ao trabalho em aquarela.
Clique aqui e torne-se um apoiador e-cult
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
Faça um comentário