Nem todas as regiões do Brasil tem uma veneração tão intensa por seu rock local como acontece em terras gaúchas. Tanto que muitas vezes o culto que nós gaúchos dedicamos a alguns artistas “da casa” não se reproduz pelo resto do país, inclusive o clássico “eixo Rio-São Paulo”. Aqui, porém, bandas como a TNT são praticamente requisito na playlist de festas regadas a rock.
Apesar de haver uma pré-história do rock gaúcho, com nomes como os Almôndegas e Nei Lisboa, foi nos anos 80 que a devoção começou a tomar a forma hoje conhecida. O LP Rock Grande do Sul apresentou ao Brasil uma coletânea de várias bandas que se tornariam clássicas, como a própria TNT – ainda com Flávio Basso (o futuro Júpiter Maçã) junto a Charles Master – e os Engenheiros do Hawaii, que se tornariam, com o Nenhum de Nós, os maiores exemplos de grupos que transcenderam as fronteiras regionais para encabeçar o hit parade nacional no Globo de Ouro.
Pouco depois, Flávio e Nei Van Sória continuaram a façanha com sua nova banda, os Cascavelletes, que emplacou a ousada letra de “Nêga Bombom” em uma novela global. Durante os anos 90, o dissidente da Cascavelletes, Frank Jorge, assumiu o microfone da Graforréia Xilarmônica. Alemão Ronaldo, da lendária Taranatiriça, continou a “cantar um rock e ficar legal” com sua nova Bandaliera, enquanto despontavam novos nomes: Acústicos & Valvulados, Cidadão Quem, Maria do Relento. Nos anos 2000 viriam os discos de estreia de bandas como Bidê ou Balde e Cachorro Grande, que motivaram inclusive um especial Acústico MTV sobre rock gaúcho.
Vários nomes estão faltando nesse resumo da história, mas todos os citados fazem parte do repertório da mais recente novidade da música pelotense: a banda Dama Etílica iniciou seus ensaios no final de 2015 e está inaugurando sua agenda de shows em casas locais com a proposta de dedicação exclusiva ao rock gaúcho, em um merecido tributo.
O guitarrista Alexandre Vianna acrescenta que ainda serão apresentados clássicos dos pampas, como “Vento Negro” e “Aragana” nas versões do grupo Rock de Galpão. O músico explica que o nome da banda é uma referência à versão do jogo de tabuleiro onde as pedras são substituídas por pequenos copos de vodka ou cachaça, e também uma referência às “damas etílicas” que eventualmente são encontradas na vida noturna da cidade.
A formação da nova banda traz ainda o cantor Junior Noble, o baixista Leandro Ratto, e Bruno Rosinha nas baquetas. O quarteto poderá ser encontrado em lugares como aquele descrito pelo já saudoso Júpiter Maçã, onde tem um som legal, para “dançar e se escabelar”.
Editor, gestor de conteúdo, fundador do ecult. Redator e pretenso escritor, autor do romance Três contra Todos. Produtor Cultural sempre que possível.
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